A natureza extensa e multissilábica do vocabulário japonês significa que as palavras usadas na discussão de fenômenos sociais muitas vezes evoluem para versões abreviadas, a fim de agilizar as conversas. Um excelente exemplo é "JK", a versão abreviada de joshikousei, que significa "estudante do ensino médio". Depois que o boom da cultura pop das estudantes ganhou velocidade na década de 1990, JK se tornou uma abreviação comumente usada nas manchetes da mídia e na comunicação on-line. |
O fenômeno brotou de uma subcultura japonesa chamada "kogal", geralmente formada por adolescentes do ensino médio praticantes da moda gal e que incorporam seus uniformes escolares em seu estilo de vestir. Elas são caracterizadas pelos típicos cabelos descoloridos, maquiagem, saias curtas e uso de meias largas.
Mesmo aqueles que não estão familiarizados com componentes específicos da cultura popular japonesa provavelmente já ouviram falar da popularidade das meninas do ensino médio no Japão, já que meninas vestidas com uniformes escolares costumam aparecer nos últimos anúncios, vídeos musicais, animes de TV e outras formas de mídia do país. Cave um pouco mais fundo e você também encontrará um setor de serviços que envolve meninas do ensino médio que prestam uma variedade de serviços a homens mais velhos.
Recentemente, apareceu o termo "negócio JK", que se refere à indústria florescente na qual as empresas oferecem atendimento próximo e personalizado de meninas do ensino médio para clientes do sexo masculino. O joshikousei geralmente inclui serviços como "caminhada" ou "massagens" ou ainda "dormir de conchinhas", que podem ser o não frentes veladas para a prostituição na atualidade.
A venda de sexo é proibida no Japão, mas a polícia geralmente fecha os olhos para alguns negócios, às vezes chamados de "cafés-conchinhas", onde garotas bonitas com trajes de empregada com babado ou uniforme escolar se tornam confidentes de homens mais velhos. Ainda que qualquer tipo de contato físico no ambiente seja proibido, os cafés oferecem serviços onde o cliente pode dormir abraçado ou receber uma massagem da garota que escolher. De fato, se alguém oferecer uma massagem nas ruas de Tóquio, é bem certeza que o serviço seja outro.
O problema, inclusive para as autoridades locais, é que no Japão é difícil determinar a idade das garotas. Algumas praticantes do "kogal" aparentam ter uns 15 anos, mas quando você conversa com elas descobre que têm mais de 30.
Ao contrário, também há moças bem trajadas, conhecidas no jargão local como "damas de escritório" que aparentam ter 32 é não superam os 16. As "office ladys" (OLs), são mulheres belas que trabalham em escritório, na China e no Japão, que geralmente praticam tarefas de colarinho rosa a seus clientes.
A cultura de beleza no Japão é bem diferente da do Brasil. Enquanto aqui as mulheres disputam os aparelhos de academias para ficar "bunduda", no Japão a beleza está mais relacionada com a jovialidade e com a pele mais branca o possível.
Então, sempre acaba ocorrendo a circunstância de que muitas daquelas meninas do ensino médio, na verdade não são. Da mesma forma que muitas OLs podem ser adolescentes. O Japão não é de forma alguma a única cultura a sexualizar meninas, mas há algo único e especialmente perturbador no fato de que, abertamente, meninas em idade escolar estão disponíveis para aluguel por hora em alguns dos bairros mais movimentados de Tóquio.
O negócio JK é tal que mesmo serviços aparentemente inofensivos, alardeados como "passeios pela cidade", "leitura da mão", têm o potencial de levar à exploração sexual das moças. Então, para começar, por que algumas delas aceitam empregos nesta indústria, seja voluntariamente ou não?
Ganhar algum dinheiro fácil sempre é muito bom e pura curiosidade são duas motivações possíveis, mas como revela Yumeno Nito, representante do centro de apoio a jovens do ensino secundário Colabo, muitas vezes existem circunstâncias de vida subjacentes que obrigam as jovens a entrar no negócio.
- "Quase todas as meninas vêm de lares problemáticos ou se sentem isoladas na escola", explicou ela. Ela própria uma adolescente fugitiva, Yumeno diz que teve sorte de nunca ter sido coagida a ingressar na indústria da prostituição, mas tem muitas amigas que foram, algumas das quais até cometeram suicídio logo depois.
Yumeno agora adjudicou a si mesma o trabalho de patrulhar as ruas tarde da noite em um microônibus rosa, procurando meninas que precisam de um lugar para dormir e de apoio emocional. Embora os seus esforços tenham ajudado até agora mais de 100 jovens a recuperarem as suas vidas, ela afirma que este problema não será resolvido a menos que os adultos que compram e vendem desapareçam.
"Atendimento próximo e personalizado ao cliente" pode soar como um eufemismo para prostituição, mas as empresas JK não oferecem essas coisas, pelo menos não oficialmente. Em vez disso, o cliente pode pagar para que uma garota se sente e converse com ele, individualmente, em um ambiente semiprivado, dê um passeio pela cidade ou faça uma massagem.
No entanto, os críticos consideram que os serviços ostensivamente castos prestados pelas empresas JK, que são muitas vezes prestados de uma forma que facilita a comunicação clandestina, têm o potencial de ser um ponto de partida para a prostituição e outras práticas ilícitas e ilegais em troca de taxas adicionais.
A indústria tem até o seu próprio jargão para tais acordos: "ura opu". As preocupações com estas opções secretas levaram Tóquio a aprovar um decreto municipal, em 2018, que proibiu indivíduos com menos de 18 anos de trabalhar nas empresas JK. A legislação foi a primeira no Japão a visar nominalmente a indústria, embora disposições semelhantes possam ser encontradas em outros órgãos de proteção da criança e do adolescente.
A nova lei não é aplicável a casas de massagens, bares de recepcionistas e outros empreendimentos semelhantes em que mulheres com mais de 18 anos se vestem ou agem como adolescente. Também não ficou claro onde exatamente as autoridades definem o limite sobre o que constitui um negócio JK.
É necessário enfatizar que as autoridades pouco fazem para educar os menores para enfrentar o lado da procura do negócio JK". Não há educação sexual nas escolas japonesas. Então os professores não podem mencionar 'relações sexuais' ou 'sexo', mas, de alguma forma, devem ensinar sobre o HIV e a contracepção. Como ensinar isso sem falar sobre 'sexo'?
Embora hoje a polícia possa considerar uma vitória o fato de algumas empresas JK já não empregarem menores de 18 anos, isso não toca na raiz do problema. Mesmo que as moças que prestam este tipo de serviço sejam maiores de idade isso contribui para uma cultura perigosa e generalizada de sexualização de menores. Afinal, elas fingem ser estudantes menores de idade, alimentando o apetite pela compra ilícita de pornografia e tornando as verdadeiras estudantes mais vulneráveis.
Uma sociedade conservadora e coletivista que assegura valorizar sobretudo a ética, a disciplina e respeito, mas que comercializa e consome mulheres menores de idade como uma mercadoria de alto valor sexual tem um grande problema, que beira ao doentio.
Em tempo, há uma área cinzenta sobre a proibição da prostituição no Japão. A idade mínima de sexo consentido no Japão é de fato 13 anos (no Brasil é 14), de acordo com o Código Penal Japonês. No entanto, todas as prefeituras e distritos têm uma lei que se chama ali se "ordens de obscenidade" que proíbem a "fornicação" com qualquer pessoa menor de 18 anos de idade, mas isentam o sexo no contexto de um relacionamento romântico sincero, normalmente determinado mediante aprovação dos pais.
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