Cientistas chineses transformam cobre em ouro (mais ou menos)

Uma equipe de pesquisadores chineses transformou cobre barato em um novo material "quase idêntico' ao ouro, de acordo com um estudo publicado na revista Science Advances, no sábado passado. O professor Sun Jian e seus colegas do Instituto de Física Química de Dalian, na Academia Chinesa de Ciências em Liaoning, dispararam um jato de gás de argônio quente e eletricamente carregado em um alvo de cobre e o resultado foi um metal com propriedades semelhantes ao do ouro ou da prata.

Seguindo dica do amigo Rusmea, via Facebook, descobrimos que o que ocorreu foi que as partículas ionizadas de movimento rápido explodiram os átomos de cobre no alvo. Quando estes átomos esfriaram e condensaram na superfície de um coletor, produziram uma fina camada de areia, em que cada grão tinha um diâmetro de apenas alguns nanômetros.

Os pesquisadores colocaram então o material em uma câmara de reação e o usaram como um catalisador para transformar carvão em álcool, um processo químico sofisticado e difícil que somente metais preciosos podem manipular eficientemente.

- "As nanopartículas de cobre alcançaram um desempenho catalítico extremamente semelhante ao do ouro ou da prata", disseram Sun e colaboradores em um comunicado publicado no site da academia no sábado.

O cobre tem um peso semelhante e parece um pouco com o ouro. Durante séculos, atraiu alquimistas que viam no metal uma porta de entrada para riquezas instantâneas. De fato, os primeiros registros sobre a tentativa de alquimia datam de 300 d.C., pelo greco-egípcio Zosimos, que através de vapor sulfuroso, fazia com que metais se tornassem amarelados, mas estava longe de transformá-los no metal cobiçado.

Ademais, outros grandes cientistas, como Isaac Newton, Robert Boyle e Roger Bacon, também tentaram encontrar a fórmula mágica, sem sucesso. No entanto, como acostuma acontecer com a Ciência, os experimentos realizados durantes estes processos acabaram tomando grande relevância no mundo acadêmico.

P que chegou mais perto do intento foi o prêmio Nobel de Química de 1951 Glenn T. Seaborg, que, em 1980, conseguiu transformar chumbo em ouro. Ele usou um acelerador de partículas que impulsionava feixes de núcleos de carbono e neon, com velocidades próximas a da luz, em folhas de metal, nesse caso o bismuto, que possui características semelhantes ao chumbo, mas, que nesse caso, tornavam o processo mais fácil. Porém, tinha um "porém": o custo para produzir 1 grama desse ouro de laboratório ultrapassava o milhão de dólares, quando era possível comprar a mesma quantidade por apenas algumas dezenas.

Já no nosso caso atual, os cientistas chineses descreveram o novo material como "um guerreiro com armadura dourada", capaz de resistir à erosão química. Não obstante ele não pode ser usado para fazer moedas de ouro falsas. Sua densidade permanece a mesma do cobre comum. Mas o processo pode ser bem lucrativo e fornecer um impulso significativo para as indústrias chinesas, segundo os pesquisadores.

Metais preciosos e terras raras permanecem como componentes centrais nos dispositivos eletrônicos. Não é por acaso que hoje exista um grande número de garimpeiros de e-lixo, já que na atualidade é possível encontrar mais ouro em uma lixeira de aparelhos eletrônicos do que em uma mina.

O cobre não pode funcionar tão bem quanto o ouro em aplicações industriais, sobretudo porque tem menos elétrons girando em torno de seu núcleo. Esses elétrons também são relativamente instáveis, então o cobre tende a reagir mais facilmente quando combinado com outros produtos químicos.

Na prática, o que faz o método desenvolvido pela equipe da Sun foi injetar uma grande quantidade de energia nos átomos de cobre e tornar os elétrons mais densos e estáveis. Assim o novo material pode resistir melhor a altas temperaturas, oxidação e erosão.

- "É como um guerreiro com armadura de ouro em um campo de batalha, capaz de resistir a qualquer ataque inimigo", concluiu o pesquisador.

Fonte: SCMP.