O ano de 1985 foi atípico para o Brasil. O primeiro Rock in Rio reuniu as maiores estrelas do rock daquele então. Tancredo Neves foi eleito presidente da República em janeiro mas morreu em abril, pouco depois do encerramento do regime militar brasileiro. Senna venceu o GP de Portugal, sua primeira vitória na Fórmula 1. O Coritiba se tornou o campeão de futebol brasileiro contra o... Bangu. Nosso país registrou seu primeiro grande apagão, que atingiu 10 estados. No final daquela ano, morreu o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, vítima de AVC. |
Foi neste mesmo ano que aportou no Rio o carismático acrobata de circo soviético Valentin Dikul, sem fazer alardes, de férias com a família. Mas quem diabos é Valentin? A história deste homem é uma cheia de resiliência e superação. Ele nasceu prematuro de 7 meses com menos de 1kg em Caunas, a segunda maior cidade da Lituânia. Naquela época essas crianças geralmente não sobreviviam.
Seu pai ucraniano morreu a serviço do Comissariado do Povo para Assuntos Internos soviéticos quando ele tinha dois anos. Aos seis anos foi a vez dele perder a mãe para o câncer. Ele foi morar com sua avó Praskovya Nikitichna, que também não durou muito. A partir daí ele pulou de galho em galho em vários orfanatos entre as localidade de Vilnius e Caunas.
Valentin não era necessariamente um garoto problemático, mas ele tinha mania de fugir para ir atrás do que ele considerava uma maravilha: o mundo dos circo. Não é surpreendente então saber que ainda menino começou a se apresentar em um teatro mambembe mixuruca à noite enquanto trabalhava como ajudante de mecânico de moto de dia.
A impressão circense penetrou tão profundamente no coração do menino que ele decidiu se tornar um artista de circo. Valentin começou a fugir do orfanato um dia sim e outro também, passando os dias debaixo da lona. Com o tempo, passou a realizar pequenas tarefas, depois passou a praticar acrobacias, levantamento de peso, luta livre e ginástica, além de realizar manobras perigosas no trapézio.
Durante uma das apresentações, quando Dikul então realizava um número de ginástica aérea pela primeira vez na vida aos 15 anos, aconteceu um infortúnio: a trave em que se apoiava quebrou e o jovem caiu de uma altura de 13 metros, sem rede de segurança.
Valentin teve mais de dez fraturas, incluindo uma fratura na coluna. Sua sobrevivência com as pernas paralisadas já era considerado um milagre por si só. O prognóstico dos médicos era que ele jamais voltaria a andar. Seus sonhos pareciam ter sido destruídos, mas Valentin se recusou a aceitar seu destino.
O lituano empreendeu um árduo caminho de recuperação treinando incansavelmente, levando seu corpo ao limite até que a exaustão o consumisse. Sua rotina, que incluía esticar elásticos, levantar objetos pesados e fazer flexões, tornou-se sua vida.
Ainda deitado na cama de um hospital, o adolescente começou a realizar vários exercícios fortalecendo os músculos das costas, peito e braços,. Além disso, o ginasta acamado começou a estudar diligentemente a estrutura do corpo humano, a anatomia muscular e a biomecânica.
Sua determinação começou a dar frutos. A força da parte superior de seu corpo voltou, com seus músculos respondendo às demandas implacáveis que ele colocou sobre eles. Ele até desenvolveu um sistema de roldanas para mover os pés, recuperando lentamente o controle sobre o corpo.
Oito meses depois, Valentin recebeu alta do hospital em uma cadeira de rodas. Logo conseguiu um emprego como chefe do grupo circense do Palácio da Cultura soviética. Durante o dia, ele trabalhava com crianças e à noite treinava, fazendo exercícios. Continuou a ler literatura médica e cinco anos depois voltou a andar.
Em 1970, Valentin Dikul voltou ao circo como um malabarista poderoso. Graças aos seus truques -malabarismo com balas de canhão de 40 kg, levantamento de pesos e automóveis- tornou-se conhecido em todo o país, quando passou a ser chamado de "homem mais forte do mundo". Ele fez escola. Hoje há muitos artistas circenses que tentam emular suas coreografias, sem o mesmo talento.
Sua história cativou toda a União Soviética quando uma série de publicações na imprensa sobre sua reabilitação provocou uma avalanche de cartas de pessoas em busca de ajuda. Ajudado por sua esposa Lyudmila, Valentin respondeu diligentemente, compartilhando seu método de reabilitação com aqueles que precisavam. Muitos cadeirantes viram nele sua esperança. Valentin passava de três a quatro horas por dia aconselhando pessoas com deficiência.
Em 1988, ele deu um passo adiante, abrindo um centro de reabilitação para lesões na medula espinhal e com sequelas de paralisia cerebral infantil. O enorme trabalho realizado por ele, o conhecimento acumulado, comprovado pela experiência, serviu de base para a criação de um método único de reabilitação de pessoas com doenças graves e lesões do sistema músculo-esquelético.
No final dos anos 1990, Dikul começou a lidar não apenas com pacientes com consequências de lesões na coluna e paralisia cerebral, mas também com outras doenças do sistema músculo-esquelético, como hérnia de disco, escoliose, cifose e osteocondrose. Nos anos vindouros, vários outros centros de reabilitação com o nome de Valenmtin foram abertos em Moscou.
Por decisão da organização pública "Comitê Superior de Certificação e Qualificação da Federação Russa", ele recebeu a graduação de Doutor em Ciências Biológicas e ao mesmo tempo foi agraciado com o título acadêmico de professor emérito na especialidade de ortopedia. Aos 75 anos, Valentin continua a "puxar ferro" e administrar o centro, vivendo como prova do poder da perseverança.
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