Como material de construção, a areia resistiu ao teste do tempo. Em 3.500 a.C., os antigos egípcios e mesopotâmios usavam areia, formada principalmente quando o vento e a água trituravam rochas em grãos ricos em sílica, para fazer vidro. Hoje, construtores de todo o mundo usam o recurso natural, encontrado em pedreiras, rios, lagos e oceanos, para muitos de seus materiais e com um boom global de construção, a demanda por areia disparou. É usada em tudo, desde filtros de piscinas, fundições de metal e poços de petróleo até telas de smartphones e cremes dentais. |
No entanto, para a construção civil não é possível utilizar qualquer tipo de areia por diversos motivos. As areias do mar e do deserto dificilmente atendem as especificações tradicionais para uso como material de construção. A grande maioria da areia coletada vai para a produção de concreto e, para esse propósito, os grãos de areia do deserto têm o formato errado. Como são corroídos pelo vento e não pela água, são lisos e arredondados demais para se aglutinarem e formarem um concreto estável.
As areias do deserto, após o intemperismo, também contêm uma estruturação aberta que promove pouca interligação entre os grãos. Se for mantida seca, esses "elos de ligação" podem fornecer uma resistência considerável ao rolamento. Por outro lado, se for molhada, os "elos" amolecem e, quando sobrecarregados, se quebram e desmoronam.
A areia do mar também tende a ser muito fina e arredondada. Ademais, na água do mar, há uma abundância de sal, que causa a corrosão do aço e do ferro; ou seja, uma estrutura construída com esse material não seria nem um pouco sustentável. A areia do mar também não tem boa resistência à compressão, o que inviabiliza seu uso em atividades de construção.
E como Dubai vive um frenesi da construção e faz questão de criar paisagens arquitetônicas raras, a demanda por areia é extremamente alta. Na construção da torre mais alta do mundo, Burj Khalifa, Dubai utilizou cerca de 820.000 toneladas de concreto, dos quais pelo menos 40% da matéria-prima é areia. Em 2020, Dubai construiu um total de 12 arranha-céus.
O problema é que a demanda por areia está distribuída de forma desigual em todo o mundo. Os booms de construção na China e na Índia aumentaram a necessidade de areia nesses mercados. Globalmente, a China responde por um quinto das importações de areia do mundo, de acordo com o Departamento de Estatísticas do Comércio das Nações Unidas .
Por causa do desenvolvimento frenético de novas barragens, estradas, edifícios e fábricas, o país usou mais areia nos últimos quatro anos do que os EUA no século passado. A China tem empilhado enormes quantidades de areia em recifes para criar novas ilhas e expandir sua base no Mar da China Meridional.
Ainda que o uso da areia despencou em 2020 devido a pandemia de covid-19, em 2019 foram usadas de 40 a 50 bilhões de toneladas no mundo, de acordo com estimativas das Nações Unidas. Um bem não renovável, a estimativa é que sejam necessários milhões de anos de atritos entre rochas para criar o que conhecemos como areia. Cada grão é parte deste processo de erosão milenar e possuí características e usos específicos.
Afora o perigo de esgotamento do recurso, o consumo desenfreado pode ainda desequilibrar o meio ambiente. A ONU indica como exemplo a retirada da areia em regiões que são habitats de caranguejos, o que pode acabar com o sustento de povoados inteiros no Camboja, que é um dos principais polos de extração de areia no mundo. A extração também reduz a sedimentação de rios, o que pode levar à erosão de praias.
Outro problema é a extração ilegal, que está ligada até ao fortalecimento de milícias armadas no Brasil, criando a "máfia da areia". Em Bangladesh, por exemplo, A mineração ilegal de areia está criando uma crise ecológica.
A boa notícia é que há pesquisas de ponta elaborando alternativas para reciclá-la e mantê-la para as próximas gerações.
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