Ter um dedo a mais sempre foi considerado uma aberração não desejada e algo que dificulta a vida de seu possuidor ainda que não cause nenhum problema, pelo contrário. Motivo pelo qual dificilmente é removido cirurgicamente. Em 2019, a equipe de Etienne Burdet, bioengenheiro no Imperial College de Londres, estudou dois casos particulares de polidactilia, os de uma mulher de 52 anos e seu filho de 17 anos, ambos com um dedo a mais em cada mão, e obtiveram informação precisa sobre como manipulam objetos e como os neurônios se ativam em seu sistema nervoso. |
No trabalho publicado na revista Nature Communications, detalham como estas duas pessoas utilizam o dedo extra para manejar objetos com grande destreza e em posições que o resto das pessoas acharíamos impossíveis ou em tarefas para as quais os demais requeremos normalmente duas mãos.
Nos testes com escâneres de ressonância magnética funcional observaram também que estes movimentos refinados do dedo extra são controlados por zonas muito concretas do córtex somatossensorial e não são simplesmente controlados pelos músculos que movem outros dedos, como se cria até agora. Isto lhes permite mover os dedos extras de maneira independente ao resto.
Durante os testes, Burdet e sua equipe observaram que a presença de um dedo extra levava os dois voluntários a realizar curiosas adaptações no uso.
- "Após passar um tempo com os dois participantes", assegurou, - "Fui me sentindo pouco a pouco impedido com minhas mãos de cinco dedos. Apesar de que o dedo extra incrementa o número de graus de liberdade que o cérebro deve controlar, não encontramos desvantagens com respeito às pessoas com cinco dedos", insistiu. - "Em resumo, é espantoso que o cérebro tenha suficiente capacidade para o fazer sem sacrificar nada mais. Isso é exatamente o que fazem nossos participantes."
Ainda que o resultado não possa ser extrapolado a todos os casos com dedos extras -em algumas pessoas não resultam funcionais-, mostra que a plasticidade cerebral tem um papel chave na adaptação deste membro extra e pode ajudar ao desenvolvimento de próteses robóticas no futuro.
Os autores acham que incorporar um adendo artificial a uma pessoa aumentará a carga neuronal em seu cérebro e que o desafio seria maior que nas pessoas que já nasceram com isso, mas é uma via que já começaram a explorar. No Plasticity Lab, do Reino Unido, uma equipe trabalha faz alguns anos em um projeto chamado "Third Thumb" ("Terceiro Polegar") criado pela pesquisadora Dani Clode.
Trata-se de um dedo protético impresso em 3D que é controlado com os dedos dos pés e pretende contribuir a melhorar o desenho deste tipo de prótese e compreender melhor os envolvimentos que tem para nossa maneira de manejarmos.
- "As pessoas com polidactilia oferecem uma oportunidade única para analisar o controle neuronal dos membros extras e as possibilidades das habilidades sensomotoras", concluem os autores.
No futuro, este conhecimento poderia ser utilizado não só para ajudar a pessoas que precisam de uma prótese porque perderam um braço ou uma perna, senão para melhorar a capacidade do ser humano para realizar determinadas tarefas. Em alguns anos, talvez, um terceiro braço poderia ser útil para um bombeiro que tivesse que resgatar pessoas e portar equipamento ou para um cirurgião que precise realizar uma operação sem ajuda.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários