Por que os cangurus às vezes tentam atacar (ou afogar) cães?

Ao longo dos anos, publicamos aqui no MDig algumas histórias de cangurus atacando ou tentando afogar cães, e você sem dúvida se lembrará da história que ocorreu em outubro passado quando um artista marcial deu um soco em um canguru enorme que estava afogando seu cão. Você deve estar se perguntando por quê. Acontece que a razão pela qual os cangurus fazem isso é porque muitas vezes consideram os cães uma ameaça. Isso ocorre porque os cães se parecem muito com um dos predadores mais ferozes dos cangurus: o dingo (Canis dingo), os caninos australianos.

Euan Ritchie, que ensina ecologia da vida selvagem na Universidade Deakin em Melbourne, Austrália, explicou que esse comportamento é uma maneira pela qual os cangurus aprenderam a sobreviver a ataques dos dingos, o predador nativo com o qual coexistiram por muitos milhares de anos.

- "Os cangurus consideram os cães uma ameaça porque se parecem muito com os dingos. Os cangurus costumam usar corpos d'água para escapar dos dingos e às vezes tentam afogar um, ou um infeliz cão desavisado", disse ele.

Os dingos são os maiores predadores terrestres da Austrália e geneticamente ficam em algum lugar entre um lobo e um cão doméstico moderno. Os humanos provavelmente levaram os ancestrais dos dingos modernos para o continente entre 5.000 e 8.500 anos atrás, e os caninos gradualmente se contentaram com uma dieta de marsupiais e répteis. Os cães modernos só foram introduzidos na Austrália em 1788, quando os primeiros navios transportando condenados britânicos e irlandeses chegaram ao continente.

Os dingos caçam cangurus em grandes matilhas, revezando-se para perseguir suas presas até a exaustão. Para matá-los, os dingos mordem as patas traseiras para desacelerá-los antes de irem para a garganta, ou se aproximam dos cangurus pela lateral para morder diretamente o pescoço.

Os cangurus buscam refúgio dos dingos pulando no corpo de água mais próximo, uma estratégia de fuga que também funciona bem para cães domésticos e de fazenda. Se um dingo ou cão persegui-los, os cangurus podem tentar afogá-lo.

É um comportamento instintivo que evoluiu como uma defesa contra predadores. Os machos são fortes o suficiente para se levantar e lidar com um adversário de quatro patas.

Os cangurus-cinzentos-orientais machos (Macropus giganteus), uma das quatro espécies de cangurus da Austrália, podem pesar até 70 kg. Os machos têm braços longos, muito poderosos e musculosos, e garras longas e afiadas, e eles os usam para segurar um cachorro e empurrá-lo para baixo da água na tentativa de afogá-lo.

A maior espécie viva de canguru é o canguru-vermelho (Osphranter rufus), com os machos pesando até 92 kg. Os humanos também devem tomar cuidado com estes cangurus, pois às vezes eles podem de repente atacar as pessoas do nada. Um chute ou arranhão poderoso pode causar danos graves. Para evitar isso as pessoas devem evitar que os cangurus sejam assediados, o que também garante que seus cães sejam mantidos em segurança.

Porém, nem todos os cangurus fazem isso. De alguma forma, os cangurus nesses últimos dois vídeos, que são mostrados brincando de perseguição, massageando e beijando seus amigos cães, não devem conhecer dingos ou pelo menos não foram perseguidos por um.

O dingo continua a ser considerado praga por parte de alguns criadores de gado, devido a ataques aos seus rebanhos. Mas por outro lado, sua predação sobre coelhos, cangurus e ratos pode ser benéfica para o ecossistema. Curiosamente o dingo é considerado um cão selvagem que vive uma relação de comensalismo com os indígenas australianos, em que dois organismos vivem em estreita associação, mas não dependem um do outro para sobreviver.

Ambos caçam e dormem juntos. O dingo fica, portanto, confortável o suficiente perto dos humanos para se associar a eles, mas ainda é capaz de viver de forma independente. Qualquer dingo livre e sem dono pode ser socializado para se tornar um cão com dono, como fazem alguns dingos quando se juntam a famílias humanas, mas ele não foi criado seletivamente de forma semelhante a outros animais domesticados. Portanto, seu status como animal doméstico não é claro.