Tanto Oriente Médio, como África do Norte são as regiões mais cálidas e secas do planeta, mas a mudança climática poderia fazer com que algumas áreas sejam inabitáveis nas próximas décadas com temperaturas que potencialmente atinjam os 60 °C ou mais. As repercussões na região do Oriente Médio e Norte da África (MENA, por suas siglas em inglês) seriam devastadoras, incluída a escassez crônica de água, a incapacidade de cultivar alimentos devido ao clima extremo e a seca constante, além de um aumento nas mortes e os problemas de saúde relacionados com o calor. |
Pessoas do sul de Madagascar comem gafanhotos para sobreviver ante a crise causada por vários anos consecutivos de seca
Para o ano 2100, ao redor de 600 milhões de habitantes; 50% da população da região, poderiam estar expostos a eventos climáticos super extremos se forem mantidas as projeções atuais de gases de efeito estufa, assinalou um estudo recente na revista Nature.
Com durações de semanas ou inclusive meses, o calor abrasador seria potencialmente mortal para os seres humanos, disse.
- "Antecipamos que a temperatura máxima durante ondas de calor em alguns centros urbanos e cidades super povoadas em MENA poderia atingir ou inclusive superar os 60 °C, o que seria tremendamente prejudicial para a sociedade", escreveram os cientistas.
No seguinte vídeo você acompanha como Joy e sua família estão entre os dois milhões de nigerianos que vivem a menos de 4 km de uma queima de gás no sul da Nigéria. As mudanças climáticas provocaram um impacto devastador no país, onde terras, antes férteis, estão se desertificando.
A indústria petrolífera do país ainda piora mais as coisas, pois a prática da queima do gás natural que é liberado quando o petróleo é extraído do subsolo é comum, apesar de sua ilegalidade, porque também desprende gases de efeito estufa na atmosfera.
George Zittis, autor do estudo, disse que uma maior umidade devido a maior evaporação dos mares aumentará ainda mais o perigo.
- "O estresse por calor durante os verões atingirá ou excederá os limites da sobrevivência humana, ao menos em algumas partes da região e durante os meses mais quentes", disse George. Os principais centros urbanos ao redor do Golfo, Mar Arábico e Mar Vermelho, como Dubai, Abu Dhabi, Doha, Dhahran e Bandar Abbas, sofreriam temperaturas altas com maior frequência.
O MENA está se aquecendo em um ritmo duas vezes mais rápido que a média mundial. Um dos países da região, o Kuwait, foi o lugar mais quente da Terra em julho de 2021, com temperaturas que superaram os 53 ºC. Entre 1950 e final do ano 2000 o país teve um aumento de um grau na temperatura média, uma mudança muito rápida e assustadora.
Para piorar ainda mais, o país tem 100% de sua matriz energética e 89% de suas importações vindas de combustíveis fósseis, que impulsionam as mudanças climáticas em todo o mundo.
Os habitantes tentam encontrar soluções que possam amenizar o grande problema, mas já vislumbram um futuro que pode muito bem tornar seu país inabitável.
- "As cidades sentirão um efeito de cápsula de calor cada vez maior e a maioria das capitais do Oriente Médio poderiam enfrentar quatro meses de dias extremamente calorosos a cada ano", segundo o Banco Mundial. Ao redor de 70% dos países com maior estresse hídrico do mundo são parte de MENA. À medida que o clima esquenta ainda mais, as consequências sociais e econômicas serão intensas.
Mais de 12 milhões de pessoas na Síria e Iraque estão perdendo o acesso a água, alimentos e eletricidade devido ao aumento das temperaturas, níveis recorde de chuvas e da seca, que estão privando às pessoas em toda a região de água potável e prejudicando a agricultura.
Um agricultor contempla a carcaça de uma vaca morta falecida em consequência da severa seca no Zimbábue.
A Síria, atualmente, está enfrentando a sua pior seca em 70 anos. Os grupos de ajuda sanitária descreveram a situação como uma "catástrofe sem precedentes".
- "Espera-se que a potencial intensificação das ondas de calor tenha impactos negativos diretos na saúde humana, na agricultura, no nexo entre a água e a energia e muitos outros setores socioeconômicos", disse Paola Mercogliano, diretora da Fundação CMCC. Já se culpou à crescente escassez de água por desencadear conflitos regionais, e alguns pesquisadores temem que a luta pelos escassos recursos se intensifique em MENA à medida que o mundo fique ainda mais quente.
- "Os impactos sociais podem ser relativamente grandes. Ademais, há previsões que a população humana da região MENA atinja seu ponto máximo ao redor do ano 2065", disse Paola. - "Portanto, a ameaça para o fornecimento de água na região com o aumento das temperaturas é muito grave."
O Iraque, por exemplo, é um dos países mais vulneráveis e complicados do mundo quando o assunto é clima. Somente no verão de 2021, o país registrou 26 dias com temperaturas acima de 50 ºC.
O xeque Kezem Al-Kaabi mostrado no vídeo abaixo está sofrendo diretamente as consequências dessa situação. Ele luta para continuar cultivando a terra que foi de seus ancestrais, e enfrenta uma escassez de água sem precedentes, que diminuiu o nível do rio Tigre e secou a maioria dos canais de irrigação. Ainda assim ele fala em insistir.
A escassez de água também será uma carga financeira com estimativas que sugerem que MENA sofrerá mais do que qualquer região do mundo, o que custará aos governos entre 7% e 14% de seu produto interno bruto em 2050.
O setor agrícola, que proporciona a maior quantidade de postos de trabalho no Oriente Médio e África do Norte, poderia também se ver devastado com uma diminuição da disponibilidade de água de até 45%. Espera-se que a produção de alimentos sofra severamente como resultado com aproximadamente um terço da terra cultivável queimada pelo calor extremo. Com o aquecimento da Terra já muito avançado, vão ser necessárias medidas de adaptação caras.
Agricultora afetada pela seca na África
Por seu lado, o Líbano está desenvolvendo lagos nas colinas para conservar e alojar água para irrigação. No Egito, estão realizando esforços para construir quebra-mares para preservar os banhados e as instalações costeiras da intrusão de água de mar. Na Jordânia, as águas residuais tratadas agora são utilizadas para regar áreas agrícolas.
Para os muçulmanos de todo mundo, participar no Hajj requererá inovações altamente adaptáveis para proteger os peregrinos das condições de queima. Estima-se que entre dois e três milhões de muçulmanos realizam o Hajj a cada ano e cada um passa de 20 a 30 horas ao ar livre nos elementos durante um período de cinco dias. O Hajj é uma peregrinação até Meca, Arábia Saudita, a cidade sagrada, que dura 5 dias.
- "Os níveis de estresse por calor poderiam exceder os limites de perigo extremo", disse George, sobre futuras peregrinações a Meca. Os pesquisadores coincidem em que se as emissões de gases de efeito não diminuírem de forma urgente e rápida, a situação na região MENA será impossível nas próximas décadas. De fato, algumas regiões, sobretudo as localizadas próximas a desertos já estão sendo abandonadas.
Como grande parte da Mauritânia está no deserto do Saara, o calor sempre fez parte do cotidiano da população, mas agora, as temperaturas estão se tornando insuportáveis, levando muitos moradores a procurar novas paragens com clima mais ameno. A desertificação devido ao aquecimento global também acaba expulsando os agricultores de suas terras, que são engolidas pela areia.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários