Lavamos nossas mãos, rosto, pés e cada centímetro de nosso corpo quando fica sujo. Então por que as pessoas ainda discutem se as bundas devem ser limpas ou lavadas? A bunda é talvez uma das áreas mais vulneráveis do corpo humano. Por que nossos traseiros são examinados de maneira diferente quando se trata de limpeza? Existem duas escolas de pensamento quando se trata da higiene do bumbum. Algumas diferenças ocorrem devido à formação cultural, aceitação, indiferença geral da sociedade, ou mesmo com base no suposto impacto que cada método respectivo tem sobre o meio ambiente. |
Pode parecer estranho para os ocidentais, mas há muitos países onde o uso de bidês, chuveirinhos (também conhecidos como bidês de mão) e baldes de água são comuns. Na Índia, por exemplo, existe inclusive a "regra da mão esquerda", que você nunca deve utilizar para cumprimentar os indianos. Se for fazer isso, utilize sempre a mão direita, porque em muitos lugares por lá, incluindo hotéis de renome, não há papel higiênico. Assim os indianos usam a mão canhota para limpar e lavar o traseiro.
De fato, indianos podem ficar perplexos como as pessoas podem simplesmente limpar seus traseiros e continuar seu dia como se não tivessem vestígios de matéria fecal remanescentes em ou perto de suas bundas. A falta de cuidados higiênicos associados à limpeza pode levar a algumas consequências desagradáveis para a saúde. As infecções do trato urinário são a ocorrência mais comum.
Ao usar um pedaço de papel higiênico seco para limpar a sujeira, você não está apenas espalhando pequenas partículas de merda, também está convidando uma horda de bactérias para chamar sua bunda de lar. Claro, usar um lenço umedecido é um pouco melhor. Mas nada se compara à sensação ultra-limpa e refrescante que você sente depois de usar um bidê.
O uso de bidês remonta à França do século XVIII e era reservado para a realeza e aristocratas. A limpeza e o acesso à água potável eram considerados um privilégio, por isso parecia apropriado que a realeza francesa pudesse ter fundos relativamente limpos em comparação a seus colegas camponeses. Embora o inventor oficial do bidê seja contestado, a maioria dos historiadores cita evidências de um tal Christophe Des Rosiers -um designer de móveis da nobreza francesa, por volta de 1710- instalando um bidê para a família real da França.
O bidê original consistia em uma bacia de porcelana com água colocada em uma cadeira de madeira, geralmente localizada no quarto ao lado do penico. A pessoa então se sentava nesta cadeira e usava a mão para colher água até o bumbum e proceder à limpeza do fuleco.
Esta não era realmente a prática mais higiênica, já que literalmente o usuário retirava da mesma água em que seu excremento estava girando. Mais tarde, no mesmo século, o bidê recebeu uma atualização necessária: uma bomba de água e um tanque! Esta foi a primeira iteração do bidê moderno que usamos hoje.
O debate entre lavar e enxugar também decorre de ideais culturais conflitantes, quase se tornando um dilema Oriente x Ocidente. Embora os bidês tenham se originado na França, eles viram um grande aumento de popularidade na maior parte do Sudeste Asiático, onde um grande número demográfico coloca uma forte ênfase na limpeza geral do corpo, incluindo o botico.
Aqueles que se limpam olham para seus colegas lavadores com pura perplexidade quando descobrem que há pessoas voluntariamente tocando suas próprias nádegas depois de cagar. Fora do contexto, soa super estranho. Mas o mesmo vale para lavadores olhando para limpadores andando o dia todo com restos de cocô no furico.
Isso muitas vezes levou os dois lados a serem alvo das piadas um do outro quando se trata de limpeza, ou pelo menos a percepção de higiene. Com a maioria das pessoas no Ocidente optando por limpar e as do Sudeste Asiático optando por lavar, também temos uma fusão dos dois métodos: A lavagem e limpeza. Sim, há pessoas que fazem pleno uso de um bidê, mas também secam suas bundas encharcadas com papel higiênico.
Países como Japão e Coreia do Sul resolveram o problema com o uso de bidês de mão -às vezes vasos sanitários com chuveirinho- ademais com secadores de ar quente embutidos, um verdadeiro dois em um que lava e seca. Em países como a Malásia, onde o bidê elétrico ainda não decolou, o papel higiênico é frequentemente usado para secar o butão molhado. Há também quem opte por secar naturalmente o rabo. Cada um com sua mania.
Em 2018, um redditor chamado Hamish se mudou para Hanói. Após uma semana na capital do Vietnã ele disse que estava amando as diferenças e todas as novidades. Sua única reclamação era em relação aos "chuveiros".
- "Sou a favor de economizar água, mas ter que segurar o dedo no botão para manter a água fluindo parece um pouco extremo", escreveu ele em um post do Reddit. - "A temperatura fria também não me incomoda muito, mas por que eles são tão baixos? Você tem que se abaixar para lavar a cabeça. Os vietnamitas não são tão baixas... eu tentei duas pousadas diferentes até agora e ambos têm esse estilo de chuveiro, quais são as opiniões de outras pessoas sobre o chuveiro vietnamita?"
Embora ambos os lados argumentem que os métodos opostos são prejudiciais ao meio ambiente, muitas vezes não está claro qual é mais prejudicial do que o outro. Pode-se supor que lavar a bunda envolve muito desperdício de água ou que limpar incentiva o desmatamento.
De acordo com especialistas, embora ambos os métodos prejudiquem o meio ambiente à sua maneira, a limpeza representa uma ameaça maior ao ecossistema natural do mundo. Lavar usa muita água, mas a produção de papel higiênico envolve o corte de centenas de milhares de árvores e, em seguida, o uso de inúmeros litros de água para transformar a madeira colhida em papel.
Ao olhar para as coisas em uma perspectiva mais ampla e de longo prazo, é bastante óbvio que o consumo de água através da lavagem é essencialmente insignificante quando comparado à limpeza. Em certo sentido, é um mal muito menor. E sua bunda também vai agradecer.
Curiosamente, este assunto escatológico surgiu do envio de dica de um vídeo (abaixo) do comediante indiano Masood Boomgaard, onde ele enaltece a prática da lavação de bunda. Ele até faz várias recomendações importantes que garantirão que sua bunda esteja completamente limpa, para que ninguém fique "perto dela".
- "Lave [sua bunda] todos os dias e faça que a lavação de bunda seja um ato de devoção", ironiza Masood no vídeo.
Eu comecei a rir sozinho quando vi o vídeo, mas depois lembrei da "regra da mão esquerda" indiana, percebendo que o assunto é muito mais sério do que poderia supor e tem realmente inferências culturais, sociais e inclusive ambientais.
Pesa ainda mais o fato da dificuldade que todos temos em falar sobre "merda", quando todo mundo faz. Talvez por isso não saímos dela. "Merda" não é um palavrão, de fato, é um termo clássico que chegou até nós desde a Roma Antiga e sempre significou excremento. Não tem nada de feio na palavra. Feio é o significado, o cheiro dela. "Merda" não é ofensa, é uma realidade. Cago eu, -perdoe a indiscrição- caga você, cagamos todos, damos à luz em torno 55 quilos de barro fedido por ano. Não seria melhor que, em prol da higiene e de nossa saúde, acabássemos com este tabu bobo?
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Comentários
Será mesmo que chegamos ao ponto de discutir se usar água para a higiene é prejudicial ao meio ambiente? Voltaremos à idade média e faremos uma limpeza a seco, e o banho será então incluído como mais um pecado.
Devíamos nos preocupar em como água limpa poderia estar mais e melhor disponível para todos, pois me parece que falar em escassez de recurso hídrico neste planeta soa como uma falácia e um lobby.
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