Na maioria dos países, dormir no trabalho não é apenas embaraçoso, pode até custar o emprego. No Brasil, por exemplo, dormir durante o serviço configura ato grave e passível de demissão por justa causa, com base no artigo 482 e CLT. Mas no Japão, dormir no escritório é comum e até é aceito socialmente. Com efeito, a prática é frequentemente vista como um sinal de diligência e esforço, geralmente relacionado a pessoas tão dedicadas ao seu ofício que trabalham até a exaustão. E isso não é falso. O Japão é uma das nações mais privadas de sono do mundo. |
Um estudo de 2014 sugeria que um japonês médio dorme apenas 6 horas e 35 minutos a cada noite. Assim, a maioria adormece durante o deslocamento ou no trabalho, em parques, em lanchonetes, em livrarias, em shoppings e em qualquer outro lugar público.
É tão comum e tão normal que os japoneses têm uma palavra para isso: inemuri, que significa "presente enquanto dorme".
Ninguém mais sabe sobre o inemuri melhor do que o Brigitte Steger, um estudioso da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que estuda a cultura japonesa:
- "Eu vi pela primeira vez essas atitudes intrigantes, de dormir em qualquer lugar, durante a minha primeira estadia no Japão, no final de 1980", escreveu ela em um artigo.
- "Naquela época, o Japão estava no auge do que ficou conhecido como a Economia da Bolha, uma fase de extraordinária explosão especulativa. A vida diária era correspondentemente agitada. As pessoas preenchiam seus horários com compromissos de trabalho e lazer e quase não tinham tempo para dormir."
Foi durante esse período de boom econômico do pós-guerra que a nação ganhou a reputação de uma nação trabalhadora sem tempo para dormir.
As pessoas trabalhavam longas horas e depois cochilavam durante o trajeto notoriamente longo para casa. Os alunos ficavam acordados até tarde e depois cochilavam durante as aulas na manhã seguinte.
Parece contraditório, mas a tolerância para adormecer durante reuniões, aulas e reuniões sociais é bastante difundida na cultura japonesa.
Mas existem regras para o inemuri e isso depende de seu degrau na escala social e trabalhista japonesa.
- "Se você é novo na empresa e tem que mostrar o quanto está envolvido ativamente, preferencialmente não deverá dormir", explicou Brigitte.
- Mas se você tem 40 ou 50 anos e já não tem que provar nada a ninguém, você pode dormir. Quanto mais alta for a posição social, mais você poderá dormir".
Outra pista para decifrar as complicadas etiquetas do inemuri está no próprio termo: estar presente enquanto dorme.
- "Mesmo que o dorminhoco possa estar mentalmente fora, ele precisa ser capaz de retornar à situação social quando for necessária uma contribuição ativa", asseverou Brigitte.
- "Seu corpo precisa fingir que você está ativo em uma reunião, como se estivesse se concentrando. Você não pode dormir debaixo da mesa nem nada. Você tem que se sentar como se estivesse ouvindo atentamente, e apenas abaixar a cabeça."
Há alguns primos próximos da cultura dos inemuri que podem ser encontrados em outros países também, como a siesta espanhola ou a soneca brasileira -o pequeno cochilo no início da tarde, muitas vezes após o almoço-.
Na Itália também existe o riposo -um intervalo prolongado para o almoço-, que dura de 2 a 3 horas, permitindo que as pessoas recuperem o sono.
Nos últimos anos, a prática de cochilar no trabalho recebeu apoio de vários empregadores em todo o mundo.
Entre eles, destacam-se o Google, a Apple, a Nike, a Basf, a Opel, o Huffington Post e a Proctor & Gamble, que oferecem salas dedicadas para tirar um cochilo durante os horários de expediente.
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