Jesus Aceves, mais conhecido como Chuy gera uma mistura de surpresa e susto cada vez que sai à rua mas, desde pequeno, se acostumou aos olhares indiscretos e insultos. Uma estranha condição genética chamada hipertricose lanuginosa, popularmente conhecida como Síndrome do Lobisomem, deixa seu rosto coberto de pelos com um aspecto de "homem lobo" que quase ninguém aceita. Quando criança, na escola, se perguntava porque Deus havia feito isso com ele, quando seus colegas debochavam dele, puxavam os pelos ou faziam piadinhas sobre como uivava sob a luz da lua. |
Sair para fazer compra, encontrar trabalho, fazer amigos ou ter uma namorada pode ser um verdadeiro problema para quem padece de hipertricose. Por isso ele nunca se deu bem com a escola, aos 13 anos se refugiou na bebida e começou a trabalhar no circo aos 16 junto a dois de seus primos, que também padecem de hipertricose, da qual só documentaram uns 50 casos em toda a história.
Treze deles -sete homens e seis mulheres- pertencem à família de Chuy, originária de Loreto, no estado mexicano de Zacatecas, que herdou de sua bisavó esta rara mutação genética que não tem outro sintoma que o crescimento excessivo de pelos por todo o corpo.
Chuy barbeou o rosto duas vezes para programas de televisão, mas não gostou do que viu. Sem estudos e um aspecto que só lhe fechava portas, por anos, Chuy não viu outra opção do que ganhar a vida se exibindo nos circos por oito dólares ao dia. Isso também acabou ferindo sua autoestima.
Por outro lado foi ali onde conheceu sua esposa Azucena, o amor de sua vida, com quem tem uma filha, Karla (acima), que herdou uma forma mais leve da doença. Jesus e Azucena agora vivem felizes juntos em Chihuahua e ele diz que ela o fez se sentir aceito por quem ele é.
Como dá para imaginar, Karla também sofre com a condição e com os insultos de pessoas intolerantes:
- "Ela diz que deveríamos viver na floresta, como o que somos: animais". De toda uma vida de agressões, esse comentário é o que mais atinge Karla. E não porque seja especialmente duro demais, mas porque está acostumada a ouvi-lo quase todos os dias, há 26 anos, da vizinha da casa dos Aceves na localidade de Loreto.
- "É uma pressão constante", explicou Karla. - "As crianças mal podem sair na rua."
Farto dos deboches e da discriminação de uma sociedade que não mudou em 200 anos, após o casamento Chuy decidiu deixar os complexos, o álcool e levantou a cabeça. A alternativa que a família encontrou para sobreviver é usar sua condição rara para ganhar dinheiro em circos e outros tipos de shows de entretenimento no México e em outros lugares do mundo.
Para os homens, os pelos excessivos da hipertricose é um estigma, mas mais ainda para as mulheres, que costumam ser abandonadas por seus parceiros uma vez que ficam grávidas. Em 2012, na China, uma garotinha foi abandonada pelos pais em um orfanato por causa da doença, posteriormente resgatada por seu tio
No México, o caso de Chuy leva inevitavelmente o imaginário coletivo à triste história de Julia Pastrana, uma mulher indígena de Sinaloa com hipertricose e traços simiescos que foi exibida na Europa do século XIX como a "mulher-macaco" ou "a mulher mais feia do mundo".
Um empresário safardana exibia a esposa em troca de dinheiro e inclusive mumificou a esposa e filho quando morreram para vender à Universidade de Moscou. De forma macabra, seu corpo embalsamado acabou fazendo parte de uma exposição de casos estranhos na Noruega e só em fevereiro de 2013 seu corpo foi enterrado respeitosamente em sua terra natal.
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Ah, claro. Canal "Truly". A epítome do bizarro.