Ricos chineses podem contratar dublês de corpo para cumprir sua pena na cadeia

Dias atrás eu lia uma reportagem na CNN sobre como empresas chinesas "alugam" caucasianos, a peso de ouro, para que desempenhem um papel de empregado, sócio ou parceiro comercial para transpor a barreira xenofóbica velada que existe no Ocidente em relação a este povo, mas também para terem uma melhor visualização no próprio país. Mas isso não é nada em comparação com a "profissão" que você está prestes a descobrir. Quer saber?

Aparentemente, os chineses ricos podem fazer qualquer coisa, até mesmo se livrarem de penas na prisão se estiverem abertos a dispor de uma pequena fração de sua fortuna. Claro, isso não é tão surpreendente, considerando-se que em alguns países ocidentais, onde o sistema jurídico é considerado imparcial, políticos, ricos e famosos não sofrem os rigores da lei (ver a patacoada do julgamento do mensalão). Mas somente na China, o chamado "1%" tem uma maneira diferente de lidar com situações desagradáveis, como não ir para a cadeia: em vez de perder seu tempo atrás das grades, eles pagam dublês de corpo que estão dispostos a tomar o seu lugar. Sim, aparentemente isso é possível.

O Slate.com escreveu recentemente um artigo sobre esta prática bizarra de contratação de dublês de corpo para ficarem na cadeia, que de acordo com um oficial de polícia no centro da China "não é comum, mas não é raro também". Este tipo de "trabalho" tornou-se um assunto mais popular em 2009, quando descobriram vários casos de presidiário-substituto, como um diretor de um hospital, que após causar um acidente de trânsito fatal contratou o pai de um enfermeiro para substituí-lo na cadeia.

Em outro caso, um homem, dirigindo sem carteira foi o responsável pela morte de um motociclista, contratou alguém para levar a culpa por apenas 16 mil reais. Tem também a história de um dono de uma empresa de demolição que ilegalmente demoliu uma casa no início deste ano e que contratou um homem pobre para ser seu dublê de corpo em um tribunal e prometeu-lhe 70 reais para cada dia que este passasse na prisão.

Na verdade, a prática tornou-se tão popular que os chineses já tem até um nome para ela: "ding zui". "Ding" significa substituir e "zui" significa crime, então "criminoso substituto".

Estes tipos de "prisioneiros substitutos" aparentemente são uma parte da cultura chinesa há séculos e foi uma das primeiras coisas que os ocidentais relataram sobre o sistema legal depois de visitar o país. Em 1899, Ernest Alabaster, um estudioso do direito penal chinês, escreveu que os tribunais permitiam que os criminosos reais contratassem substitutos e que tais coisas aconteciam frequentemente. Em 1895, o missionário George Mackay também descreveu a prática observando que:

- "Não era segredo para ninguém que estes homens não tinham nada a ver com o caso, mas foram subornados para vestir a canga por seis semanas".

Por incrível que pareça, os criminosos substitutos poderiam ser contratados até mesmo para execuções. Afinal, se uma família estava morrendo de fome, muitos pais pagavam esse preço ao saber que seus filhos seriam salvos. Alguns oficiais imperiais chineses admitiram este tipo de prática considerado eficaz, pois na sua opinião, o verdadeiro criminoso foi punido, pagando o valor de mercado para o seu crime, enquanto o substituto assusta outros criminosos. E ao que parece todo mundo fica feliz...

Hu Bin (à direita) e seu dublê no julgamento (à esquerda).

Recentemente o "ding zui" voltou às manchetes por causa de Hu Bin, um playboy de 20 anos que matou um pedestre enquanto fazia racha nas ruas de Hangzhou. As fotos de Bin Hu e seus amigos fumando e rindo enquanto esperavam a polícia chegar na cena do acidente foram motivo de indignação pública, mas isso não é nada se comparado à situação de que o homem que apareceu no tribunal e que foi sentenciado a uma pena 3 anos não foi Hu, senão um dublê de corpo pago para assumir seu lugar na cadeia. Isso sem falar da sentença branda de apenas 3 anos por matar uma pessoa. Suficientemente bizarro se considerarmos que outros envolvidos em acidentes semelhantes foram condenados à morte.

Gu Kailai (à direita) e sua dublê de corpo (à esquerda).

O último caso de dublê de corpo contratado envolve Gu Kailai, uma mulher chinesa condenada pelo assassinato de Neil Heywood. Segundo rumores em redes sociais, ela teria contratado uma mulher para servir sua sentença de morte suspensa.

Fonte: Slate.com.