Ainda ontem, o amigo Rusmea do bom Curionautas falava sobre um assunto espinhoso relacionado ao feminismo, mas muito defendido pela ala radical do movimento que privilegia o exclusivismo acima dos direitos, cuja teoria é embasada principalmente na crítica sem sujeito ativo (o sujeito é o meio e a circunstância), cuja análise e discurso não sustenta a própria falha (porque não a reconhece) e que não dá verdadeira importância ao feminismo do mundo árabe. |
Por exemplo, o Persepolis ganhou a liga de futebol de Irã recentemente. 95.225 espectadores celebraram na última sexta-feira o título no Azazi Stadium de Teerã, a capital do país. 95 222 homens e 3 mulheres com barba postiça. O Irã é o único membro da FIFA cuja lei impede a entrada de mulheres aos estádios. A menos de dois meses do mundial da Rússia, a religião pode ainda mais que o futebol. Estranho se considerarmos que o futebol é uma das principais molas que impulsionam o mundo.
Desde a revolução islâmica de 1979 só os homens podem aplaudir e animar qualquer equipe esportiva. Só no atletismo é permitida sua presença, ainda que devidamente paramentada pelo conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica. Esta involução não é teatral ou simbólica, as mulheres que descumprirem a norma são presas e levadas a um lugar adequado enquanto dura o espetáculo.
A ativista Ghoncheh Ghavami foi presa em 25 de junho de 2014 por tentar assistir a uma partida de voleibol no mesmo estádio. Passou um ano na cadeia acusada de propaganda contra o Estado.
As authoritarian #Islamists restrict #womenrights, women stand against them with new tactics.
— Mohsen Moheimany (@m_moheimany) 28 de abril de 2018
Islamic laws in Iran don't let women in stadiums. Yesterday, some #female fans of #Persepolis football team went to #Azadi_stadium with this make up to support their team's championship. pic.twitter.com/egRfnv1qky
Recentemente, no estádio Azazi -que paradoxalmente significa liberdade em persa- 35 mulheres foram detidas em um jogo entre o Tekran Esteqlal e Persepolis e que precisamente contava com a presença do presidente da FIFA, Gianni Infantino e o ministro iraniano dos Esportes, Masoud Soltanifar. A notícia, que foi capa em todo mundo, animou muitas mulheres a se levantar contra a absurda norma imposta pela classe dirigente conservadora do aiatolá Jamenei.
Ridiculous but painful 👇👇👇
— mahsti25 (@mahsti25metana1) 23 de abril de 2018
This girl is forced to wear men's clothes to watch the match and enter the stadium ...
Why?
Because it is forbidden for women to enter the stadium and watch the matches in #Iran#women #womensrights pic.twitter.com/YGcamjsh1W
Desde então as redes sociais ficaram repletas de mulheres nos estádios. Um pulso forte que se une a todas aquelas mulheres que desafiam o islã iraniano e que se perfila aos protestos contra o hijab, mas só lá porque aqui é modinha usar este símbolo da opressão das mulheres entre os muçulmanos. Toda uma alegoria da realidade de que as iranianas são cidadãs de segunda classe e que essa conjuntura é sistematizada tanto no texto sagrado como no hábito, acentuados pela pela lei..
This is a girl named Farnaz
— mahsti25 (@mahsti25metana1) 28 de abril de 2018
She was forced to change herself as a man to enter the stadium & watch a sports match !!!
Because, in #Iran, women are banned to enter the stadium#women #womensrights pic.twitter.com/0kuxJdXMzi
Acontece que, na mistura da plutocracia e da religião mais escrota que existe (escrota sim!), resulta em situações absurdas. O passado 5 de setembro, na partida de classificação para o mundial da Rússia entre Irã e Síria, as sírias podiam ser vistas animadas nas arquibancadas e as iranianas manifestavam-se muito próximo porque tinham confiscado suas entradas.
Why are #women banned from entering the stadium in #Iran?!
— mahsti25 (@mahsti25metana1) 28 de abril de 2018
Zahra Khumshvanaz has tried to enter the stadium to watch the match
But she has to change herself in form of a man!
This is repression by the mullahs in Iran#womensrights #IranProtests #SaturdayMorning #1May pic.twitter.com/NsVZ6nEDr0
O reboliço social destas prisões resultou em uma promessa do Ministério dos Esportes Iraniano ao presidente da FIFA que mais bem cheira a uma trégua do influente clero durante o mundial da Rússia. O governo do país nada pode fazer ante o poder religioso. Recentemente propôs uma área especial para mulheres que foi recusada pelos clérigos.
Iranian woman dresses up like a man and sneaks into a football stadium.
— Armin Navabi (@ArminNavabi) 26 de janeiro de 2018
Despite years of protests, #Iran still prohibits women from entering stadiums.#genderequality pic.twitter.com/MrTrserj8P
As mulheres podiam assistir a eventos esportivos antes de 1979, durante a chamada "revolução branca". Com a liberalização cultural e modernização econômica "imperialista" trazida pelo Ocidente, as mulheres desfrutaram de um período de liberdades como nunca visto.
Iran stadium in 1950 (women and men), in 2017 ( No women are allowed, only men). #HumanRights #Injustice #Iran pic.twitter.com/B38FHVzCt6
— Dr. Majid Rafizadeh (@Dr_Rafizadeh) 16 de julho de 2017
As mulheres dos anos 60 podiam ir aos estádios, podiam votar, podiam se divorciar, gozavam de educação secundária gratuita e auxílio financeiro na Universidade. Mas uma crise econômica derivada dos pecados desse capitalismo desbocado e malvadão desencadeou a chegada dos aiatolás e o fim dos direitos sociais.
Involução que afetou sobretudo as mulheres. Enquanto isso parte do feminismo ocidental faz cara de paisagem enquanto dedica um verdadeiro relativismo moral a lei islâmica.
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Comentários
Que tenso, isso.
Tanta coisa pra se preocupar no mundo...