Perto da aldeia de Llanycefn, em Pembrokeshire, no sudoeste do País de Gales, ergue-se uma pequena casa de pedra. Diz a lenda que a casa foi construída durante uma única noite seguindo a tradição de tŷ unnos, que se traduz em português como "casa de uma noite". De acordo com esta tradição secular, qualquer pessoa que conseguisse construir uma habitação em terrenos baldios entre o anoitecer e o amanhecer podia reivindicar o terreno e a casa. Variações da tradição sustentavam que deveria haver um fogo aceso na lareira à primeira luz e a fumaça devia sair pela chaminé. |
Uma versão da tradição diz que o posseiro também pode estender o terreno ao redor da casa na mesma distância que puder lançar um machado dos quatro cantos da casa. Embora tŷ unnos não tenha base legal, era comum no País de Gales e na Grã-Bretanha entre os séculos XVII e XIX.
Durante este período, muitos proprietários de terras cercaram as suas propriedades em grandes quintas de propriedade privada, forçando o despejo daqueles que viviam e ganhavam a vida nessas terras. Empurrados para as margens, muitos camponeses adotaram a tradição de construir casas sob o manto da escuridão, na esperança de enganar os seus gananciosos senhores.
Existem muitas aldeias na zona rural da Grã-Bretanha onde você encontrará casas identificadas como cabanas de invasores construídas durante uma noite, de acordo com o folclore local. A casa foi originalmente construída com uma mistura de barro, lama, grama e palha. Quaisquer outros materiais exigiam mais esforço e mais tempo.
O processo começava com a família do invasor e seus amigos reunindo materiais de construção e levando para o local, prontos para começar assim que o sol se punha no horizonte. Trabalhando durante toda a noite, eles erguiam quatro paredes simples e acrescentavam um telhado de palha. Elementos não essenciais, como janelas, seriam acrescentados posteriormente, mas era necessária uma porta para proteger a entrada. Então, ao amanhecer, acendia-se o fogo na lareira e a fumaça que saía da chaminé seria uma prova de que a obra estava concluída e que uma nova casa havia sido estabelecida.
Uma vez estabelecida a reivindicação da família sobre o terreno, a casa era gradualmente reconstruída com materiais mais resistentes, como pedra e ardósia. Portanto, embora existam muitas casas construídas de acordo com a tradição tŷ unnos, não existem exemplos originais sobreviventes.
O conceito de casa de uma noite não se restringe ao País de Gales. Existem costumes e folclore semelhantes na Irlanda, Itália, França e Turquia. No leste da França, por exemplo, era geralmente entendido que todos tinham o direito de se apropriar de uma parte das terras da comuna para construir uma casa entre o pôr do sol e o nascer do sol.
Os membros mais jovens das famílias pobres às vezes passavam o inverno inteiro preparando a madeira de suas casas com a família e amigos, e então, numa bela noite, quando tudo estava pronto, a família se reunia em um terreno baldio, e com grande agilidade construía a casa, completa desde a soleira de madeira até o telhado de palha.
Uma tradição semelhante existe na Turquia. Na capital, Istambul, quase metade da população vive em gecekondus -uma habitação temporária construída rapidamente, geralmente ao longo de uma única noite-. Em seu livro "Shadow Cities", o autor Robert Neuwirth detalha como esses invasores aproveitam uma brecha legal que estipula que se a construção começar após o anoitecer e o invasor se mudar para a casa concluída antes do amanhecer do dia seguinte, sem atrair a atenção das autoridades, então as autoridades estão proibidas de demolir o edifício no dia seguinte. Em vez disso, devem iniciar um processo judicial em tribunal, tornando mais provável que o posseiro mantenha a ocupação.
A origem deste folclore notavelmente difundido é difícil de rastrear. Existe uma lei tribal galesa que afirma - "...que todo homem livre tinha, no seu casamento, o direito ao cultivo de vários pedaços de terra, e que um tÿ-unnos era construído quando um jovem se casava."
Da mesma forma, as antigas leis nórdicas previam que todo homem tinha o direito de construir para si um cetro -moradia nas terras altas para uso no verão- e tomar posse de terras até onde pudesse atirar sua faca.
De acordo com vários estudiosos, a tradição pode ter origem na antiga lei germânica, ou na lei romana, ou na lei otomana ou mesmo na lei indo-europeia. Na realidade, ninguém sabe claramente de onde veio esta antiga lenda subversiva.
No Brasil existe o usocapião, onde a pessoa pode pedir a posse do imóvel se morou ali por 10 anos continuadamente. O prazo pode ser reduzido para cinco anos caso o local seja a moradia do posseiro ou se algum investimento econômico ou social tenha sido feito do local.
Existe também o usucapião especial rural, onde quem tem posse de um terreno rural, de no máximo 50 hectares, durante cinco anos transforma esse bem em sua moradia e em local produtivo. A pessoa que entra com usucapião nessa situação não pode ser proprietária de nenhum imóvel rural ou urbano.
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