Adolf foi um dos primeiros a reconhecer que os problemas psiquiátricos são problemas da personalidade humana e não do cérebro. Igualmente também reconheceu que a atividade e a saúde mental de um indivíduo estão interligadas e defendeu terapias, serviços comunitários e mudanças na vida diária, no ambiente e nos hábitos de uma pessoa como parte do tratamento.
Apesar dos seus ensinamentos revolucionários que se tornaram tão solidamente incorporados na teoria e prática psiquiátrica moderna, Adolf também nutria a ideia de que a doença mental também podia ser causada por infecção bacteriana, com base na observação de que os pacientes com febre alta muitas vezes ficam delirantes ou começavam a ter alucinações.
Henry Cotton ficou apaixonado pela ideia de que os germes eram a raiz de todas as doenças mentais. Em 1913, quando relatórios confirmaram que a bactéria que causava a sífilis causava lesões cerebrais nos pacientes que levavam a sintomas psiquiátricos e demência, nos casos mais graves, Henry sentiu-se encorajado.
Pouco depois, ele começou a implementar suas teorias nos internos do Trenton. Naquela época, a invenção da penicilina ainda estava a mais uma década de distância, e a única maneira de eliminar uma infecção era remover cirurgicamente o órgão infectado.
Henry atacou primeiro os dentes e lentamente começou a avançar em direção a outros órgãos. A boca, ele raciocinou, era o lugar mais óbvio onde os germes se escondiam. Então começou removendo dentes infectados, dentes não erupcionados, dentes com cáries e abscessos.
Certo dia Henry teve um colapso nervoso depois de discutir com a esposa, diagnosticou o estado extremo de desequilíbrio como problema mental e mandou arrancar seus próprios dentes. Declarou-se curado e mandou arrancar os dentes da esposa, como medida profilática para evitar o risco de infecção.
Quando arrancar dentes não curava seus pacientes, ele redobrou seus esforços e, no processo, removeu suas amígdalas e seios da face. Se a cura ainda não fosse alcançada, outros órgãos seriam suspeitos de abrigar infecção. Logo os pacientes tiveram seus baços, cólon, testículos, ovários, vesículas biliares e outros órgãos aliviados.
De cada três pacientes operados por Henry, um morreu. Henry atribuiu as mortes às más condições físicas dos pacientes devido à psicose crônica. Entre os que sobreviveram, Henry afirmou ter altas taxas de sucesso, de 85%, uma estatística que lhe rendeu muitos elogios da comunidade científica.
No Hospital Estadual, um ataque cirúrgico completo à sepse estava agora na ordem do dia. Todos os anos, milhares de dentes e amígdalas eram extraídos e dezenas de cólons e outros órgãos internos seccionados e removidos. A recompensa, proclamou Henry, foi um aumento maciço no número de curas e uma economia igualmente importante para o tesouro do estado.
Desesperados por alívio, muitos homens e mulheres ricos que sofriam de doenças mentais migraram para o Hospital Trenton em busca das curas milagrosas de Henry. Muitos, porém, tiveram de ser arrastados, chutando e gritando, para a sala de operações. Às vezes, nem as famílias eram informadas.
Enquanto isso, na Escola de Medicina Johns Hopkins, Adolf Meyer orientou Phyllis Greenacre, que recentemente ingressara como equipe, a conduzir um estudo para avaliar o trabalho de Henry em Trenton, na esperança de obter um relatório brilhante sobre o trabalho de seu ex-aluno.
No momento em que Phyllis adentrou em Trenton, ela teve uma sensação de tristeza.
- "A instituição tinha aquele odor azedo e fétido tão característico dos hospitais psiquiátricos", escreveu ela no seu relatório, e o próprio Henry, ela considerou, "singularmente peculiar".
Phyllis ficou principalmente perturbada com a aparência e o comportamento dos pacientes psicóticos. Todos os seus rostos estavam afundados e sua fala era arrastada porque nenhum deles tinha dentes na boca. Phyllis descobriu que os registros hospitalares eram caóticos e os números que Henry usava com tanta frequência para exemplificar seus métodos não estavam corretos.
Ela descobriu que poucos pacientes realmente se recuperaram, e aqueles que sim não estavam correlacionados com as cirurgias, e que morreram significativamente mais pacientes do que Henry admitiu, quase metade.
Infelizmente, os meses de trabalho que Phyllis despejou na investigação foram em vão. Quando Adolf Meyer leu o relatório prejudicial, ficou escandalizado e, num esforço para salvar a carreira de Henry, recusou-se a publicar as suas conclusões.
Em 1925, as críticas ao hospital chegaram ao Senado do Estado de Nova Jersey, que lançou uma investigação com depoimentos de ex-pacientes e funcionários do hospital descontentes. Contrariando as críticas, os curadores do hospital confirmaram a sua confiança nos funcionários e no diretor e apresentaram extensos elogios profissionais ao hospital e aos procedimentos seguidos sob a direção de Henry, a quem consideraram um pioneiro.
Em 24 de setembro daquele mesmo ano, o New York Times chegou a publicar um artigo declarando que médicos e cirurgiões eminentes testemunharam que o Hospital Estadual de Nova Jersey para Insanos era a instituição mais progressista do mundo para o cuidado de loucos e que o método mais recente de tratamento pela remoção da infecção focal colocou a instituição em uma posição única em relação aos hospitais para doentes mentais. A matéria ainda listava elogios dados em apoio a Henry por muitos profissionais e políticos.
Henry aposentou-se do Hospital Estadual e abriu seu próprio hospital particular em Trenton, onde continuou massacrando seus pacientes. Mas o negócio acabou sendo extremamente lucrativo tratando de doentes mentais de famílias ricas que buscavam os tratamentos mais modernos para suas condições.
Adolf transferiu Phyllis e deu fim no seu relatório, admitindo uma crença partilhada na possibilidade de que a sepse focal pudesse ser a fonte de doença mental. Ele nunca pressionou o seu protegido para confrontar a análise científica das estatísticas erradas que o pessoal do hospital forneceu, garantindo o seu silêncio a continuação das práticas.
Quando caiu morto de ataque cardíaco fulminante em seu clube particular, em 8 de maio de 1933, Henry havia matado centenas de pessoas. Ele foi elogiado no New York Times e na imprensa local, bem como em publicações profissionais internacionais, por ter sido um pioneiro buscando um melhor caminho para o tratamento dos pacientes em hospitais psiquiátricos.
Embora muitas das cirurgias desnecessárias que ele fazia foram descontinuadas com sua morte, as outras técnicas de Henry continuaram a ser usadas por quase três décadas, à medida que uma sucessão de seus protegidos foram nomeados superintendentes em Trenton.
Adolf escreveu um obituário lisonjeiro sobre sua morte, apesar de saber que Henry foi responsável pela morte de um número incontável de pacientes. Suas vítimas, infelizmente, incluíram até mesmo seus próprios filhos, Henry Jr. e Adolph, cujos dentes foram arrancados como medida profilática antes de serem matriculados em Princeton. Mais tarde, ambos se mataram quando tinham 30 e 31 anos respectivamente.
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