As araras, que podem atingir um metro de comprimento, são um símbolo de Caracas, capital construída em um vale separado do Mar do Caribe pelas montanhas da Cordilheira da Costa Venezuelana. Frequentam telhados e sacadas de inúmeros prédios em busca de alimento. As pessoas as alimentam e inundam as redes sociais com fotos de sua brilhante plumagem azul, verde, amarela e vermelha. Em geral, os especialistas desaconselham dar comida a animais selvagens, pois isso pode prejudicá-los e criar uma dependência dos humanos. Mas tal conselho não parece ser bem-vindo ou ouvido neste caso. |
Eles também trocam os detalhes de suas histórias criadas como se fossem parte de mininovelas.
- "A amarela está namorando a laranja, mas ela está sendo maltratada", pode alguém dizer.
O que torna as araras de Caracas únicas é sua diversidade, entre araras, papagaios e periquitos, há 17 espécies voando ali. Isso inclui quatro espécies de araras, todas nativas da Venezuela.
O maracanã (Ara severa), predominantemente verde, é o menor e o único dessa região central. A arara-bandeira (Ara macao) -sua coloração amarela, azul e vermelha lembra a bandeira tricolor nacional- é originária das planícies e da região amazônica. A arara-vermelha (Ara chloroptera) mantém pequenas populações no leste e no oeste do país. Estas duas últimas foram deslocados nos céus de Caracas pela arara-azul-e-amarela (Ara ararauna).
Historicamente, as araras não eram nativas da capital e não está totalmente claro por que começaram a nidificar nas palmeiras da cidade, mas pesquisadores acreditam que sua chegada foi motivada pelo comércio de animais de estimação, já que gerações inteiras de venezuelanos cresceram com um papagaio, periquito ou arara em casa.
Quando as pessoas falam sobre as araras em Caracas, muitas vezes mencionam Vittorio Poggi (foto abaixo), um imigrante italiano que uma vez resgatou uma arara azul e amarela ferida. Embora Poggi não tenha mantido o pássaro em cativeiro, ela o seguia enquanto ele andava de moto pelas ruas da capital. Poggi ficou conhecido como o "homem-arara".
Graças a essa fama, durante anos muitas pessoas levaram para ele pássaros feridos ou doentes, além de araras de estimação que não queriam mais manter em casa para ele cuidar.
Mas a verdade é que essas aves são terríveis de se ter como animais de estimação. Elas são barulhentas, quebram tudo e fazem bagunça. Muitas pessoas adotam porque são lindas. O primeiro mês é idílico, mas depois eles não aguentam e procuram maneiras de se livrar delas.
Durante décadas, Poggi soltou na área urbana dezenas desses animais que recebia de pessoas cansadas de mantê-los em casa. Essa não foi a única causa da proliferação das araras, mas favoreceu em parte a predominância das amarelas e azuis.
Malú González, professora da Universidade Simón Bolívar, quer entender como a interação com os humanos está mudando o comportamento dessas aves, cujas populações em seus habitats originais estão diminuindo.
- "Parte disso envolve os cuidadores que têm paixão por elas dedicando muito de seu tempo e essa observação os torna especialistas", diz ela. Para ajudar nesse esforço, ela está buscando desenvolver um aplicativo com reconhecimento facial de pássaros que preencheria um banco de dados com o apoio de pessoas que observam e alimentam os pássaros todos os dias.
Pouco se sabe sobre como a vida urbana afeta as aves. Mas Malu explica que algumas mudanças são visíveis nas próprias araras. Elas estão se reproduzindo com parentes próximos, e isso está tornando as mutações mais comuns que são muito raras.
Malu acha que certas mutações, comuns em pequenas populações engaioladas que se reproduzem entre si, mas raras na natureza -como a coloração branca- estão se tornando cada vez mais frequentes em Caracas porque as aves não viajam para fora da cidade.
Outro fenômeno está se tornando visível: as araras híbridas, resultado da mistura entre duas espécies diferentes. Uma forma de reconhecer os híbridos é a abundância de cores -laranja, por exemplo- ao contrário dos mutantes que perdem o tom, como os brancos.
Em geral, os especialistas recomendam não alimentar animais selvagens. Em manguezais e florestas, as araras costumam ter uma alimentação variada e voam longas distâncias. Mas na cidade as aves comem alimentos processados, bananas ou alguns tipos de sementes que lhes são dados, e tendem a ser relativamente sedentárias. Isso significa que as araras de Caracas podem ter uma expectativa de vida menor. Às vezes são atropeladas e a poluição urbana também pode afetar sua saúde.
Essa dieta alterada pode, por sua vez, afetar seus ciclos reprodutivos. A abundância de árvores frutíferas em Caracas, juntamente com as sementes e alimentos que recebem nos telhados, possibilitou o aumento da população, sem que seja possível determinar se essa riqueza está levando a maiores taxas de eclosão.
Os animais existem em uma zona cinzenta entre os selvagens, selvagens e domésticos. Algumas pessoas os consideram animais de estimação, enquanto outros não. Mas por que colocar um papagaio em cativeiro quando há araras voando nas ruas?
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