Novo vírus achado em uma lagoa de BH é tão estranho que 90% de seus genes nunca foram vistos antes

A atualidade destes dias está tomada pelo coronavírus de Wuhan, mas não é nem muito menos o único vírus que debuta em 2020. No Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, uma equipe internacional de cientistas encontrou um novo tipo de vírus cujo DNA não coincide com nada que tenhamos visto antes. Os pesquisadores batizaram o recém chegado como Yaravírus em honra a Iara, a mãe das águas da mitologia brasileira. Trata-se de uma nova família de vírus gigante e, ao que se sabe, não supõe nenhum perigo para o ser humano.

Os vírus gigantes se diferenciam dos normais em que encapsulam uma enorme quantidade de material genético, que é por sua vez a razão de seu tamanho. Normalmente o genoma destes vírus sempre guarda surpresas para os biólogos, mas o Yaravírus é um caso bastante único.

Após analisar seu genoma e compará-lo com o de um banco de dados científicos com mais de 8.500 genes conhecidos, só apareceram seis resultados. Em outras palavras, 90% do genoma do Yaravírus nunca foi descrito dantes. De fato, se o Yaravírus fosse estudado seguindo os atuais processos de detecção de vírus nem sequer apareceria como tal.

Os resultados do estudo são preliminares e acabam de ser publicados na revista bioRxiv. Isto quer dizer que a cifra de genes órfãos -nome dado a este tipo de genes desconhecidos- poderia variar uma vez seja revisado mais a fundo, mas sem dúvida é elevadíssima.

Não é a primeira vez que aparece um microorganismo deste tipo. Faz dois anos a ciência apresentou-nos o Tupanvírus, outro vírus gigante achado em habitats aquáticos extremos. Ainda não sabemos se o Yaravírus poderia ser o primeiro de uma nova subespécie, ou uma anomalia única que se desenvolveu em um meio isolado.

Por enquanto, o Yaravírus é uma oportunidade única para a ciência, não só pelos dados que pode fornecer a nível genético, senão para seguir estudando os vírus gigantes e do tipo ameba, uma grande categoria de microorganismos do que conhecemos muito pouco e que correspondem a muitos dos vírus que periodicamente aparecem no permafrost da Sibéria.