Não me lembro quando ouvi pela primeira vez sobre prisões abertas na Finlândia, mas fiquei imediatamente intrigado com o fato de um sistema de justiça criminal permitir que os presos saíssem diariamente para trabalhar ou estudar. Os abolicionistas das prisões imaginam uma sociedade que não coloca as pessoas em jaulas, argumentando que as prisões não podem ser reformadas e que todo o sistema deve ser desmantelado. Por definição, as prisões abertas não são abolicionistas, mas estão reimaginando a prisão. Um terço das prisões da Finlândia funcionam em regime aberto. |
Prisão de Vanaja em Hämeenlinna.
A Finlândia foi classificada como o país mais feliz do mundo por três anos consecutivos. Os cidadãos da nação escandinava desfrutam de benefícios públicos em geral: assistência médica universal, creche subsidiada e universidades gratuitas. Então talvez não seja surpresa que os prisioneiros da Finlândia também sejam alguns dos mais felizes.
No sistema de "prisão aberta" da Finlândia, não há portões ou fechaduras, os presos entram e saem em seus próprios carros. Em vez de blocos de celas com grades e fechaduras, os detentos ficam em dormitórios equipados com acesso à internet e, por diversão, na prisão, podem dar mergulhos recreativos em um lago congelado.
O modelo é visto como bem-sucedido porque não levou a um aumento da criminalidade. A reabilitação é a filosofia. Hämeenlinna, uma cidade no sul da Finlândia e a uma hora de trem de Helsinque, abriga a prisão masculina de Vanaja (foto acima). Antiga colônia de trabalhadores, tornou-se prisão aberta na década de 1990. Ao lado há uma fazenda, e um dos prisioneiros é o zelador das ovelhas.
A terra é extensa e verde, e os 50 prisioneiros caminham desacompanhados, usando monitores eletrônicos, mas sem correntes. Um prédio branco de dois andares que abriga os internos lembra um dormitório ou um albergue.
As prisões abertas permitem que os presos saiam para estudar ou trabalhar. Os serviços gerais incluem um assistente social e aulas sobre abuso de substâncias ou controle da raiva. Devido à sua pequena população, a unidade está apta a oferecer orientação individualizada aos homens.
Todas as refeições são preparadas pelos detentos e todas as sextas-feiras uma van branca sem identificação os leva ao supermercado. Os prisioneiros têm telefones celulares e contas bancárias. Eles lavam suas próprias roupas e podem até pedir pizza para viagem.
O sistema penal finlandês não faz distinção entre crimes violentos e não violentos. As prisões abertas são para aqueles que cometeram fraude de colarinho branco e homicídio. Mika, por exemplo, está cumprindo pena de prisão perpétua por assassinato. Uma sentença de prisão perpétua na Finlândia é de 15 anos, com elegibilidade para liberdade condicional depois de ter cumprido 12 anos. Mika foi transferido para a prisão aberta de uma fechada por bom comportamento e sobriedade. Ele planeja ser um jardineiro uma vez (se) liberado.
Prisioneiros em prisões "fechadas" mais convencionais podem solicitar permanência em uma das 11 prisões abertas da Finlândia. E os defensores dizem que esse modelo é fundamental para reabilitar prisioneiros e reduzir suas chances de acabar atrás das grades novamente após sua libertação.
Graças a este modelo, apenas um em cada quatro presos finlandeses libertados voltou à prisão, em comparação com 42,5% dos presos brasileiros e 43% nos Estados Unidos.
A releitura de como devia ser a prisão na Finlândia começou há quase 70 anos, quando o país começou a construir um dos sistemas prisionais mais humanos do mundo. Em algumas de suas últimas etapas, a agência de sanções criminais da Finlândia está investindo pesadamente em treinamento em tecnologia.
E pelo menos uma empresa finlandesa está indo além: a startup de IA Vainu paga prisioneiros para treinar seus algoritmos. Cerca de 250 prisioneiros trabalham atualmente para a Vainu, ganhando 16 reais por hora para realizar tarefas como rotular nomes de empresas em artigos comerciais.
O governo finlandês estima que manter prisioneiros em estabelecimentos abertos custa cerca de 30% menos do que em prisões fechadas.
É uma das muitas maneiras pelas quais a Finlândia está ajudando os presos a recomeçar suas vidas após a prisão.
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