As ilusões visuais nos lembram que não somos decodificadores passivos da realidade, mas intérpretes ativos. Nossos olhos capturam informações do ambiente, mas nosso cérebro pode nos pregar peças. A percepção nem sempre corresponde à realidade. Os cientistas usaram ilusões por décadas para explorar os processos psicológicos e cognitivos subjacentes à percepção visual humana. Mais recentemente, estão surgindo evidências que sugerem que muitos animais, como nós, podem perceber e criar uma série de ilusões visuais. |
Entender onde essas ilusões surgem em diferentes cérebros pode nos ajudar não apenas a aprender mais sobre como percebemos nosso mundo, mas também como outros animais percebem o deles.
Em um estudo realizado em 2020 na Proceedings of the National Academy of Sciences, por exemplo, pesquisadores da Universidade Yale, em New Haven, Connecticut, mostraram que as moscas-das-frutas, como os humanos, podem ser enganadas ao ver movimento em uma imagem onde não há, como as ilusões cinéticas, bem conhecidas para neurocientistas e psicólogos.
Além disso, ao rastrear e manipular neurônios em áreas de processamento visual do cérebro das moscas enquanto observavam a ilusão, eles foram capazes de determinar que a ilusão resulta de pequenos desequilíbrios nas contribuições de diferentes tipos de neurônios de detecção de movimento.
É possível que o mesmo mecanismo neural esteja em ação quando humanos e outras espécies também veem movimentos ilusórios, de acordo com o principal autor Damon Clark, professor de biologia molecular, celular e de desenvolvimento da Universidade de Yale.
- "O último ancestral comum de moscas e humanos viveu há meio bilhão de anos, mas as duas espécies desenvolveram estratégias semelhantes para perceber o movimento", disse Damon. "Entender essas estratégias compartilhadas pode nos ajudar a entender melhor o sistema visual humano."
Existem inúmeros exemplos que mostram que muitos animais não apenas podem perceber as mesmas ilusões que os humanos, mas também podem criar e usar ilusões para enganar os outros.
E não são apenas as moscas-da-fruta e os humanos – a pesquisa mostrou que macacos, gatos e peixes podem ser enganados para ver movimento onde não há.
Alguns pesquisadores estão estudando se o movimento ilusório pode ser usado para enriquecer a vida dos animais do zoológico. Em 2019, pesquisadores italianos apresentaram leões em cativeiro com a ilusão cinética. Dois de cada três leões interagiram com a ilusão como se estivessem movendo a presa, mordendo-a e arrastando-a pelo recinto.
Os pesquisadores também relataram melhorias no bem-estar, incluindo comportamentos mais pró-sociais e menos comportamentos estereotipados nas leoas.
Os pesquisadores dizem que querem tentar isso com mais animais em cativeiro para ver se as ilusões podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar seu bem-estar.
Os cientistas estão descobrindo que mais espécies de animais do que as conhecidas anteriormente podem perceber as mesmas ilusões visuais que nós. O truque é encontrar uma maneira de descobrir o que eles veem.
Christian Agrillo, psicólogo da Universidade de Pádua, na Itália, decidiu buscar evidências de ilusões visuais em répteis, um grupo de animais pouco estudado no que diz respeito à percepção de ilusões. No primeiro experimento de sua equipe, eles investigaram se os dragões-barbudos (Pogona barbata) percebem a ilusão de Delboeuf.
Nessa famosa ilusão, um círculo sólido parece ser maior ou menor dependendo do tamanho do círculo que o circunda. Em um exemplo real disso, as pessoas que comem em pratos pequenos tendem a pensar que suas porções de comida são maiores do que realmente são. Ao testar se os lagartos também caem nessa ilusão, Christian diz que jogou com os pontos fortes de seus sujeitos: o amor pela comida.
- "Você não precisa treinar o animal. Você apenas observa sua preferência espontânea pela maior quantidade de comida", diz ele. - "Se forem enganados pela ilusão, devem preferir a comida apresentada em um prato menor à mesma quantidade de comida em um prato maior."
Foi exatamente isso que os dragões barbudos fizeram, sugerindo uma sensibilidade à ilusão. A verdade é que quanto mais os cientistas procuram –no laboratório e na natureza– mais semelhanças encontram entre a forma como os humanos e os animais percebem o mundo.
É um lembrete de que, embora possamos ser tão diferentes quanto o Homo sapiens e as moscas-da-fruta, nossos mundos subjetivos podem ser mais parecidos do que se pensava.
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