A sociedade contemporânea se jacta de ser livre e encarnar uma espécie de progresso moral e intelectual. No entanto, é difícil encontrar uma época na história na qual se tenha proibido e cancelado tantos intelectuais e artistas de uma maneira tão vazia e irracional. Lógico, após o nazismo muitos autores foram "cancelados", mas geralmente isso foi por associação direta com o nazismo ou porque suas ideias pareciam ter um vínculo com o fascismo. Nessa época também existiam a ignorância e a manipulação: um autor como Nietzsche foi censurado por um tempo em alguns países por ter sido admirado pelos nazistas pese a que suas ideias, bem lidas, não eram fascistas. |
Com a invasão de Vladimir Putin à Ucrânia estamos vendo como o Ocidente combate a Rússia com sanções. A sociedade ocidental, contemplando permanentemente o stream de imagens de guerra, vendo como os ucranianos sofrem terrivelmente, procura unir mediante uma espécie de sofativismo, cancelando tudo o que tenha a ver com a Rússia.
Vemos desde indivíduos que se gravam jogando vodca "russa" no lixo -que em realidade é feita na Europa- até organismos que proíbem a participação de atletas russos, instituições artísticas que cancelam as apresentações de artistas russos ou universidades que cancelam cursos de autores como Dostoievski.
A cultura do cancelamento, tão em voga na sociedade politicamente correta, anula de um brochada só tudo o que não se ajusta a seus valores ultraliberais e igualitários. Mais ainda, este cancelamento já não requer de um organismo repressor; a polícia do pensamento está interiorizada pelos indivíduos e funciona de maneira coletiva através das hordas que patrulham das redes sociais, onde vivem o que Nietzsche chamava "a mentalidade de rebanho" e Platão de "a Grande Besta".
Não deveria ser necessário dizer que é possível ser totalmente contrário ao que está fazendo o presidente russo tirano sem censurar ou anular a cultura russa. Pelo contrário, é difícil pensar em outro momento melhor que este para se aproximar à profunda e complexa cultura russa e entender um fenômeno que não é branco e preto, como se costuma pintar nos meios ocidentais. Também porque a cultura russa é especialmente rica em obras de uma enorme profundidade espiritual.
Devemos rechaçar a guerra e o conflito, não o direito de ser e existir fora do establishment. O problema é o regime, o problema é o celerado ensandecido, não as pessoas que nasceram lá. As pessoas não são Putin!
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Comentários
Acho que as pessoas já estão mais conscientes de que o verdadeiro inimigo não é o povo russo, mas sim o Putin, sua gangue e parte da esquerda que está apoiando e defendendo as atitudes dele.