A surreal animação de Branca de Neve de 1933, classificado como o 19º melhor desenho animado de todos os tempos

Das três colaborações que o cantor de jazz Cab Calloway fez com a linda lenda dos desenhos animados Betty Boop, a "Branca de Neve" de 1933, dirigida por Dave Fleischer, é provavelmente a de maior sucesso. Certamente também é a mais estranha. É uma maravilha singular que mereceu ser considerada "culturalmente significativa" pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e selecionado para preservação no Registro de Filmes Nacionais em 1994.

O filme também foi eleito o 19º lugar entre os 50 melhores desenhos animados de todos os tempos em uma enquete realizada com animadores. Quando fez sua estreia em 1930, Betty Boop teria sido reconhecida pelo público como a personificação da melindrosa e da liberdade sexual da Era do Jazz que estava atualmente em queda livre após a quebra de Wall Street em 1929.

Apenas alguns anos antes em sua estreia, Betty teria sido o mascote da época; agora ela era uma lembrança agridoce de um tempo que já havia passado. Com uma voz de bolha de champanhe, cachos beijados, bainha ousada, decote profundo e a sempre presente cinta-liga, ela era uma personagem de desenho animado que definitivamente não foi projetada para crianças.

Que seus melhores filmes sejam colaborações com Cab Calloway atestam isso. Cab garantiria que seus desenhos de Betty Boop fossem exibidos em uma cidade uma ou duas semanas antes dele fazer um show. Sua "mulher avançada", como ele a chamava, ajudou a vender mais ingressos.

Acompanhando-a neste filme estão os personagens originais de Fleischer, Koko, o Palhaço, e Bimbo, o Cachorrinho, que para este filme são uma espécie de recipientes vazios: eles protegem Betty, são nocauteados e Koko é habitada pelo espírito de Cab Calloway, que então se transforma em um fantasma, só pernas e cabeça, sem torso. O fantasma é animado por meio de rotoscopia sobre as filmagens do próprio filme de Calloway.

A Rainha, cujo espelho falante muda de ideia sobre "a mais bela do país" ao ver Betty Boop, condena-a à morte e depois a persegue pelo submundo antes de virar um dragão. No final, Betty e sua turma viram o dragão do avesso como uma meia, uma piada que não foi vista novamente (suponho) até um dos Especiais de Halloween dos Simpsons.

No meio de todo esse caos surreal e animado está o fantasma de Cab cantando "St. James Infirmary Blues", uma história triste sobre uma namorada morta e os planos do cantor para o funeral. A origem da música está envolta em mistério, possivelmente uma balada folk através do jazz de Nova Orleans. Seja qual for a fonte, Koko/Cab canta para Betty Boop, agora congelada e sepultada, com os sete anões como carregadores do caixão. Koko/Cab se transforma em vários objetos durante sua dança, incluindo uma garrafa de bebida e uma moeda presa a uma corrente.

Esta Branca de Neve de fato acontece durante o inverno e a escritora Anne Blakeley argumenta que a melindrosa, a neve, o gelo, a passagem pelo submundo e a canção de Cab aludem a uma queda em desgraça, da inocência à experiência, através do abuso de drogas, e particular a cocaína muito nevada. Quero dizer, poderia ser! Mas o filme é tão estranho que refuta qualquer leitura definitiva.

A animação foi desenhada e concluída por um homem: Roland Crandall, possivelmente como uma recompensa de Fleischer por não ter partido para a ensolarada costa oeste e para a mais lucrativa Disney. Crandall trabalhou meio ano no projeto e é isso que realmente lhe confere uma natureza única. Cada elemento, seja animado ou em segundo plano, foi cuidadosamente renderizado. O primeiro e o segundo plano lutam pela sua atenção e, quando o filme termina, você quer começar tudo de novo para ver o que perdeu.