O e-lixo (lixo eletrônico) é uma das cadeias de detritos que mais rapidamente crescem e que ameaçam se transformar em um problema global de proporções impossíveis de manejar, advertiu um estudo conjunto das universidades Tsinghua, na China e Macquarie, na Austrália. Sua recomendação: reciclar. A extração e purificação de metais preciosos, conhecido como mineração urbana, tem custos comparáveis aos da mineração virgem, mas, creiam ou não, com menos dano para o meio ambiente. Alguns sucateiros estão lucrando com o ouro do seu computador antigo. |
O e-lixo no mundo
Dados de um estudo do Monitor Global de E-Lixo (MGE) indicam que somente em 2022 foram produzidos no mundo um total de 55,2 milhões de toneladas de e-lixo, o equivalente ao peso de todos os aviões comerciais já fabricados no planeta. Quando dividimos o valor per capita, chegaremos à conclusão quase inacreditável de que cada habitante do mundo produziu mais de sete quilos no mesmo período.
Com efeito, o nível de produção global de e-lixo deverá alcançar as 120 milhões de toneladas no ano até 2050 se as tendências atuais forem mantidas, segundo um relatório da Plataforma para Aceleração da Economia Circular (PACE) e da Coalizão das Nações Unidas sobre Lixo Eletrônico.
O e-lixo no Brasil
Segundo o MGE, a Europa e os Estados Unidos são responsáveis pela metade dos resíduos eletrônicos que são gerados a cada ano. Nosso país ocupa o 7º posto de maior produtor de e-lixo do mundo, atrás apenas da China, Estados Unidos, Japão, Índia, Alemanha e Reino Unido, respectivamente. A estimativa é que cada brasileiro produza, por ano, entre 7 a 10 kg de lixo eletrônico.
De fato, a verdade é que dentro do atual ciclo da indústria, onde as empresas desenvolvem (ou melhoram) e fabricam novos produtos, com novas tecnologias e novos atrativos, a obsolescência dos antigos chega com o desejo e necessidade de renovação do consumidor, ávido pelas novidades, com proporcionalidade direta do aumento de resíduos eletrônicos.
O que fazer? Trazer o e-lixo para a economia circular
Em uma tonelada de telefones celulares, por exemplo, é possível "garimpar" ao menos 350 gramas de ouro, o que se resume em 80 vezes mais que a concentração encontrada nas minas de ouro, explicou Federico Magalini, gerente da empresa britânica de desenvolvimento sustentável Sofies.
- "É bem mais eficiente extrair ouro do lixo eletrônico, pois está bem mais concentrado", disse.
Ademais, a reciclagem do lixo eletrônico permitiria obter, além do ouro, cobre, prata e outros metais nobres utilizados nos dispositivos ao mesmo custo que a mineração, e a menor custo se forem considerados os subsídios.
A mania de acumular lixo
No entanto, a reciclagem do e-lixo choca com um obstáculo: a reticência das pessoas em reciclar. Por razões afetivas, muitas vezes guardam telefones velhos, computadores que não funcionam, câmeras que ninguém mais usa. Cabem em pouco espaço e logo esquecem, e assim um antigo televisor de tubo de raios catódicos jogado em algum canto escuro da casa oculta 400 gramas de cobre, mais de 500 gramas de alumínio e meia grama de ouro.
- "As pessoas deviam pensar mais em quantos aparelhos tem em a casa. A quantidade é de aproximadamente 80 dispositivos por família", disse Federico.
Ainda que a maioria dos consumidores fique assustada com este número, o especialista lembrou que eles contam desde os painéis solares até as escovas de dentes elétricas. E mesmo que não funcionem mais, muitos continuam conservando o traste em casa e impedindo que os recursos naturais regressem ao ciclo econômico.
Os metais podem ser usados uma e outra vez
A maioria do e-lixo é composta por metais: ferro, cobre, alumínio; em proporções menores cobre, prata, ouro, paládio, irídio e metais raros. Diferentes do plástico, que compõe também uma parte importante dos resíduos gerados pelos dispositivos, os metais têm valor e podem ser reciclados uma e outra vez porque suas propriedades se mantêm idênticas.
Quando, por exemplo, se recicla um notebook, os diferentes componentes são derivados a diferentes processos com fim de separar os metais ou o plástico para algo novo. Em geral chegar ao material original é um caminho de duas ou três sequências apenas:
- "Quando se trata de ferro e cobre, vão a uma fundição para que sejam derretidos novamente. Os circuitos vão a áreas mais complexas para a recuperação do ouro e da platina."
O hardware da tecnologia de comunicações gerou uma indústria de reciclagem que a sua vez é altamente tecnológica. Há engenheiros que desenham os processo de reciclagem e, ao mesmo tempo, criam novos produtos a cada ano, que acabam se convertendo em refugos.
A análise das universidades citadas no início deste artigo estudou os dados de oito empresas que reciclam cobre e ouro de televisores na China. Depois de calcular os custos de coleta de resíduos, incluída a mão de obra, a energia, o transporte e os custos do capital para equipamento e instalações, concluíram que são equivalentes aos da extração original desses metais, mas com uma diferença a seu favor: os governos oferecem benefícios fiscais a essas práticas, além do benefício adicional de serem ecologicamente corretas a favor do planeta.
O meio ambiente agradece
Do ponto de vista ambiental, é sempre bom manter os produtos por mais tempo, pois isso significa que novos recursos naturais não precisam ser extraídos. Ademais, a reciclagem pode criar empregos, e, se feita da maneira certa, pode ser um negócio lucrativo. Com efeito, uma tonelada de placas de circuito impresso contém cerca de 100 vezes mais ouro do que uma tonelada de minério extraído do solo e muitos sucateiros estão lucrando com isso porque descobriram, que sob determinados aspectos, é mais fácil reciclar minerais do que plástico. Alguns sucateiros estão usando um processo que usa micróbios para recuperar metais preciosos de eletrônicos. Em um único dia, é possível recuperar até 4.500 reais em ouro em uma instalação de reciclagem de fundo de quintal.
A verdade é que há uma boa oportunidade para manter nosso ambiente limpo, para manter os recursos atualizados, para que haja benefícios sociais na reciclagem. A pior coisa que pode acontecer é se continuarmos produzindo novos aparelhos e todos os descartados ficarem tomando pó nas gavetas, porque os recursos são limitados. Se mantivermos esses recursos em nossas casas, ocultos, poderemos enfrentar problemas ou restrições na cadeia de suprimentos em um futuro próximo.
A pior parte do desmantelamento é que a quantidade de plástico utilizado não pode ser reciclada. A coisa chegou a um estágio tão complicado, que os coletores de reciclados muitas vezes escolhem os plásticos que querem levar deixando o restante espalhado na lixeira. Em geral eles identificam se uma embalagem é reciclável ou não verificando as informações contidas nela, como o símbolo universal da reciclagem, que é formado por três setas, formando um triângulo. Mas plásticos quebradiços amarelos também são descartados, com símbolos ou não.
Há também os itens que tem como destino as lixeiras quando ainda são funcionais e podem ser usados. No começo do ano passado, meu vizinho descartou um forno de micro-ondas praticamente novo no lixo. Quando perguntei o motivo ele disse que era por causa de flashes de luz que o aparelho emitia enquanto cozinhava. Isso é muito comum e, em geral, não é motivo para jogar o micro-ondas fora. O fenômeno é conhecido como "arco elétrico" e pode ocorrer por motivos diversos, como configuração incorreta no uso do forno, recipientes ou talheres de metal dentro do aparelho, salpicos de comidas não removidos no corpo ou tampa do forno. Em geral uma boa limpeza resolve o problema. Ganhei um forno novo.
Devo confessar que tenho o costume de ser "acumulador", mas em minha defesa posso alegar que sou engenheiro eletrônico e durante muitos anos meu principal hobby era consertar aparelhos eletrônicos, mas quando a minha vista "cansou" e comecei a precisar de lupas desisti da prática e transformei uma sala de sucata em um estúdio onde escrevo os posts do MDig.
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