Gordon Gallup, o cientista americano que ficou famoso nos anos 70 por seus experimentos pioneiros sobre o auto-reconhecimento com animais, afirmou em uma entrevista com o diário britânico Sun que um laboratório dos Estados Unidos criou o primeiro híbrido humano-chimpanzé em 1920, conhecido como "humanzé". Gallup explicou que soube disso através de um ex-professor universitário, que lhe disse que a criatura nasceu em um laboratório de pesquisa animal na Flórida onde trabalhou uma vez. Segundo o pesquisador: |
- "Um dos casos mais interessantes envolveu a tentativa realizada na década de 1920, naquele que foi o primeiro centro de pesquisa de primatas estabelecido nos Estados Unidos, em Orange Park, Flórida. Ali inseminaram uma fêmea de chimpanzé com sêmen humano de um doador desconhecido, e afirmaram que não só ocorreu a gravidez, senão que resultou em um nascimento."
A verdade é que há poucas razões para pensar que tal experimento foi realizado com sucesso, e possivelmente há muitas para achar que não foi assim, mas o fato de que um pesquisador respeitado semeie certas dúvidas, ademais, recupera uma história longamente rumorejada no passado.
Apesar da importância deste suposto avanço, Gallup, agora pesquisador da Universidade de Albany, diz que os problemas de consciência sobre o experimento "humanzé" não demoraram a aparecer em todos e cada um dos cientistas envolvidos:
- "Em poucos dias, ou semanas, começaram a pensar nas considerações éticas e morais e o bebê finalmente foi sacrificado. A fonte que me disse isso é confiável e testemunhou a veracidade do controverso experimento. Disse-me que o rumor era totalmente verdadeiro, e que foi realizado por um cientista renomado."
Que há de verdade e fantasia nesta história? Segundo explicou Gallup, a instituição que realizou o experimento é atualmente o Centro Nacional de Pesquisas de Primatas de Yerkes, mas se estabeleceu em 1930, não na década de 1920. Seu fundador, o psicólogo e primatologista Robert Yerkes, foi uma figura controversa na comunidade científica, dado seu apoio declarado à investigação da eugenesia, ainda que também era fascinado pelo comportamento animal, especialmente o dos primatas.
Antes de 1930, o centro teve outros nomes durante a década de 1920, incluídos os de Laboratórios de Biologia de Primatas de Yale e Estação de Reprodução e Experimentação de Antropóides em Orange Park, Flórida, que provavelmente seja a instalação referida por Gallup.
Seja como for, aqui acabam-se as pistas. Contudo, este momento da história não seria o único em que os cientistas exploraram supostamente as possibilidades da hibridação entre símios e humanos. Vários pesquisadores da União Soviética e China experimentaram com a ideia.
De fato, o biólogo russo Ilya Ivanov tentou o mesmo na década de 1920, várias vezes, mas não conseguiu uma gravidez bem sucedida em chimpanzés inseminadas artificialmente com esperma humano. A experiência fazia parte de um projeto maior, pensado pelo genocida Josef Stalin, que queria cruzar símios com seres humanos para conseguir assim um super-soldado: um ser quimérico humano-chimpanzé que fosse extremamente mais forte que o ser humano e suficientemente imbecil, na justa medida, para manusear armas, comer qualquer porcaria, lutar e não questionar os ideais comunistas.
Décadas mais tarde, os experimentos chineses na década de 1960 exploraram o mesmo território, ainda que novamente fracassaram. De modo que parece mais ou menos claro que, se nunca teve êxito, ao menos o homem fantasiou e tentou em mais de uma ocasião conseguir esse espécime raro que uma vez se chamou humanzé", que seria o animal de laboratório ideal porque os chimpanzés estão estreitamente conectados com os seres humanos, compartilhamos 98% do genoma e tem habilidades cognitivas equivalentes à de uma crianças de 6 anos.
Juntar os dois poderia criar uma criatura tão humana que suporia um questionamento moral e ético levaria a que 4.000 anos de ética se transformasse em fumaça. A criatura teria direitos humanos e gozaria das proteções outorgadas pela lei? A sociedade permitiria a união inter-espécies? O humanzé deveria passar por algum teste de humanidade para ganhar sua liberdade? Seria naturalmente impelido a fazer trabalhos escravos ou atividades que envolvessem riscos? Seria complicado.
A lenda do humanzé ganhou ainda mais força no princípio dos anos 70 quando descobriram um estranho primata originário dos bosques do Congo, que verdadeiramente comoveu o mundo. Durante meses, jornalistas de todo o mundo se dedicaram a publicar artigos de um chimpanzé cujas peculiaridades aparentemente "humanas" deixavam qualquer um com o cabelo em pé e que foi conjecturado como sendo o elo perdido entre os símios e os homens.
O macaco, chamado Oliver, não só tinha uma inteligência superior ao resto dos primatas, senão que caminhava tão ereto quanto qualquer pessoa. Exibia diversas expressões humanas, tinha esclerótica branca, contava com menos pelos, um focinho menos proeminente, um crânio menor e mais redondo e ficava excitado com a presença de mulheres.
Depois de anos de pesquisas, os cientistas da época não conseguiram determinar exatamente sua real natureza, mas as análises foram concludentes: Oliver era um chimpanzé, e não um ser quimérico resultante do cruzamento ente um chimpanzé e um humano, mas nunca descartaram a hipótese de que se tratasse de um símio mutante.
Depois que finalmente descobriram que Oliver era realmente um chimpanzé, o interesse da mídia sumiu tão rápido quanto apareceu. Mas grande parte de sua vida, ainda assim, depois se resumiu a shows de circo, apresentado como o "elo perdido", ou em laboratórios de pesquisa. Até que uma boa alma levou o coitado para um santuário em San Antonio, no Texas americano, quando pela primeira vez na vida experimentou a vida na natureza como um símio.
Em sua estadia ali (14 anos), a equipe nunca mais permitiu que ele participasse de um estudo -apesar das reiteradas solicitações-, porque queriam que ele soubesse que era especial mesmo como um chimpanzé (foto acima). Em 2012, ele foi encontrado morto, guardado pela namorada, quando estava bem velhinho. A expectativa de vida de um chimpanzé em cativeiro é de 35 anos. Oliver, o humanzé, tinha 55.
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Comentários
Não duvido nada! Os homens andam tão bizarros ultimamente, pegam e casam com cada bagulho, que pegar um chimpanzé não soaria estranho
Eu, heim ???
Troço doido...