![]() | Eu, Luis, não gosto de falar em primeira pessoa, porque os leitores detestam. Eu não gosto de abordar polêmicas tomando partido de um dos lados, porque podem, com todo direito, questionar esta tendenciosidade, e ultimamente estou preferindo ter sossego a do que ter razão. Mas tem uma hora que não dá para fingir que não tem nada acontecendo. Vejam onde chegamos: estamos ante um clima de paranoia em que acontecem coisas como o lançamento de um aplicativo para declarar consentimento sexual entre duas pessoas para evitar ações legais. |

Em tempos onde felizmente saíu à luz o sistemático assédio sexual sofrido por atrizes (e candidatas a) e a consequente caça aos bruxos, também há que considerar a outra cara da moeda, onde a possibilidade de que a paquera e os encontros sexuais ocorram sempre sob uma sensação de risco de ser acusado (ou acusada) de assédio sexual, ou, pior ainda, de violação.
Foi assim que estreou uma app, LegalFling, que busca facilitar um acordo legal, ou, em outras palavras, um contrato, entre duas pessoas, mediante o qual advertem que ambas estão consentindo fazer sexo. Ao que parece esta aplicação busca facilitar que seja possível mover uma ação legal contra alguém que não possa provar que a pessoa consentiu ter um encontro sexual com ele ou ela, mas também proteger às pessoas dos possíveis efeitos secundários de um encontro casual, entre eles, gravar o ato sem consentimento ou não ser informado sobre alguma DST.
Evidentemente que são necessárias ferramentas, legislações e todos os recursos disponíveis -desde que sensatos-, para erradicar a vulnerabilidade de uma pessoa envolvida em um ato sexual. No entanto, também parece que com este tipo de recurso estaríamos apontando a uma espécie de desumanização do sexo, via uma hiper-mega-super regulação legal e o aniquilamento da espontaneidade na sexualidade humana. Não é apenas ridículo, é simplesmente broxante!
O feminismo (ou parte dele) é um movimento sumamente importante que conseguiu avanços significativos nos direitos das mulheres, mas a persistência de um verdadeiro veio machista e a radicalização do mesmo chegou a um ponto de confronto e a um ambiente de animadversão que mereceu a mesma denúncia de um grupo de mulheres francesas, que talvez sejam conscientes de que este estado das coisas está afetando a natureza mais básica e íntima da relação entre homens e mulheres.
As francesas que assinaram o documento na semana passada acham que corremos mesmo o risco de perder a espontaneidade que é a energia vital do sexo e entrar em um novo ciclo de puritanismo sexual -que elas associam com a sociedade americana- onde as relações são transações mecânicas.
O grupo, entre as quais se encontram Catherine Deneuve, a escritora Catherine Millet, a cantora Ingrid Cavem, a editora Joëlle Losfeld, a cineasta Brigitte Sy, a artista Glória Friedmann e a ilustradora Stéphanie Blake, é consciente de que não se deve tolerar a violência ou o abuso sexual, mas que não deve ser estendido este clima de terror que transtorna o próprio ato da sedução ou a forma em que um homem se aproxima de uma mulher (ou vice versa) pela qual sente desejo.

Sentir desejo e querer ser desejado por alguém é o ato mais natural que existe, e, assim, resulta um tanto ridículo que um homem se veja obrigado a deixar de fazer um galanteio porque não há uma atração recíproca. Como é que ele vai saber? E se for apenas um elogio carinhoso?
Ainda segundo as francesas, a mulher deve sim viver livremente sem a ideia de se ver sempre como vítima. Ainda que existam certamente muitas mulheres que foram vítimas e, portanto, homens que devem ser responsabilizados por seus atos, a noção de vítima como etiqueta de sexo torna a mulher paradoxal e ironicamente ainda mais... submissa.
A realidade é que tanto para o homem quanto para a mulher, não há nada mais importante para seu bem-estar que as relações amorosas. A ideia de um verdadeiro feminismo radical em que a mulher não precisa do homem para ser feliz é simplesmente absurda, a necessidade é mútua. E ambos os sexos se necessitam em grande parte porque são diferentes. - "Ah, mas quem pensa assim são as femistas!", poderia alguém dizer. Ok, e quem sabe dizer onde está a borda que separa uma da outra hoje em dia?
Outra coisa é criar ou utilizar posições de poder para forçar mulheres a fazer coisas que não desejam. Por suposto, o mais delicado do assunto é definir quando uma petição de uma chamada posição privilegiada, onde uma mulher, vulnerável a ceder a tal convite, faça não por seu próprio desejo (ou não), senão por temor ao poder em questão (ou para ter acesso aos mesmos privilégios).
Na complexidade de estabelecer esta linha divisória, era de esperar que algumas mulheres acusassem as francesas de "misoginia interiorizada". No entanto, em todo caso, o foco deveria ser dirigido aos homens que realmente realizam abusos (a exceção) para que sejam devidamente castigados para que as mulheres que se veem nessas situações se sintam protegidas e não tenham que se submeter aos desejos do outro.
É indiscutível que existem muitos países onde abundam meios que privilegiam os homens e deixam seus atos impunes. É nisto que os movimentos sociais devem trabalhar em denunciar e em estabelecer condições mais equitativas. Dito isso, é preciso diferenciar entre o que é violência, isto é, quem viola o desejo do outro, lastima sua integridade ou penetra seu espaço pessoal de maneira violenta e o que é a legítima exteriorização do interesse pessoal, romântico ou sexual, o que não deve e nem pode ser considerado um crime.
De qualquer forma já baixei o LegalFling e preenchi os pré requisitos para que possíveis ficadas relacionamentos não terminem em altercação na frente de um juiz, entre eles, nada de fio-terra.
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Comentários
Pra ser sincera, como feminista que sou, às vezes me vejo envergonhada da conduta de muitas «feministas» por ai. Parece que perderam a essência do movimento, ou nunca o conheceram. A busca por igualdade não tem nenhuma relação com o ódio que muitas vem pregando. é tanta babaquice que até removi meu perfil do face, cansada que estou de ver tantas mulheres envergonhando o feminismo e as heroínas do passado.
Jesus....
Onde vamos parar...?
T? com medo...