Como em geral acontece nas sedes dos Jogos Olímpicos, com Tóquio não foi diferente: a tentativa de ocultação de centenas de pessoas sem-teto em Tóquio. Alguns até afirmam que o governo japonês pediu explicitamente aos sem-teto que se "escondessem" para mostrar ao mundo uma Tóquio limpa. Segundo a BBC o governo japonês está expulsando os sem-teto das ruas para mostrar às equipe olímpicas e à mídia estrangeira um ambiente limpo no centro da cidade. |
Não foi suficiente fechar as portas dos grandes e pequenos parques de Tóquio, onde vivem principalmente os sem-teto, então mantiveram a iluminação forte à noite para que não pudessem dormir. As barracas perto de cada estação de metrô foram retiradas e uma grande cerca foi levantada ao redor do estádio para impedir o acesso dos desabrigados.
Em uma reportagem, o Ashai Shimbun relata que oficiais do governo iniciaram a fase final da "limpeza" das ruas antes da cerimônia de abertura dos jogos em 23 de julho, quando centenas de pessoas no centro da cidade receberam avisos de despejo, embora não tivessem endereços permanentes e nenhum lugar para ir.
Segundo diz o sociólogo Masato Kimura no vídeo logo acima, fiscais do governo metropolitano, perseguem os sem-teto nas áreas mais visíveis e movimentadas da cidade, pedindo que se escondam pelo menos durante as Olimpíadas.
Grupos de apoio a desabrigados se opuseram fortemente à política do governo contra os sem-teto, considerando-a "desumana e injusta", mas simplesmente não há outra forma de lutar contra o sistema. O Tsukuroi Tokyo Fund, um grupo de apoio aos sem-teto, diz que as autoridades adotado abordagens mais coercitivas contra os moradores de rua desde 2013, quando Tóquio foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2020.
Esforços para "limpar" o que os governos consideram uma praga urbana precederam todas as Olimpíadas recentes, incluindo as de Pequim, Londres e Rio de Janeiro. No entanto, o governo japonês insiste que não há evidências de despejo forçado ou realocação dos desabrigados com base nos Jogos Olímpicos. A justificativa das autoridades é que estão tentando realocar estas pessoas para um abrigo.
O problema é que as instalações dos abrigos são muito precárias e vulneráveis à infecção por covid-19 porque acomoda muitas pessoas em um pequeno espaço.
Há cerca de dois anos, Yamada, um homem de 62 anos mostrado no vídeo acima, pediu demissão por causa de problemas de relacionamento. Gastou todas as suas economias e acabou indo viver nas ruas. Ele recebeu a primeira de suas ordens de despejo quando vivia perto do prédio do governo metropolitano de Tóquio, no distrito de Shinjuku. A nota não apenas aumentou o desânimo do sem-teto, senão que também esvaziou seu outrora elevado espírito olímpico.
Amante dos esportes, em 2016, ele estava assistindo à Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas do Rio de Janeiro pela TV em seu apartamento quando o então primeiro-ministro Shinzo Abe despontou no papel de Super Mario dizendo que - "Tóquio é a próxima!"
Naquele então o homem ficou exultante, mas agora, devido a idade, não consegue encontrar emprego e depende de grupos de apoio para se alimentar. As Olimpíadas antes brilhantes representam uma crise existencial para ele.
- "Para onde devo ir?", se pergunta o homem sem-teto e sem rumo.
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