O futuro está nas cidades. A ONU vem alertando sobre isso há algum tempo, estimando que até meados deste século quase 68% das pessoas viverão em áreas urbanas e o crescimento da própria população mundial acrescentará 2,5 bilhões de habitantes extras às metrópoles. Em poucos locais este "boom" será tão evidente como na África Ocidental, na extensa faixa costeira entre Abidjan, na Costa do Marfim, e Lagos, na Nigéria. Se as previsões dos especialistas se concretizarem, em 2100 esta grande conurbação de quase 1.000 quilômetros terá quase 500 milhões de pessoas. |
Nem Tóquio, nem Nova Deli, nem Xangai, nem qualquer outra área da Ásia, América ou Europa. Se acertarem, não haverá um centro urbano tão populoso em todo o planeta.
É isso que se forma na África Ocidental, entre Lagos e Abidjan: uma enorme e gigantesca conurbação que ameaça tornar-se a maior área de população contínua e concentrada do planeta, segundo diversas análises publicadas em 2022.
Se as previsões populacionais estiverem corretas, até ao final deste século, em 2100, será o lar de cerca de 500 milhões de pessoas. Como referência, estima-se que 37,1 milhões de pessoas vivam na área metropolitana de Tóquio como um todo, embora a tendência ali seja de perda populacional. Os dados estão em linha com os da África em geral, que, segundo as projeções da ONU, poderá acolher quase 40% da população mundial até ao final deste século.
O cinturão está localizado no Golfo da Guiné e estende-se ao longo de uma extensa faixa de mais de 900 quilômetros, entre Abidjan, a cidade mais populosa da Costa do Marfim, e Lagos, a grande metrópole da Nigéria. No meio estão outras cidades espalhadas por Gana, Togo e Benin.
Na ampla faixa costeira localizam-se, por exemplo, Takoradi, Acra, Kasoa, Prampram, Lomé e Cotonou. As cidades entre Abidjan e Lagos estão no bom caminho para adicionar 40 milhões de pessoas em uma questão de poucos anos, com cidades que estão se tornando grandes centros, cidades que nasceram em ambientes até recentemente áridos e outras que acabam absorvidas por centros ainda maiores. Ao expandir o foco e cobrir os novos centros, a população projetada na zona costeira dispara para cerca de 51 milhões de pessoas em 2035.
Para se ter uma ideia do dinamismo demográfico da região africana, vejamos o caso de Abidjan. Segundo a Revisão da População Mundial, cerca de 5,86 milhões de pessoas vivem na sua aglomeração urbana -que inclui centros adjacentes- e as previsões são próximas de 8,4 milhões em 2035, o que a faria ultrapassar a população de Nova Iorque. Nada mal se tivermos em conta que em 1950 a cidade africana tinha apenas 65 mil habitantes e em 2000 mal ultrapassava os três milhões.
Se há uma cidade que exemplifica a dinâmica demográfica da região é Lagos, a cidade mais populosa da Nigéria e da África, que em 2023 acolheria uma população estimada em nove milhões de pessoas, à frente de Kinshasa, Cairo ou Alexandria.
O que está claro é que a cidade continuará a crescer. E em um bom ritmo. As projeções da Revisão da População Mundial, que garante trabalhar com dados das Nações Unidas, sugerem que em 2035 toda a área de Lagos ultrapassaria os 24,4 milhões de habitantes após encadear um crescimento entre 3 e 4% ano após ano.
- "Até 2050, a população de Lagos deverá duplicar novamente, o que a tornaria a terceira maior cidade do mundo", conclui o estudo.
Há quem tenha ido mais longe e aponte a possibilidade da área urbana de Lagos atingir 2100, tornando-se a mais populosa de todo o planeta. Foi o que afirmou um grupo de especialistas em 2016 em um artigo publicado na revista Environment and Urbanization, no qual salientam que nesse ano o seu censo pode já rondar os 88,3 milhões de pessoas, bem acima de Kinshasa ou Bombaim.
Contudo, os próprios demógrafos reconhecem que existem variáveis que podem influenciar a imagem final. Só no caso de Lagos, especificam, a população projetada varia entre 61 e 100 milhões de habitantes dependendo dos diferentes cenários.
- "Espera-se que Lagos ultrapasse os limites do tamanho que uma metrópole pode ter. Lagos já experimentou um crescimento explosivo nas últimas décadas e está crescendo tão rápido que ninguém sabe realmente quantas pessoas vivem lá. Mais de 2.000 pessoas migram para a cidade diariamente e as estimativas populacionais variam muito, entre 11 e 21 milhões de habitantes", reconhece o Fórum Econômico Mundial.
Nas suas projeções populacionais para as próximas décadas, a Revisão da População Mundial deixa escapar um aviso que vai além da simples demografia: Lagos crescerá, e crescerá muito, embora com menos infraestruturas do que qualquer outra grande cidade do mundo. A reflexão está ligada a um dos grandes desafios que a África Ocidental enfrenta: como as suas autoridades irão gerir um dos processos de urbanização mais rápidos da história da humanidade.
No corredor Lagos-Abidjan, existe também a desvantagem da população estar distribuída por cinco países diferentes com os seus próprios governos: Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim e Nigéria. Já existe um projeto ambicioso em cima da mesa que facilitaria as comunicações: a Rodovia Costeira Transocidental Africana, uma ampla auto-estrada transnacional que ligaria uma dúzia de países costeiros da África Ocidental. A infraestrutura abrangeria desde a Mauritânia até à Nigéria.
Em 2022, a Nigéria destacou as vantagens de uma estrada de 1.028 quilômetros entre Lagos e Abidjan, com um custo estimado de 15,6 bilhões de dólares, que seria assumido com o envolvimento do Banco Africano de Desenvolvimento.
- "Estamos falando em oferecer uma vida melhor a cinco países e a mais de 40 milhões de pessoas que utilizam esse corredor quase diariamente", afirmou o seu ministro das Obras Públicas.
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