O controverso caso de um professor coreano do ensino médio preso por assediar um aluno até a morte

Em 26 de abril de 2020, o professor de ética do Colégio Youngshin, na cidade de Pohang, Coreia do Sul, referido apenas como "A", por razões de privacidade pessoal, foi condenado por abuso infantil com uma sentença de 10 meses de prisão e teve sua licença de ensino suspensa por 5 anos. Seu crime: envergonhar um aluno da 9ª série na frente de toda a classe depois de pegá-lo lendo um romance mangá e fazendo com que ele acabasse com sua própria vida, por causa da humilhação.

A sentença do professor despertou ondas de choque nas mídias sociais sul-coreanas, com alguns usuários acusando o professor de bullying e outros expressando temores de que o caso estabelecesse um precedente que colocaria medo em outros professores, impedindo-os de serem rigorosos quando necessário.

Os trágicos eventos que levaram à morte prematura do jovem Kim Gun Woo se desenrolaram em 25 de março de 2019. Durante a aula de ética, ele foi pego lendo uma cópia de Wise Man's Child, um light novel de mangá do autor japonês Tsuyoshi Yoshioka, por seu professor. Uma investigação posterior revelou mais tarde que o próprio "A" havia pedido aos alunos que passassem a aula lendo, mas o professor de ética teve um problema com a escolha do material de leitura de Kim.

Depois de ver que as ilustrações do romance, que Kim Gun Woo haviam emprestado de um colega de classe, com garotas vestindo trajes de banho, ele levou o aluno para a frente da sala de aula e o repreendeu por ler um mangá atrevido, acusando-o de "olhar fotos de garotas safadas de biquíni". Como punição, ele fez Kim fazer flexões na frente de seus colegas por 20 minutos.

Quando a aula de ética terminou e seus companheiros saíram para pátio de educação física da escola, o humilhada Kim Gun Woo ficou para trás e rabiscou uma mensagem em seu livro de ética. Foi a última coisa que ele fez antes de pular de uma janela do 5º andar e acabar com sua própria vida.

- "Não quero mais viver ... Obrigado por dar a meus colegas uma desculpa perfeita para me provocar e intimidar. Você nem sabe o que são 'romances leves'. É uma subcultura inteira, mas você não se importa. Como você sabe que eles são inapropriados? Sei que não tenho culpa nisso ... mas você violou minha privacidade e me sinto completamente humilhado. Por favor, não repreenda o colega de classe que me emprestou o livro... ", dizia a mensagem final de Kim Gun Woo.

A polícia iniciou uma investigação sobre o trágico fim de Kim imediatamente e, em agosto de 2019, à luz das evidências descobertas, os pais de coração partido do menino apresentaram uma queixa contra "A". Um ano após a morte do estudante, a juíza Shin Jin Woo do tribunal distrital de Daegu deliberou o veredicto contra o professor de ética: 10 meses de prisão e suspensão por 5 anos da licença de ensino.

- "O acusado é culpado por abusar psicologicamente do aluno e levá-lo a tirar a própria vida. Além disso, considerando que o acusado não demonstrou interesse em se estabelecer com a família da vítima, o veredicto foi inevitável", disse a juíza sobre sua decisão.

Acontece que "A" não se arrependeu de suas ações e, em vez disso, culpa a família do garoto por deixar Kim ler "livros assim" na escola. Ele também defendeu seu histórico anterior, dizendo ao tribunal que - "...em todos os seus anos de ensino, Kim foi o primeiro a tirar a própria vida depois de ser confrontado."

A sentença provocou um acalorado debate nas mídias sociais sul-coreanas, com algumas pessoas elogiando o juiz e acusando "A" de bullying por envergonhar desnecessariamente Kim Gun Woo na frente de seus colegas, e outras alegando que o professor realmente não fez nada de errado.

- "Isso não é ensinar, é usar sua posição como professor para ser violento e abusivo", comentou uma pessoa.

- "O livro não é atrevido. É recomendado para maiores de 13 anos. Portanto, não há realmente nada errado com Kim lendo esse livro. Então, pessoalmente, não consigo entender por que o professor reagiu tão psicopaticamente", escreveu outra.

Mas também há quem defenda o professor e considera a sentença injusta.

- "Se a morte de Kim é culpa deste professor e ele merece 10 meses de prisão, o professor que eu tinha no ensino médio deveria ter sido condenado a morte", escreveu uma pessoa.

- "Isso limita escolas e professores a fazer o que precisam fazer. Sim, a bronca pode ter passado dos limites. Sim, o aluno pode ter se sentido humilhado e optado por tirar a própria vida. Mas culpar o professor e fazê-lo pagar o preço? Que tipo de veredicto é esse?" escreveu um usuário de mídia social indignado.

O caso de Kim Gun Woo voltou a chamar a atenção para questões delicadas, como vergonha e punição corporal, não apenas nas escolas sul-coreanas, mas em todo o mundo.