Cada cultura humana tem superstições e crendices. Em algumas sociedades asiáticas, as pessoas acreditam que varrer o chão após o pôr do sol traz azar e que é uma maldição deixar os hashis em uma tigela de arroz. Na maioria dos países do Ocidente, algumas pessoas entram em pânico se acidentalmente passam sob uma escada ou veem um gato preto cruzar seu caminho. Além disso, muitos edifícios altos nos EUA, por exemplo, não marcam seus 13º andares como tal por causa da associação desse número com o azar. |
O brasileiro é supersticioso por natureza, basta lembrar o excesso de rituais e simpatias realizados no réveillon: usar a roupa da cor específica, comer uvas e lentilha à meia-noite, usar roupas íntimas novas e pular sete ondinhas, só para citar algumas.
No entanto, existem várias outras crendices que os brasileiros seguem religiosamente todos os dias: além do medo de gato preto e contornar escadas, não pode varrer os pés, proibido chinelos ao contrário, espada de São Jorge e comigo-ninguém-pode ao lado da porte, souvenir de elefante para dar sorte, vassoura atrás da porta contra visitas, o famoso tim-tim!, São Longuinho... eu ficaria aqui escrevendo até amanhã de enumerasse todas.
As origens de muitas superstições são desconhecidas. Outras podem ser rastreadas em momentos específicos da história. Incluída nesta segunda categoria está uma superstição que tem entre 2.000 e 2.700 anos: quebrar um espelho traz sete anos de azar.
Acontece que tanto na Grécia antiga quanto no Império Romano, as imagens refletidas tinham poderes misteriosos. É provável que em um desses tempos e lugares que a superstição do espelho quebrado tenha começado sua popularidade.
Chega a ser engraçado as várias maneiras pelas quais as pessoas influenciam umas às outras, quando grupos geram crenças que são puras "construções sociais" sem necessariamente ter qualquer base na realidade. A superstição sobre espelhos quebrados pode estar enraizada nessas crenças antigas.
Os gregos acreditavam que o reflexo de alguém na superfície de uma piscina revelava sua alma. Mas foram os artesãos romanos que realmente aprenderam a fabricar espelhos com superfícies de metal polido e acreditavam que seus deuses observavam as almas por meio desses dispositivos. Danificar um espelho era considerado tão desrespeitoso que as pessoas pensavam que obrigava os deuses a dar azar a alguém tão descuidado.
Por volta do século III, os espelhos passaram a ser feitos de vidro e a quebra tornou-se muito mais comum. Mas os romanos não acreditavam que o azar resultante durava para sempre. Eles pensavam que o corpo tinha o poder de se renovar a cada sete anos.
A crença de que a boa sorte acabaria voltando era certamente reconfortante, e as pessoas sempre tenderam a acreditar em coisas que as faziam sentir-se bem, mesmo quando falsas.
A mente humana procura continuamente e inconscientemente por padrões úteis. Por exemplo, sobrevivemos reconhecendo os padrões de alimentação e nos colocamos nos lugares certos na hora certa para as refeições. Também evitamos ferimentos ou morte ao atravessar uma rua movimentada, reconhecendo os padrões de trânsito. Ser alimentado e evitar ser esmagado no tráfego envolve aprender padrões reais de causa e efeito.
Às vezes, no entanto, nossos cérebros inferem padrões de causa e efeito que não são reais. Suponha que um amigo lhe dê "1 Real da sorte". Você é cético, mas alguns dias se passam e nada de ruim acontece. Embora seja apenas uma coincidência, seu cérebro ainda pode inferir um padrão e você pode começar a acreditar que o Real causou a bonança. Uma superstição nasce.
Também adquirimos crenças supersticiosas durante a socialização, aprendendo sobre elas com os pais e outras autoridades de confiança enquanto ainda jovens e abertos a um mundo cheio de possibilidades mágicas. Então, nossas superstições circulam indefinidamente entre famílias e amigos, reforçadas pelo boca a boca, mídias sociais e meios de comunicação de massa. Quanto mais pessoas estiverem apoiando a superstição, mais confiável ela parecerá e mais tempo persistirá.
Se uma superstição nos tornar mais cautelosos ao redor de espelhos, não há mal nenhum nisso. De maneira mais geral, as superstições podem diminuir o estresse e melhorar o desempenho quando nos encontramos em situações difíceis. Elas também podem ser divertidas e interessantes para conversar e promover a solidariedade de grupo.
Por outro lado, é necessário proceder com cautela. Superstições são crendices, crenças falsas que muitas vezes podem produzir ansiedade e culpa. Elas podem nos fazer sentir responsáveis por resultados ruins que não causamos, ou desperdiçar nossa energia procurando atalhos insustentáveis para os resultados desejados.
O bom senso por si só deve ser razão suficiente para nos impedir de quebrar espelhos.
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