
Em termos gerais, o Facebook deu cabimento a um singular fenômeno da psique humana: mostrar a própria vida melhor do que realmente é, maquiando aqui e acolá, corrigindo, mentindo ligeiramente. No mundo Facebook todos parecem triunfar, são felizes e têm vidas satisfatórias e plenas o tempo todo, o que pode ser convertido em uma espécie de pressão condicionante para quem pensa que todas essas vidas são melhores que a sua. Daí então a perda de confiança e segurança, a tristeza, a angústia de ter ao alcance uma vida perfeita e no entanto ser incapaz de concretizá-la.
O que me parece ainda mais triste sobre este assunto é que, da mesma forma que as pessoas costumam obstaculizar argumentos contrários a suas crenças, tentam também obstar quaisquer informações que denunciem que sua vida de faz de conta das redes sociais não é bem assim. Um exemplo você pode ver, no artigo "Como está sua vida no Facebook?". Este post foi um dos recordistas da semana passada, com quase 100 mil pontos de vista, dos quais mais de 55% abandonaram a leitura antes de chegar até a sua metade. Junte se a isso os poucos "Likes" em relação a alta quantidade de visualizaçôes e podemos inferir claramente que a leitura foi incômoda e que as pessoas parecem preferir suas mentiras a ter que mudar de opinião.
Mas tudo é espontâneo? A verdade é que não. Ainda que a seguinte afirmação linda com o delírio paranoico, a verdade é que inclusive (ou sobretudo) isso que cremos mais nosso, mais pessoal, mais íntimo, também é susceptível de ser convertido em mercadoria dos grandes poderes que conduzem o mundo, matéria prima para gerar ganhos, conhecimento -no mais puro estilo do século XVIII- que o Poder precisa para não morrer nunca.
Prova disso é um experimento que há alguns uns anos o Facebook realizou para manipular abertamente a conduta de seus usuários e depois se beneficiar dos resultados observados.
Durante uma semana de 2012 e em colaboração com acadêmicos das universidades de Cornell e Califórnia, o Facebook alterou o feed de 689 mil pessoas para saber o que aconteceria quando um usuário recebesse menos estímulos positivos ou menos estímulos negativos. Isto é, manipulou a visualização de posts, comentários, vídeos e imagens em função destas duas variáveis: as que tinham conteúdo emocional positivo e as de negativo. Seu propósito era indagar sobre o “contágio” das emoções através da rede social.
De acordo com os resultados obtidos, quando o feed está um pouco mais triste que o normal, o usuário também tende a postar conteúdo emocionalmente negativo; em caso contrário, quando o feed é mais feliz, o usuário busca participar também desse impulso do ânimo coletivo.
O preocupante deste exercício é, por um lado, que as respostas foram manipuladas só com alguns ajustes no algoritmo da rede social -o que coloca em suspeita nossa autonomia com respeito inclusive a entidades inertes-, e, por outro, a capacidade que o Facebook tem para executar uma manipulação de semelhante magnitude sem que nada nem ninguém possa detê-lo: nem um governo, nem seus usuários -porque deram seu consentimento nas configurações de privacidade-, nem organismos que regem a rede. Nada nem ninguém, como se, efetivamente, a tirania dos algoritmos estivesse a ponto de substituir a das grandes corporações.
Fonte: The Guardian.
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Comentários
Acho que tudo influencia nas nossas emoções. Em mim, é desde sair na rua até ler livros.
Redes sociais como o moribundo Orkut, no início, tinham a finalidade de reunir pessoas com algum ponto em comum: gosto por algum artista, reencontro de ex-alunos de uma mesma escola, entre outros. Com o tempo, passaram a ser exploradas para outras finalidades e, atualmente, sua utilização, de forma majoritária, é reduzida a atividades como vasculhar a vida alheia, ostentação (inclusive daquilo que não se tem), intriga e outras futilidades. Aliás, como eu já comentei em outras ocasiões, o termo "redes sociais" é bastante irônico.
Grande novidade...
Me parece tão óbvio, isso...
:-/
Bem feito! Rede social é só para inseguro de si mesmo, gente que precisa de se afirmar, adolescentes mentais, inadaptados sem amigos reais. Quem mais precissa de milhôes de "Likes"?
As pessoas sofreriam menos se cuidassem mais da própria vida, se preocupassem menos com a dos outros e deixassem de se importar com aceitações sem sentido.
conheço pelo menos duas pessoas q deletaram suas contas do Facebook porque não aguentaram a "pressão". O mais incrível é que ninguém é obrigado a usá-lo e mesmo assim parece algo obrigatório. O facebook deve ser atualmente o maior instrumento de mídia, então nada mais "normal" que ser manipulado, pois não estamos numa utopia. Mas tem aquele ditado: " me engane uma vez, erro seu. Me engane duas vezes, erro meu". O culpado é quem engana ou quem se deixa sempre enganar? O fato de querermos parecer sempre melhores do q realmente estamos é algo antigo, mas no facebook tornou-se algo q beira a insanidade, e precisam de tratamento.
Mandou? Arrr... Qual?
Aff...
^^
Acabei de dizer que odeio indiretas e mandei uma né?
:P
Seria ... :
- Johnny Depp ?
- Jude Law ?
- Ryan Gosling ?
- Ashton Kutcher ?
- Brad ?
- Robert Downey Jr. ?
Mesmo Sol? Humm, estou tentando imaginar quem seria...
Estou aqui tentando comentar...
Poxa, eu nunca duvidei que poderiam manipular.
A maior rede social não deixaria de ser explorada.
É difícil comentar sobre o "faz de conta" pq a minha participação no facebook é atípica talvez.
Pouco da minha vida particular é exposta e só pra quem é amigo mesmo. A gente pode limitar os grupos para que vejam só o que queremos.
E também só vejo o que aparece no mural e não fico rolando a página. Tenho preguiça...
Bem...algumas vezes vou ver umas fotos...salvo na área de trabalho...çascoisa ^^
Eu concordo que as emoções contagiam e influenciam nosso estado de espírito.
Já choraminguei e evito porque também não gosto de ler choramingos. Fico triste sim pelos amigos, prefiro ler coisas boas deles.
E odeio as indiretas. Odeio mesmo. Mas aí é fácil, é só deixar de seguir a pessoa.
Talvez eu tenha de ser menos crítica em relação à política. E isso não tenho dúvidas que está sendo monitorado.
Percebi que alguns amigos não gostam muito de ler ou debater sobre a situação política que vivemos.
Mas...dane-se. Os incomodados que façam o mesmo. Parem de me seguir.
:-)
Ps Maria: alguém com barba por fazer eu não ficaria triste de ver. :P
Ah... bom... se vc pegar o álbum de fotografias de uma família, vc só verá fotos lindas, com todos sorridentes, alegres... se pegar a foto de Natal verá a família toda reunida, sorrindo e feliz... se pegar a foto de casamento todos estarão felizes, emocionados, os noivos felizes e cheios de amor... se pegarmos as fotos de infância ou de escola, só sorrisos, brincadeiras e contentamento... Acho que o face é um pouco assim, colocamos momentos bons e bonitos, ninguém vai querer colocar a sua própria foto levantando da cama descabelado, a barba de fazer, com dor nas costas, pijama sujo e fedendo, se coçando, de mau humor e mau hálito, antes de tomar banho... ninguém vai colocar a foto de um dia ruim, de tristeza, de violência, de maldade, de tragédia... é um pouco como um filme, por mais que se conte histórias, sempre se floreia um pouco ( ou muito ).
Elbereth pense nesse experimento como um cientista pensa ao manipular camundongos em um labirinto.
Se por amostragem ele constata que consegue ditar o tom e assim induzir as cobaias ele tem um produto pra vender. E que se dane a ética.
Minha dúvida é: as pessoas postaram conteúdos porque estavam mais felizes ou mais tristes ou, simplesmente, adaptaram o discurso no FB de acordo com o que liam?
Querendo ou não, as pessoas tendem a moldar o que falam de acordo com o que ouvem em determinados grupos. Claro que em um grupo de pessoas de gente que só reclama, quem aparecer falando "uhul vida linda sou feliz!!!" vai ser meio excluído. Daí, pra pessoa não ser afastada, muda o discurso. Isso é normal mesmo em encontros físicos, não apenas em virtuais.
Então, minha pergunta: o FB mudar o que lemos muda também o que SENTIMOS ou apenas o que ESCREVEMOS?