Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Communications revela alguns dos segredos genéticos do polvo-do-deserto (Welwitschia mirabilis, uma das plantas mais antigas do planeta e icônica do árido deserto de Namibe, entre Angola e Namíbia. Tal e como indica seu nome em africâner, "tweeblaarkanniedood" -que significa "duas folhas que não podem morrer"-, o polvo-do-deserto tem apenas duas folhas, que se alongam constantemente, em uma vida que pode durar milênios. |
A maior Welwitschia conhecida mede 1m4 de altura e mais de 4 de diâmetro. Via: Wikimedia.
- "Esta planta pode viver milhares de anos e nunca deixa de crescer. Quando deixa de crescer, está morta", sublinhou, em declarações ao New York Times, Andrew Leitch, geneticista de plantas da Universidade Queen Mary de Londres e um dos autores do estudo. De fato, acredita que algumas das espécies maiores têm mais de 3.000 anos.
Os pesquisadores, liderados por Tao Wan, botânico do Jardim Botânico Fairy Lake, em Shenzhen, na China, analisaram o genoma da planta para entender sua forma única, a longevidade extrema e a profunda resiliência.
Assim, concluíram que, faz aproximadamente 86 milhões de anos, durante uma época de maior aridez e seca prolongada na região -e possivelmente na formação do próprio deserto de Namibe- o genoma completo da Welwitschia se duplicou depois de um erro na divisão celular, já que o "estresse extremo" com frequência está associado com tais eventos de multiplicação.
No entanto, ter material genético em dobro tem um custo, segundo o cientista, que explica que a atividade - "...mais básica para a vida é a replicação do DNA, motivo pelo qual ter um genoma grande é importantíssimo manter a vida, especialmente em um meio tão inóspito."
Por outra parte, uma grande quantidade do genoma do polvo-do-deserto são sequências de DNA autoreplicantes "lixo" chamados retrotransposões, que viveram uma "explosão" de atividade faz um ou dois milhões de anos, provavelmente devido ao aumento do estresse por temperatura. Para combater isto, o genoma da Welwitschia experimentou mudanças epigenéticos generalizadas que silenciaram o DNA "lixo" através de um processo chamado metilação do DNA.
Este processo, junto com outras forças seletivas, reduziu drasticamente o tamanho e o custo de manutenção energética da biblioteca duplicada de DNA da Welwitschia, o que lhe deu um genoma muito eficiente e de baixo custo.
Ademais, enquanto a folha de uma planta média cresce desde as pontas de seu talo e ramos, a ponta de crescimento original do polvo-do-deserto morre, de maneira que suas folhas saem de uma área vulnerável da anatomia da planta chamada meristema basal, que fornece células frescas à planta em crescimento, aponta o estudo.
Uma grande quantidade de cópias ou uma maior atividade de alguns genes envolvidos com o metabolismo eficiente, o crescimento celular e a resistência nesta área podem ajudar a que continue crescendo mesmo sob um estresse ambiental extremo.
As lições genéticas da Welwitschia podem ajudar os humanos a produzir cultivos mais resistentes e menos sedentos em um contexto de aquecimento global.
Curiosamente, os mucubais, antigos povos que habitavam o Deserto de Moçâmedes, atualmente Namibe, apelidaram a planta de "tumbo", que significa "aberração da natureza". Eles também achavam que a planta era carnívora alegando que qualquer pessoa que tivesse contato com planta seria devorado por suas poderosas folha gigantescas.
Ela foi descoberta pelo austríaco Frederich Welwitsch, que esteve em Angola a serviço do governo português entre 1853 e 1861, ele foi o primeiro naturalista a dar conta daquela enorme planta, que emerge insolitamente do solo desértico com uma cabeleira de folhas largas, e que, na verdade, são apenas duas que se vão desfiando com o tempo.
O botânico Joseph Hooker, que denominou a espécie em homenagem ao seu descobridor, dizia que era a planta mais extraordinária e mais feia que conhecia. O próprio biólogo inglês Charles Darwin a chamava de "ornitorrinco do reino vegetal".
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