Assim como as manchas de uma chita ou as listras de uma zebra, a juba de um leão macho é talvez a característica mais icônica do animal. Mas, na verdade, há uma variação significativa no estilo do rei da selva, desde volumosos cachos dourados até nenhum. Durante anos, os cientistas identificaram diferentes espécies e subespécies de leões, em parte, pelo comprimento das suas madeixas. Eles acreditavam que o comprimento da juba era uma característica genética, transmitida de geração em geração. No entanto, eles estavam parcialmente equivocados. É tudo uma questão de temperatura. |
Um estudo de 2006 realizado por Bruce Patterson, agora curador emérito de mamíferos do Museu Field em Chicago, revelou que a extensão pode ser atribuída em grande parte ao clima. Segundo o museu, a temperatura ambiente de um leão de zoológico é responsável por até metade da extensão e densidade de sua juba. Embora a genética também possa ser um fator, alguns dos grandes felinos podem estar predispostos a jubas mais longas e luxuosas, a temperatura pode causar uma enorme variação. Isto significa que os cientistas podem precisar de reavaliar algumas das suas taxonomias existentes.
Bruce estudou leões em 17 zoológicos nos Estados Unidos, registrando as temperaturas da área e o comprimento da juba de cada mamífero. Ele descobriu que aqueles em climas mais frios tinham fios significativamente mais longos do que aqueles em áreas mais quentes. Como as jubas consomem energia para crescer e se manter, os leões em temperaturas mais altas, que não precisam do anel de pelos para se aquecer, simplesmente ficam menores.
Embora seja relativamente raro, alguns leões em condições de calor particularmente extremo não desenvolvem crinas. Na verdade, o estudo de Bruce foi inspirado em dois desses leões, os famosos devoradores de homens de Tsavo.
No final do século XIX, os leões de Tsavo caçaram e mataram cerca de 135 pessoas em Tsavo, no Quênia. Eles acabaram sendo baleados, mortos e doados ao Museu Field, onde, quase um século depois, Bruce ficou paralisado por sua condição sem juba.
- "Mesmo uma juba pequena pode ser imponente em climas quentes e secos, onde os custos do superaquecimento são grandes e a maioria dos leões machos tem pouca ou nenhuma juba", disse Bruce em um artigo de notícias do museu. - "Este é o caso de Tsavo, no Quênia, onde a maioria dos leões não tem juba."
Os dois leões de Tsavo, apelidados de Sombra e de Escuridão, ficaram famosos e foram parar até no cinema, no filme "A Sombra e a Escuridão", de 1996. Eles conseguiram se esquivar de várias armadilhas colocadas para capturá-los. Para piorar os dois animais também eram especialistas em dizimar as expedições que tentavam localizá-los e matá-los. Muitas pessoas fugiram da região pelo medo de virar refeição de leão.
O que torna esta história ainda mais espantosa é o fato de que os dois leões caçavam sempre em dupla, um comportamento atípico para a espécie. Os habitantes da região os chamavam de shaitini, ou "demônios da noite". Seja como for, o filme não foi anatomicamente correto, pois, nele, Sombra e Escuridão tinham fartas jubas, quando, na realidade não tinham, como é possível ver na foto do Sombra logo acima.
Quanto ao motivo pelo qual os leões de Tsavo perseguiam as pessoas, Bruce e os seus colegas postularam que os problemas dentários dos animais -que incluíam dentes partidos e perdidos e abcessos- poderiam ter contribuído para a sua dieta centrada no ser humano. Bruce disse em um comunicado que - "...os humanos são muito mais fáceis de capturar do que as presas típicas dos leões, como os gnus." O vídeo abaixo mostra um leão macho sem juba encurralando um crocodilo.
Em 1965, a mesma região viveu um caos com outro devorador de homens, conhecido com Darajani. Mas nesse caso o problema do leão não estava nos dentes, senão que tinha uma pena do porco-espinho-de-crista-africano (Hystrix cristata), saindo do focinho. Os leões em geral não atacam porcos-espinhos, mas são mais propensos a fazê-lo em anos de seca, como 1965, que foi anormalmente seco no Quênia.
Como vimos, a explicação para a falta de jubas em machos é relativamente simples e sem muitos segredos, mas o que deixa os biólogos do mundo inteiro é porque algumas leoas, de uma hora para a outra, começam a desenvolver jubas e a se portar como machos. Esta anomalia já foi verificada tanto em zoos, quanto na natureza.
Notoriamente, várias leoas documentadas em Botsuana que viviam na natureza começaram a se comportar como machos: cinco fêmeas, todas de bandos diferentes, desenvolveram jubas. De acordo com um estudo de 2016 publicado no African Journal of Ecology, estas jubas foram o resultado de níveis mais elevados de cortisol e androstenediona nas leoas.
O cortisol é um hormônio produzido nas glândulas supra-renais, um pequeno órgão endócrino localizado próximo aos rins que regula a maioria dos sistemas do corpo, incluindo a resposta imunológica e o metabolismo. A androstenediona é produzida nas glândulas supra-renais e reprodutivas e pode contribuir para o desenvolvimento de certas características androgênicas (masculinas). Isso explica o porque estas leoas passam a se portar como machos, mas de onde vem estes hormônios de uma hora para a outra?
Os cientistas não suspeitam que nada no ambiente tenha causado as jubas femininas. O mais provável é que sejam simplesmente um fenômeno incomum e localizado que pode, na verdade, ajudar estes bandos a competir melhor entre si.
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