A primeira fábrica de sabonete artesanal à base de azeite da cidade de Trípoli, capital do norte do Líbano, foi fundada no final do século XIX por Hussein Awaida, dono de algumas plantações de oliveiras e grande crente na indústria como um dos pilares mais importantes da economia. Geração após geração, os membros da família cuidaram desse precioso ofício e o desenvolveram para se tornar uma das formas mais refinadas, sofisticadas e naturais da indústria de higiene pessoal de hoje. |
Desde então, a cidade de Trípoli ganhou fama na fabricação de sabonete de oliva e de semente de azeitona, conhecido localmente por "jefti". À medida que a indústria do sabão se espalhava pela cidade, Trípoli abrigava dezenas de fábricas; todas produzindo sabonete de azeite e competindo entre si. Essas fábricas aproveitavam a riqueza do terreno, onde as oliveiras cobriam a maior área da cidade. Isso às custas dos territórios das oliveiras e da abertura de Trípoli aos mercados estrangeiros.
Como a maioria dos sabonetes de oliva ainda fabricados no mundo, os principais ingredientes do sabonete de Awaida são azeite virgem, água e um composto de sódio alcalino. O composto antigamente era feito com base nas cinzas em pó da beterraba-forrageira (Halogeton sativus) com cal, mas, com a passagem do tempo foi substituído pela soda alcalina.
O composto de sódio é então aquecido com água e azeite em grandes cubas de cobre sobre fossas de fermentação. A solução de água e composto de sódio torna-se cada vez mais concentrada em uma série de 40 ciclos repetidos ao longo de três a quatro dias.
Os ingredientes costumavam ser misturados à mão na grande cuba usando uma ferramenta de madeira em forma de remo conhecida como dukshabé. Agora, um misturador automatizado reduz o processo em vários dias e o sabonete é aquecido com gás em vez das cascas de azeitona que eram queimadas no passado.
O sabonete líquido é então espalhado manualmente no chão -previamente polvilhado com flocos de sabonete seco, para não grudar, com centenas de baldes do líquido a 60°C, o suficiente para eventualmente fazer 30.000 barras. Os funcionários formam uma corrente humana para carregar os baldes para a área de vazamento. Antes a fábrica costumava ter uma bomba que cobria o chão em apenas meia hora, mas está quebrada há meses e eles não conseguem encontrar as peças de reposição no Líbano.
Esse método data de pelo menos o século 14, mas esse tipo de negócio está desaparecendo em toda a região. Em seu auge havia dezenas de fábricas como esta em Trípoli. Mas a guerra civil e a mudança de gostos forçou todas elas a fechar. Há uma demanda cada vez menor pelos tradicionais blocos de sabonete à medida que as variedades líquidas mais baratas inundam o mercado.
Depois de endurecido em no mínimo 48 horas, é cortado no clássico formato de cubo do sabonete de azeite de oliva e carimbado com o selo da marca utilizando um macete. Os cubos de sabão passam então por um processo de secagem que pode durar de três meses a um ano e consiste em empilhá-los em estruturas que chegam até o teto, semelhantes a cones com centros ocos que permitem a circulação do ar ao seu redor. As torres permitem que o ar das janelas abertas circule entre cada barra. Esse processo de secagem final pode durar um mês ou mais, dependendo da época do ano.
Depois de secas, as barras são embaladas à mão em um invólucro também com o emblema da família. Não é nenhuma surpresa que essa prática milenar luta para sobreviver à luz das tecnologias modernas de fabricação de sabonete, que exigem menos trabalhadores, horas e dinheiro.
Infelizmente, a produção tradicional de sabonete de azeite está em declínio no Oriente Médio há décadas. Muitas fábricas semelhantes foram forçadas a fechar devido à falta de demanda e ao conflito contínuo existente na região. Foi isso o que ocorreu com a fábrica mais antiga de sabonete de azeite do mundo, a de Nablus, na Cisjordânia.
A fábrica palestina sobreviveu por quase 200 anos, mas recentemente, durante a pandemia de covid-19, ela foi obrigada a dispensar todos os seus funcionários em tempo integral. A fábrica agora só faz um novo lote de sabonetes depois que o estoque esgota no exterior.
Husni, o dono da Masbanat Awaida, disse que não pretende deixar a porta fechar para a indústria de seus antepassados. Ele está determinado a manter seu negócio funcionando. Ele se formou em engenharia elétrica, mas decidiu assumir os negócios que seu tataravô construiu em 1880, criando cada vez mais novos produto baseados no azeite de oliva.
Husni tem dois filhos pequenos, mas não tem certeza se eles seguirão seus passos nos negócios de família, enquanto ele mesmo não sabe o que o futuro reserva para a sua fábrica. De qualquer forma, ele diz ser grato por fazer parte da história do negócio centenário de sabonetes de óleo de azeite.
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