Ainda que o termo "intersexo" remeta a alguma categoria de orientação sexual, não é. Não no sentido de escolha, senão que se trata de uma condição médica muito real. Pessoas intersexuais são indivíduos nascidos com qualquer uma das diversas características sexuais, incluindo padrões cromossômicos, testículos ou órgãos genitais que não se enquadram nas noções típicas de corpos masculinos ou femininos. Os termos usados para descrever pessoas intersexuais são contestados e mudam ao longo do tempo e de lugar, conforme o termo passa a ter mais atributos do que significância. |
A atribuição do sexo no nascimento geralmente se alinha com o sexo anatômico e o fenótipo da criança. O número de nascimentos com genitais ambíguos está na faixa de 1:4.500 – 1:2.000. Algumas pessoas podem ser designadas e criadas como menina ou menino, mas depois se identificam com outro gênero mais tarde na vida, enquanto a maioria continua a se identificar com o sexo atribuído.
Os termos usados para descrever pessoas intersexuais são contestados e mudam ao longo do tempo e do lugar, geralmente em conformidade com a perda ou invasão de significância da palavra. Pessoas intersexuais eram anteriormente chamadas de "hermafroditas". Mas termos que incluem a palavra "hermafrodita" hoje são considerados estigmatizantes e cientificamente ilusórios em referência aos humanos. Hoje, algumas pessoas com traços intersexuais usam o termo "intersexo" e algumas preferem outra linguagem. Em ambientes clínicos, o termo "distúrbios do desenvolvimento sexual" (DDS) é o mais usado ainda que seja uma designação considerada controversa.
Esse foi o caso da jovem Joyce Kiela até completar 14 anos. Ela cresceu pensando que era como qualquer outra garota, mas uma visita ao médico revelou que ela é intersexual. Depois de anos se perguntando por que ela era tão alta, a mãe de Joyce, Karin, a levou para fazer exames quando descobriu que ela tinha cromossomos XY -o que a tornava geneticamente homem- e um ultrassom confirmou que Joyce não tinha órgãos reprodutivos femininos.
Como seu corpo era insensível à testosterona, ela desenvolveu características aparentemente femininas, uma condição conhecida como síndrome de insensibilidade aos andrógenos. Na época, a notícia foi um choque para ela e sua família, já que nunca tinham ouvido falar de intersexo antes.
Ela se lembra de como começou a chorar imediatamente e demorou muito para aceitar a ideia de que nunca seria capaz de ter filhos que seriam biologicamente seus. E enquanto as amigas de Joyce já exploravam namoro e relacionamentos, ela evitava meninos, achando realmente assustador dizer a eles que era uma pessoa intersexual.
Hoje, com 21 anos, Joyce aceitou sua identidade, condição e nos últimos anos decidiu ser muito mais aberta sobre sua história nas redes sociais. Quando ela conheceu seu atual namorado, Angus, em um aplicativo de namoro, há um ano, ele sabia que Joyce era intersexual. E embora a família de Angus tenha sido cautelosa sobre a incapacidade de Joyce de ter filhos biológicos com ele no futuro, isso não o deteve:
- "O mais importante é que você se torne pai de alguém que você realmente ama e compartilha um vínculo especial, como é a Joyce para mim", disse ele. E com tanto apoio amoroso ao seu redor, Joyce espera que, ao compartilhar sua história, ela alcance outros jovens intersexuais que se encontram em um estágio inicial de sua própria jornada de aceitação:
- "O intersexo sempre foi um grande tabu"", disse ela. - "Muitas pessoas intersexuais não querem contar suas histórias, então espero que minha história chegue até eles e que possam ver... Não há problema em ser apenas quem você é."
De fato, as pessoas intersexuais enfrentam estigmatização e discriminação desde o nascimento ou após a descoberta de características intersexuais em fases de desenvolvimento como a puberdade. Pessoas intersexuais podem enfrentar infanticídio e abandono por parte de suas famílias.
Ainda que deva ser amargurante para Joyce saber que jamais poderá ter um filho do próprio ventre, seu problema é menor porque tem os órgão externos femininos. No entanto, lembram do caso da jogadora de vôlei indonésia Aprilia Santini Manganang, que passou 28 anos vivendo como mulher por ter nascido com hipospadia, caracterizada pela abertura do pênis na parte inferior do órgão, que remete a uma vagina elementar?
Aprilia, a maior jogadora de vôlei de todos os tempos em seu país, passou a vida inteira fazendo testes atrás de testes para provar que era mulher. Finalmente, em 2021, após desistir do esporte, ela fez testes mais específicos na capital Jacarta que concluíram que ela é realmente homem e nem mesmo tem órgãos reprodutivos femininos.
O hoje Aprilio Manganang, um segundo-sargento bonitão do exército indonésio, fez uma cirurgia reconstrutiva, repaginou toda a sua vida, arrumou uma bela namorada e não olhou mais para trás. Para grande espanto, dois meses depois de seu exame, a irmã de Aprilio, Amasya, também fez os testes só para descobrir que ele ia passar a se chamar Amasyo.
Como dizíamos, a maioria das pessoas com distúrbios do desenvolvimento sexual dificilmente é diagnosticada quando criança e os pais acabam achando que é apenas mais uma anomalia qualquer que irá se curar com o tempo. Estes intersexuais vão continuar a se identificar então com o sexo atribuído por uma vida toda.
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