Pyramiden, o que faz uma utopia soviética em uma ilha norueguesa?

As minas abandonadas podem parecer uma dúzia, mas o posto avançado abandonado no arquipélago de Svalbard, acima do círculo ártico da Noruega, permanece diferente de qualquer outro no planeta. Ao longo dos anos 1900, todos colocaram sua mão em Pyramiden em um ponto ou outro da história, até que de repente ninguém mais o fez. Fundado por suecos em um arquipélago norueguês no Oceano Ártico em 1910, o terreno foi vendido para a União Soviética em 1927. Durante 70 anos, um grupo vigoroso de soviéticos explorou o assentamento remoto em nome da Trust Arktikugol por seus depósitos de carvão.

Até que em 1998 foi divulgada a notícia de que a operação seria encerrada. Então, em questão de meses, o lugar foi abandonado sem cerimônia.

Pyramiden permaneceu em grande parte abandonada com a maioria de sua infraestrutura e edifícios ainda em vigor, conservados pelo frio.

Nos tempos soviéticos, a população era majoritariamente ucraniana, composta por mineiros de Donbass e de Volyn.

Nos anos seguintes, pouco mudou no antigo campo de mineração soviético, exceto a demografia dos moradores de Pyramiden.

Pyramiden já teve mais de 1.000 habitantes. Entre suas instalações estavam um centro cultural com teatro, biblioteca, estúdios de arte e música; um complexo esportivo; e uma cantina aberta 24 horas por dia. Também tinha uma escola primária.

Entre 1955 e 1998, até nove milhões de toneladas de carvão foram extraídas da mina. A mineração cessou em 31 de março de 1998 e o assentamento foi fechado no mesmo ano. O último residente permanente partiu em 10 de outubro, deixando Pyramiden como uma cidade fantasma.

Atualmente, a ilha é habitada apenas por seis pessoas (desde 2013) animais selvagens, incluindo aves marinhas, focas, ursos polares ocasionais e bandos de exploradores.

A vila abriga os restos fantasmagóricos de um modo de vida industrial soviético perdido, literalmente congelado no tempo.

De acordo com um episódio da série de televisão Life After People, estima-se que Pyramiden permanecerá como está por 500 anos ou mais graças ao clima ártico extremo, mais do que qualquer outro assentamento humano moderno na Terra.

Os assentamentos de quarteirões continuam a ser dominados pela estátua de Vladimir Lenin, mais ao norte do mundo, cujo olhar solitário permanece fixo na geleira Nordenskiöld encostada no quintal da cidade.

A característica mais etérea da cidade é, sem dúvida, a chamada "loja de garrafas", uma casa feita inteiramente de garrafas de vidro branco e verde, cuja beleza, delicadeza e impraticabilidade diante de climas tão severos parecem absolutamente de outro mundo.

Mas o que faz uma cidade soviética em um arquipélago norueguês? Isso se deve a condição específica da Conferência de Paz de Paris de 1919 após a Primeira Guerra Mundial que permite que qualquer país que fosse parte do tratado teria permissão para estabelecer um comércio ali e usar os recursos naturais de Svalbard.

De fato, há mesmo outra aldeia russa na ilha: Barentsburgo, que não foi totalmente abandonada por Putin, devido à sua localização marítima estratégica.

Chegando de barco, os visitantes do misterioso assentamento percorrem os resquícios da cultura soviética, liderados por um guia armado que não hesitará em atirar em caso de ataque de urso-polar.

A maioria opta por explorar por algumas horas antes de ser transportado de volta para a civilização, mas aqueles interessados em passar a noite em uma paisagem ártica pós-apocalíptica podem fazê-lo com antecedência no Hotel e Museu Tulip -aberto somente durante os meses de verão-, reaberto em 2015.