Talvez você já tenha se proposto a perguntar por que diabos o ouro é tão caro? Por que adoramos o metal amarelo se nem sequer é o mais raro nem o mais precioso da Terra? Como veremos a seguir, a resposta não é muito simples, ainda que explica bastante bem a história de nossa civilização: principalmente por tradição antiga, já que existem evidências de que o ouro impressionou os humanos desde 40.000 a.C. |
Os antigos egípcios simplesmente gostaram, e a história diz que os faraós não puderam obter todo o metal que queriam. De fato, inclusive usaram como moeda, com o acordo de que apenas uma peça de ouro valia tanto como duas peças de prata de igual peso.
Hoje sabemos que na Bíblia é mencionado a terra celestial coberta de ouro. Sabemos que outras civilizações, desde os astecas até os persas, também apreciavam. Agora... não era tão difícil de encontrar, por que resulta tão caro?
O ouro é raro, mas não o mais raro. E aqui entra uma questão espinhosa cheia de equívocos, tanto que as listas de metais preciosos e valiosos são constantemente confundidas com as de metais raros. Excluindo se a lista de terras raras, os metais mais raros são:
- Irídio: o elemento mais raro, aproximadamente 12 vezes mais raro que o ouro. Segundo alguns importantes estudos científicos, o metal teria origem extraterrestre, que chegou com o mesmo asteróide que levou à extinção dos dinossauros.
- Ródio: como o Irídio, pertence ao grupo da platina e durante alguns anos foi o mais precioso dos metais. Extrair o Ródio é uma empreitada bem complexa.
- Telúrio: no estado fundido, o Telúrio é capaz de corroer metais como cobre, ferro, e também o aço inoxidável.
- Rutênio: é um metal muito difícil de ser produzido por suas propriedades químicas e físicas. Portanto, o rutênio está presente mo mercado em muito pequenas quantidades.
- Ósmio: também pertence ao grupo da platino e seu tetróxido é utilizado para a tomada de impressões digitais. É o metal mais pesado na natureza.
- Rênio: não existe na natureza em forma livre e nem sequer nos minerais mais comuns.
- Ouro: também está entre os metais mais raros do mundo devido a parca distribuição pela camada terrestre, com uma concentração média de 0,03 partes por milhão, o que corresponde a 0,03 gramas por tonelada.
- Platina: está presente à natureza em estado puro ou ligado com Irídio. Seus compostos, altamente tóxicos, são bastante raros na natureza e algumas deles, por exemplo, a cisplatina, que é utilizada como fármacos contra o câncer.
- Paládio: também pertence ao grupo da platina, que é amplamente utilizado como catalisador. É hoje o metal mais caro do mundo, sem ser o mais raro nem o mais precioso.
- Bismuto: utilizado especialmente na indústria farmacêutica e para a preparação de ligas de baixo ponto de fusão tal como as, por exemplo, dos fusíveis.
Note que o Ouro é apenas o sétimo mais raro e o terceiro mais caro atrás do Ródio e do Paládio. A Platina costumava ser o metal mais caro, hoje seu preço despencou e custa pouco mais que a metade do Ouro.
São apenas dados, mas indicam que ainda que a raridade faça com que algo seja caro, não define o preço em geral. Caso contrário, a Platina e o Rutênio custariam mais que o Ouro.
Desde o ponto de vista científico sim há uma razão pela qual o Ouro é caro. Isso porque é um átomo pesado que consta de 79 prótons e 118 nêutrons. Mas inclusive assim, antes de que tivéssemos estes dados científicos, na antiguidade não tinham ideia de onde vinha o metal.
Outros dados a ter em conta: é altamente resistente à corrosão e por ser fácil de trabalhar é altamente desejável para fins decorativos, e ainda mais na indústria. Alguns metais são muito difíceis de fundir, mas o ouro não. Portanto, temos um metal muito bonito, esteticamente falando, que não enferruja e é facilmente manejável. Ademais é o terceiro melhor super-condutor, a frente do Alumínio e atrás da Prata e Cobre. Mas no caso dos fios e cabos elétricos serem feitos de Prata ou Ouro, estes logicamente seriam muito caros, e certamente ficaríamos sem luz devido ao roubo de fios por cheiradores de pedra. De fato isso já acontece com fios feitos de cobre!
Em definitiva, poderíamos dizer que o Ouro não é o melhor metal em nenhuma característica, mas sim é aquele que obtém uma alta pontuação em todas, razão que o converte em um metal quase perfeito.
Decidi escrever este artigo em decorrência do post de ontem sobre o asteróide composto só de metais pesados, com grande abundância de ouro. Muitos acham que a mineração espacial faria seu preço despencar em função do metal deixar de ser raro. Como vimos, não é bem assim. O preço do ouro não despencaria por perder o status de rareza ou singularidade, porque manteria a preciosidade e utilidade. Quantidades ingentes de ouro não fazem dele um metal ordinário.
Talvez ganhasse um status parecido ao alumínio em preço, se a mineração espacial vier a explorar apenas metais pesados. Mas há um fator que estamos esquecendo: uma coisa é você achar uma sólida cadeia de montanhas de ouro na Terra e outra bem diferente, no espaço. Nosso planeta é uma amostra do universo, ou seja, se existe tamanha quantidade de ouro em uma rocha espacial, quanto de ferro e outros minerais não existiria em outras? A relação de raridade deveria se manter, ainda que em uma escala absurdamente maior.
Por isso, quando e se acontecer, a mineração espacial fará no máximo que o preço dos metais caia (ou não), porque as pessoas continuarão querendo ouro. Continuará sendo raro. Tendo uma história para ser admirada, não oxidando, parecendo perfeito, mantendo sua forma e seguindo como um material que denota um alto status. Quem tem ouro, tem um tesouro.
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Comentários
Diamantes também não valem nada. Mas alguém decidiu que valeriam.
Aliás, não é só ouro que é dourado, respondendo ao Nilson Neto. Latão é dourado e Pirita também.