O besouro-joia australiano (Julodimorpha bakewelli) é uma grande espécie de buprestídeo marrom que é encontrada em todo o sul da Austrália em áreas áridas e semiáridas. Como a maioria dos insetos, o único propósito da vida do besouro-jóia é procriar. Todos os anos, durante a época de acasalamento, os machos voam em busca das costas marrons e brilhantes das fêmeas rastejando no chão. Quando encontram uma dama de quem gostam, eles pulam nas costas dela e começam a acasalar, exceto que, muitas vezes, a companheira de sua escolha acaba sendo outra coisa. |
Na primavera de 1981, que ocorre em agosto e setembro na Austrália, dois entomologistas, Darryl Gwynne, da Universidade de Toronto, no Canadá, e David Rentz, da Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth (CSIRO), estavam em uma viagem de campo na Austrália Ocidental, onde fizeram uma descoberta notável. A dupla observou vários besouros machos tentando acasalar com uma garrafa de cerveja de 375 mililitros, conhecida carinhosamente como "stubbie'. Eles pegaram a garrafa e tentaram se livrar dos besouros, mas os insetos agarraram a garrafa com força e não soltavam.
Olhando ao redor, os pesquisadores encontraram mais stubbies, e cada um estava montada por vários machos. Os machos tinham a genitália evertida enquanto tentavam acasalar com a garrafa. O comportamento deixou Darryl e David perplexos, então eles conduziram um breve experimento no local.
Eles encontraram quatro stubbies vazias e os colocaram no chão. A área estava repleta de garrafas de cerveja jogadas de janelas abertas de carros que passavam por ali, então eles não tiveram problemas para encontrá-las. Eles queriam ver se as garrafas atrairiam besouros. Com certeza, em meia hora, duas das garrafas atraíram um total de seis machos.
O que estava atraindo os besouros para as stubbies vazias? Com certeza, não era a cerveja, porque os besouros não foram para a ponta do bico, mas sim para o fundo. Além disso, as garrafas estavam secas há muito tempo.
A resposta ficou óbvia quando eles olharam mais de perto as garrafas, que eram de cor marrom brilhante com um anel de covinhas perto do fundo, semelhantes às pequenas protuberâncias nos élitros dos besouros. Aparentemente, os machos estavam confundindo as garrafas de cerveja com as fêmeas de sua espécie pela forma como a luz refletia em suas costas. Ou seja os machos eram atraídos pela refração da luz produzida pelas protuberâncias de vidro das garrafas, assemelhando-se a fêmeas gigantes com cor e superfície muito semelhantes.
Os biólogos chamam isso de "armadilha evolutiva". Acontece quando as mudanças ambientais causadas pelas atividades humanas levam os animais a fazer escolhas ruins de habitat que podem levar a um rápido declínio populacional e até à extinção.
Por exemplo, quando filhotes de tartarugas-marinhas emergem de seus ninhos de areia, elas migram instintivamente em direção ao luar refletido no oceano. No entanto, a presença de luzes fortes de hotéis de praia pode confundir os filhotes, fazendo com que eles migrem na direção errada.
Da mesma forma, os besouros australianos exibem um efeito semelhante. Confundir garrafas de cerveja com fêmeas pode ter consequências prejudiciais para besouros machos. Darryl e David documentaram como, uma vez que os machos pousaram nas garrafas, eles persistentemente tentavam acasalar com elas até serem fisicamente deslocados.
Em seu habitat natural, esse comportamento pode levar à fome ou exaustão não intencional, resultando em sua morte. Os pesquisadores observaram casos em que alguns machos caíram das garrafas devido à exaustão pelo calor, enquanto outros se tornaram presas de predadores como formigas.
Felizmente, as cervejarias australianas mudaram o design de suas garrafas. Não tem mais as saliências que confundiam os besouros. Ainda assim alguns besouros continuam a procurar as garrafas por causa da cor. Devido a esse comportamento errôneo de acasalamento, esta espécie está ameaçada de extinção, pois as altas taxas de reprodução malsucedida resultam em taxas de sobrevivência mais baixas, e os machos persistirão em suas tentativas de acasalar com os objetos inanimados até serem vítimas de ameaças ambientais.
Darryl Gwynne e David Rentz, que escreveram um artigo sobre essa observação, ganharam o prêmio Ig Nobel de 2011, um prêmio de paródia concedido anualmente pela revista de humor científico Annals of Improbable Research, colocando em destaque esse aspecto incomum do besouro australiano. O prêmio serve ao propósito de homenagear àquelas pesquisas que apesar de sérias têm temáticas ou títulos tão improváveis e absurdos que levam qualquer um ao riso.
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