
Um artigo no Washington Post no ano passado declarou que as dietas sem cereais baseadas em carne crua compõem um dos setores com maior crescimento no mercado de alimentos para mascotes. É como a paleodieta, mas para animais. O problema é que não há nenhuma evidência de que dietas baseadas em carne crua são mais saudáveis que as rações para animas domésticos. Ademais, a pesquisa publicada no diário Vet Record demonstra que estas dietas poderiam ser uma ameaça para a saúde dos animais e dos humanos.
A equipe de investigação de Paul A. Overgaauw na Universidade de Utrecht queria saber se as bactérias zoonóticas e parasitas -ambos que podem passar entre diferentes espécies- tinham uma presença nos produtos de carne crua para mascotes. Ao final, analisaram 35 tipos de rações comerciais de oito marcas diferentes na Holanda.
Seus resultados são um pouco perturbantes. Encontraram a bactéria E. coli em um quarto dos produtos e Salmonela em 20%. Ambos patogênicos são perigosos para os humanos e para os animais. Adicionalmente, os pesquisadores descobriram várias espécies da bactéria Listeria -que é particularmente perigosa para mulheres grávidas, recém-nascidos, idosos e pessoas com sistemas imunológicos débeis- em 43% dos produtos. Um quarto dos produtos tinham os parasitas Sarcocystis cruzi e Sarcocystis tenella -o último pode ser transmitido aos humanos-. E finalmente, dois dos produtos deram resultados positivos de Toxoplasma gondii, o parasita do cérebro que altera o comportamento dos animais e que possivelmente afeta os humanos.
Os pesquisadores realizaram testes apenas em produtos disponíveis na Holanda, o que é uma limitação do estudo. Estes produtos devem variar segundo o país, que fazem com que os fabricantes cumpram diferentes padrões para a carne, controle de qualidade, etc. Mas outros estudos realizados em diferentes países chegaram a conclusões similares (há exemplos aqui, aqui, aqui e aqui).
As pessoas podem chegar a ter contato com estes patogênicos se tocarem o animal infectado, a comida contaminada ou superfícies. Também é possível o contágio do dono do animal pela contaminação cruzada. Além de recomendar que os donos se eduquem sobre os riscos destas dietas e pratiquem boa higiene, os pesquisadores declaram que os fabricantes devem incluir advertências e instruções sobre como manejar os produtos.
- "Apesar do tamanho relativamente pequeno de produtos em nosso estudo, está claro que os produtos comerciais de carne crua poderiam estar contaminados com uma variedade de bactérias zoonóticas e patogênicos parasíticos que poderiam se transformar em uma possível fonte de infecções bacterianas nos animais, e, se forem transmitidos, poderiam ser uma ameaça para os humanos", escrevem os pesquisadores em seu estudo.
- "Os gatos e cães que têm dietas de carne crua também podem ser mais infectados com bactérias resistentes aos antibióticos do que os animais em dietas convencionais, o que poderia ser um risco sério para a saúde dos animais e a saúde pública".
Jennifer Larsen, uma nutricionista clínica da escola de veterinária da Universidade de Califórnia em Davis, que não estava envolvida no estudo, está de acordo com os autores.
- "Não recomendamos que as pessoas deem produtos crus aos seus animais (como carne, ovos e osso). Este tipo de dietas não são permitidas no Centro de Ensino de Medicina Veterinária segundo nossa política de controle de doenças infecciosas", disse Jennifer. - "Esta prática cria riscos à saúde do animal e à saúde do homem e não nenhum benefício demonstrado. Isto se apóia em outras pesquisas que descobriram tipos de contaminação similar nas dietas de carne crua, de modo que os riscos estão bem documentados".
Jennifer assinalou as políticas e as declarações sobre este tema da Associação Médica de Veterinários Americanos, Associação Médica de Veterinários da Califórnia, Associação Médica de Veterinários do Canadá e Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos.

À nutricionista não se convenceu dos argumentos que afirmam que cães e gatos devem comer alimentos que comeriam se vivessem na natureza, já que, por suposto, não vivem.
- "Os objetivos que temos para nossas animais incluem a longevidade, geralmente a falta de reprodução, uma nutrição ideal, um corpo em boas condições e a prevenção de trauma e doença", disse Jennifer. - "Fazemos muitas coisas para protegê-los do que poderia ocorrer na natureza, como a fome, doença, reprodução muito cedo e frequente, trauma de acidentes e brigas e uma vida muito curta. Temos a habilidade de fazer isto graças aos avanços científicos em nutrição, terapia médica e medicina veterinária preventiva (castração, vacinação), junto com o uso de coleiras, cercas e mantendo os dentro de nossas casas."
Notavelmente, Jennifer comenta que os cães e gatos não são "naturais", já que nós os criamos para nossos propósitos: caça, companhia, pastoreio, etc.
- "Essencialmente evoluíram sobre o lixo humano. Tiveram grande sucesso em ter um estilo de vida de carniceiros, e a maioria dos cães [de rua] seguem vivendo assim. Não é realista pensar neles como lobos", declarou Jennifer. - "Os gatos são mais parecidos a seu estado não doméstico, mas ainda queremos que vivam longas vidas. Não queremos que nos transmitam doenças quando dormem em nossas camas e caminham sobre o balcão da cozinha."
Para assegurar-nos de que nossos animais estejam seguros, Jennifer diz que os donos de animais devem lhes dar comida convencional (ração). Também podem dar dietas equilibradas ou alimentos cozidos se têm dinheiro, espaço e tempo para fazê-lo.
Nem é preciso ir muito longe, experimente dar carne crua a seu cãozinho de raça e veja o que acontecerá nos próximos dias se ele não foi desverminado. Aliás, melhor não, pois você corre o perigo de perder o seu bichinho querido.
A carne crua não é boa para os cães e nem para ninguém devido aos patógenos, mas o artigo é discutível quando diz que a ração é a melhor dieta, isso é uma falácia. Não é necessário explicar que as rações de sustento, por mais balanceadas que sejam, são feitas com resíduos (sub-produtos animais), farinha vegetal e farinha de ossos de peixes, que tem percentagens mínimas de proteína e a qualidade dessa proteína é basicamente um asco e as rações de ponta tem custo parecido ao das carnes de segunda.
Eu tenho dois cães, um Rotweiller e uma Daschund. O primeiro é uma "draga" e a segunda come só o necessário, mas ambos se comportam como intermediários se comerem apenas ração (por melhor que seja). Os dois requerem percentagens altas de proteína de alta qualidade em suas dietas. Ademais, o pH do estômago dos cães é 1, isto é, é realmente forte, e seus dentes não são desenhados para mastigar. Eles trituram o que cai na boca um par de vezes e engolem. Qualquer um que tenha um cão se sentirá identificado com a frustração que a gente sente quando damos algo realmente "gostoso" e eles engolem de uma "bocada" só sem sequer parecer desfrutar do quitute.
Sendo assim, dou-lhes ração, mais complemento com arroz ou canjiquinha com carne moída ou peito de frango. Se pudesse faria uma dieta rica de proteínas com vegetais e menos carboidrato, que é mil vezes melhor que uma ração, mas cães não gostam de legumes ou verduras, né?
Curiosamente, os cães SRD, sem nenhum pedigree e muitas vezes relegados ao esquecimento e abandono às ruas, são os menos propensos a sofrer quaisquer males decorrentes da alimentação. Eles comem até chumbo derretido e não acontece nada.
Fonte: Science Daily.
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Comentários
Eu hein. Como carne crua, carpaccio, a "carne de onça" curitibana que é feita com carne moída crua, como kibe cru (com carne crua) e de vez em quando um tartar de mignon. Nada disso jamais me fez mal, nem pra minha esposa, nem pro meu filho. Em compensação, se comer pimentão escondido em molhos, fico 2 dias de cama e trono. Voltando ao cão, limpo a carne e dou uns pedacinhos cru (sem exagerar) para minha boxer. Ela come 440g de ração por dia, sem falhar, em duas porções de 220g. Ração premium "média" (Golden). Assim ela não engorda. De vez em quando dou uns petiscos. Às vezes é simplesmente melhor ignorar o que lemos na Internet.
Resumindo:
Faz mal...