As faces do ódio
Elizabeth Eckford foi uma adolescente de 15 anos quando os dirigentes de seu país declararam ilegal a segregação racial nas escolas. Sim, até há pouco tempo as crianças de cor não podiam ir à escola com os pequenos caucasianos porque seus pais não os consideravam iguais. Hoje em qualquer sala de aula há meninos de todos os matizes.
Em 4 de setembro de 1957, Elizabeth e oito colegas negros se apresentaram na escola Little Rock de Arkansas. Uma das zonas mais racistas e com mais ódio daquele país. Uma multidão iracunda babava de raiva e insultava-os gritando os piores impropérios para impedir sua entrada no colégio durante esse dia e nos sucessivos. Só porque não gostavam da cor de sua pele.
Nem a mediação do presidente Eisenhower conseguiu acalmar os ânimos e todas as escolas do estado foram fechadas durante um ano para evitar incidentes e permitir uma transição mais sossegada.
Mais tarde Elizabeth chegou à universidade e se tornou uma querida professora do mesmo colégio que em um dia impediu o seu acesso. A moral da história? A própria vida, às vezes, dá um banho de água fervente magistral nos covardes que odeiam só pela cor das pessoas.
Tirolesa no Nepal
Mais de 12 milhões de nepaleses vivem nas imediações do Himalaia. A zona com mais montanhas e mais altos cumes de todo o planeta. Por lá quase não há estradas, nem rodovias, muito menos paradas de ônibus. Um território seccionado por mil vales e outros tantos rios caudalosos que impedem o normal trânsito entre povoados e cidades.
As crianças usam pontes artesanais feitas com tábuas, cordas e polias improvisadas, como as competições de aventuras radicais, mas sem capacete nem equipamentos de segurança. Durante décadas, essa falta de segurança, causou uma infinidade de acidentes em muitas crianças que levantam de madrugada só para poder chegar a tempo no colégio.
Felizmente várias ONGs hoje se encarregam de construir pontes e gôndolas seguras para mitigar a sinistralidade. Essas crianças ao certo, morreriam de vontade por poder ir para a escola no carro do papai ou na confortável Van que os recolhe no portão de casa.
Nadar para estudar
Muitas escolas hoje tem aula de natação como mais uma atividade lúdica, mas estas crianças não sabem o que é uma piscina e ainda assim se banham todos os dias para ir à escola. Não para fazer o asseio diário, senão para cruzar um caudaloso rio para chegar no colégio. E fazem isso todos os dias. Faça frio ou calor. Hồ Khong, um garoto da escola primária Hung, no distrito de Minh Hoa, no Vietnã; conta como é:
- "A profundidade é de 20 metros e a correnteza é bem forte, às vezes assusta. Mas como queremos ir à escola para aprender para ter uma profissão e com isso um futuro melhor, corremos o risco de cruzar o rio a nado".
Para isso levam grandes sacolas plásticas onde colocam suas roupas e livros. Nada de estupendas mochilas impermeáveis da Barbie ou do Ben10 e nem tem rodinhas. Inflam-nas para fabricar o flutuador-guia e cruzam diariamente os 15 metros de rio. Na época das chuvas os pequenos são obrigados a faltar no colégio até um mês. O volume do rio cresce demais e seria perigosíssimo tentar atravessá-lo.A correnteza levaria seus sonhos para sempre.
Campos minados
A guerra civil terminou em Angola em 2002, mas seu fantasma segue enterrado por todo o território em forma de minas e artefatos bélicos. Essas bombas plantadas sob a terra são um grande perigo para as crianças que vão todos os dias para o colégio.
Milhares de hectares de terra virgem e rica permanecem improdutivas por essas "sementes explosivas". São muito difíceis de destruir porque estão muito bem escondidas e interferem sempre na vida dos mais débeis. Apesar das ratazanas caçadoras de minas que utilizam para desativá-las , 80.000 acidentes em 20 anos convertem o caminho à escola em uma aventura de vida, morte ou condenação a usar muletas pelo resto de sua existência. Tudo isso, um grande paradoxo, parar aprender a ser melhor pessoa e evitar repetir o legado dos que hoje são os seus professores.
Cross Country chinês
Imagina que para ir trabalhar tenha que percorrer 200 km andando e cruzando barrancos de 500 metros de altura, agarrado às rochas e sobre rios congelados. Imagine mais, que demora pelo menos dois dias para chegar, vadeando quatro rios, cruzando pinguelas e atalhos tão estreitos com alguns poucos centímetros de largura sobre pungentes rochas.
Imagine agora que não é nenhum super-herói nem tri-atleta, é apenas um garoto que só quer ir a escola para aprender... Aproximadamente 80 crianças colocam a vida em risco diariamente e devem desafiar os atalhos das paredes verticais de Pili, um povoado do norte da região chinesa de Xinjiang Uygur. Um espetáculo que mais parece um concurso televisivo infantil de absurdas provas físicas para ganhar uma viagem ao Beto Carrero. Mas é real, o único prêmio que buscam é um diploma.
Qualquer transporte serve!
Cintos de segurança travados, caras cadeirinhas do bebê regulamentadas, Moisés com protetores laterais... Toda essa artilharia que repassamos a cada viagem ao colégio é um conto de fada para estas crianças. Em Pematangsiantar, Indonésia (foto superior) ou em Baghpat, Índia (foto inferior) ninguém entende esse vocabulário. Carroças, caminhonetes, motocicletas, qualquer veículo com mais de uma roda é bem-vindo para chegar a tempo à escola. Pode parecer divertido, mas pense no que aconteceria se o motorista desse uma frada brusca porque um vira-lata cruzou seu caminho? Melhor nem pensar.
Atravessando uma pinguela no rio Ciberang
Em 17 de janeiro de 2012, as chuvas torrenciais arrastaram todo tipo de detritos para o leito do rio Ciberang, na sua passagem pela aldeia Sanghiang Tanjung, na província Indonésia de Bateng. A força da correnteza golpeou e praticamente destruiu a pinguela pênsil, que une o povoado com o subúrbio onde fica a escola. A travessia que já era perigosa, ficou ainda pior, mas não impediu que as crianças continuassem cruzando, a duras penas, para chegar à escola.
Esta guerra não é minha
Em 16 de março 2010 uma menina de uns dez anos atravessa indolente desviando-se das pedras lançadas por seus irmãos palestinos contra militares israelenses em seu caminho diário à escola no acampamento de refugiados de Shuafat, próximo de Jerusalém. Ela parece não se importar com a guerra de seus irmãos. Só quer chegar à escola para mostrar que fez suas tarefas de casa. O conflito Palestino-Israelense converteu essa rotina infantil em um longo e tortuoso caminho cheio de obstáculos para os filhos dessa eterna e maldita guerra.
Em busca da escola pelo rio congelado
Zanskar, Índia, Himalaia, é um pequeno povoado no paraíso montanhoso. Implacável no inverno quando o termômetro pode marcar absurdos congelantes 40 graus abaixo de zero. Todos os anos, no trimestre mais frio, um grupo de crianças acompanhadas de seus pais atravessam três vales para chegar ao internato de Leh, antiga capital do reino de Ladakh, onde passarão o restante do ano. Não há estradas, não há caminhos. Fazem-no pelo único lugar possível: o rio Zanskar congelado. A caminhada dura vários dias, com noites ao abrigo das grutas geladas da ladeira. Todos os anos algum turista incauto morre tentando imitar o trajeto das crianças de Zanskar, que conhecem como ninguém os traiçoeiros perigos do gelo.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários
Atenção alunos do Colégio Estadual Josué Brandão
Será que sua escola é longe?
E ainda aparecem uns almofadinhas que reclamam até do veículo que os leva pro colégio.
Ontem eu testemunhei algo do tipo.
No sertão da Paraíba, estudantes também passam por dificuldades para chegar a escola, muitas vezes a escola não vale o esforço. Andar de pau de arrara, mais de duas horas de bicicleta a noite para chegar a escola, uma hora e meia a pé para pegar subir em uma D20, e ir na poera isso quando o cara da D20 aparece. é rotina diária de muitos paraibanos.
Morei em um bairro sem asfalto e muitas vezes deixei de ir à escola porque o ônibus atolava. Mas mesmo assim não é nem um pouco pior do que esse pessoal! Aliás, eu adorava quando ele atolava!
triste né,
mais amanhã eu acordarei novamente ás 5h reclamando , e eu duvido q alguém acorde tão cedo seja pra trabalhar ou estudar ,e pense ''Droga ,poderia ser pior ,aquelas crianças e bláh blá ...."
tu é doido
vou continuar me acordando P. da vida sempre :(
Sorte dessas crianças. Quando adultas, serão menos vulneráveis à consumismo fútil, compradores de voto, seitas oportunistas...
.
E dá pra imaginar o porquê desses países vira e mexe ganharem Nobel e nós não.
8O 8O
Ir pra escola, trabalho, faculdade, na esquina, na casa do vizinho, ia ser bem mais divertido andando de tirolesa...
É assim que eu me sinto ao ter que ir prá escola.
E olha que ela é bem na esquina...
Dido Braga
é exatamente isso que digo pro meu filho... e mesmo assim o desanimo impera.
Politico... era uma vez a geração dos caras pintadas né que até tinha força pra tirar um presidente... hj os alunos tem força pra tirar o professor da sala de aula...a base de cadeirada. :(
so damos o real valor quando não temos mais ou quando é dificil de te-las.
Ok, uns são situações criticas, outros poderiam se facilmente resolvidos, mas não há recursos.... e eu fico sem ir à escola quando o motorista cai, é internado e não pode avisar que não dará para ir '-'
"Queremos ir à escola para aprender para ter uma profissão e com isso um futuro melhor"
Frase rara de se escutar, nos dias de hoje.
o HUman Planet tb mostrou uma familia que leva quase um dia andando na neve e atravessando rio congelado pra chegar a escola...as crianças passam a semana toda na escola e faz a travessia de volta ao fim da semana....
Eu fazia uma caminhada, nada assim. 8O
Tem um filme baseado na primeira história.