Em um parque de vida silvestre no leste da Índia, os tigres apresentam uma variedade de pelagem. Em particular, alguns têm listras escuras muito grossas. Há um par de anos, uma equipe de geneticistas da Índia e Estados Unidos identificaram uma mutação genética que explica porque alguns deles são tão escuros. Os tigres são pseudomelanísticos, o que significa que têm listras largas e fundidas ao longo de seu corpo. Supostamente também deveria existir um tigre melanístico, como a onça-preta, mas sua existência nunca foi confirmada. |
Um tigre-negro pseudomelanístico na Índia.
Isso não deve ser confundido com os tigres leucísticos, que são brancos com listas negras devido a um característica pouco comum diferente, o leucismo. Desde alguns ângulos, os tigres pseudomelanísticos são bem escuros, daí seu apelido de tigres-negros.
Mais de um terço dos tigres da Reserva de Tigres de Similipal são pseudomelanísticos. Dirigido por Vinay Sagar do Instituto Tata de Pesquisa Fundamental, a equipe realizou um estudo genético de 85 tigres em quatro subespécies para descobrir a diferença, a nível molecular, desses animais. Seus achados foram publicados neste mês nas atas da Academia Nacional de Ciências.
- "Os tigres pseudomelanísticos têm uma mutação em seu gene Taqpep -como os humanos, os tigres têm duas cópias de cada gene e ambas cópias estão mutadas em tigres pseudomelanísticos- e sem Taqpep o processo de estabelecimento de padrões é defeituoso, o que leva a uma ampliação e ocasional fusão de listas", disse Greg Barsh, geneticista da Universidade de Stanford e do Instituto HudsonAlpha de Biotecnologia.
A análise da equipe descobriu que todos os pseudomelanísticos tinham uma única variante de nucleotídeo em seu código genético, que parecia alterar um gene específico. Esse gene se chama Aminopeptidasa Q de Transmembrana (Taqpep pára abreviar), e é o mesmo gene que é responsável pelas manchas e padrões de listras nos tigres, leopardos e guepardos, como descobriram os membros da equipe de pesquisa atual em 2012.
Hoje sabemos de oito subespécies de tigre, mas três foram declaradas extintas, segundo o Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos EUA. Todas as subespécies existentes estão em perigo de extinção, e os poucos tigres em cativeiro lutam com os problemas que surgem quando há uma pequena quantidade de animais que tentam manter a diversidade genética de uma espécie inteira. É por isso que a conservação não é tão simples como criar tantos animais em perigo de extinção quanto seja possível.
- "O total de números para uma espécie não é suficiente", disse Uma Ramakrishnan, cientista do Instituto Tata de Pesquisa Fundamental. - "Em geral, a quantidade de tigres aumentou. Mas muitas populações de tigres em sua área de distribuição seguem sendo pequenas e isoladas e, portanto, estão sujeitas a deriva genética ou mudanças fortuitas na frequência dos alelos e da endogamia. Ainda estamos aprendendo sobre o futuro dessas populações."
Um guepardo-rei com um padrão de pelagem recessiva.
Os fenótipos recessivos de Taqpep estiveram presentes em mais da metade dos tigres que vivem na reserva de Similipal. Inclusive os tigres brancos podem ter a característica, deixando alguns dos animais com um aspecto um pouco mais escuros. A população de tigres parece ser endogâmica, o que poderia explicar a presença da particularidade em tantos animais.
- "A maioria das mutações de cor tendem a afetar todo o corpo, como o albinismo ou o melanismo, motivo pelo qual as mutações que afetam o padrão de cor são especialmente interessantes desde uma perspectiva científica porque nos ajudam a compreender mais sobre a biologia do desenvolvimento", disse Greg.
A peculiaridade de listas largas não é necessariamente prejudicial: a equipe de pesquisa disse que se o aspecto não se devia simplesmente à endogamia, poderia ser devido a algum benefício evolutivo.
De esquerda a direita: uma tigresa leucística, um tigre pseudomelanístico leucístico, um tigre pseudomelanístico e dois tigres comuns.
Eles também fazem referência ao caso das onças-pretas e leopardos melanísticos, que aparecem com maior frequência em bosques tropicais densos e escuros que em ambientes abertos mais secos. Se for uma especificidade evolutiva, é possível que percam parte de sua cor laranja para se misturar melhor com o entorno selvagem.
Qualquer que seja a lógica evolutiva que possa estar sustentando as listas dos tigres, é um lembrete de que os pelagens dos animais nunca devem ser vistas como a pele.
Em 2013, ocorreu o primeiro registro do mundo de uma onça-parda com leucismo, fotografada por pesquisadores do ICMBio, no Parque Nacional Serra dos Órgãos, em Petrópolis. A foto só foi divulgada em 2018 pois fazia parte de um estudo que foi publicado apenas em 2018 no na revista científica Cat News.
Isso faz pensar que assim como o tigre melanístico, é bem provável que exista uma onça pseudomelanística perambulando aí pelas florestas, mas que nunca foi avistada.
E para terminar este artigo, vamos lembrar daquelas fotos impressionantes de um leão-negro, que circularam nas redes sociais como fogo morro acima, em 2017. Elas atraíram tanto interesse que, os especialistas em zoologia tiverem que correr para as redes sociais para informar que leões negros simplesmente não existem. Se existissem, e fossem totalmente da cor preta, provavelmente seriam espécimes melanísticos, análogos, senão homólogos geneticamente, às onças-pretas e aos indivíduos totalmente negros mutantes de outras espécies de felinos.
Infelizmente, para aqueles que esperavam que essas fotos representassem alguma descoberta criptozoológica fantástica como o da onça-parda leucística brasileira, a realidade, como acontece cada vez com mais frequência hoje em dia, é que elas nada mais são do que imagens "fotochopadas".
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