Ainda que os mascotes ditos exóticos abundam, em realidade não são domésticos, são somente indivíduos dentro de espécies específicas que, por diferentes fatores, aprenderam a tolerar os humanos e em alguns casos a formar algum tipo de laço, às vezes produtos de cunhagem. As espécies domésticas, por sua vez, já estão geneticamente adaptadas para conviver com humanos. Estas são espécies que todos conhecemos: os cães, os gatos, os cavalos, as vacas, os porcos, etc. As demais são selvagens ainda que possam em ocasiões viver conosco. |
Nesse sentido, um experimento que começou a ser realizado em 1959 pelo geneticista russo Dmitry Belyaev, através de seleção artificial, conseguiu criar raposas domésticas em apenas 10 gerações sob a hipótese de que os animais domésticos são amigáveis com seus genes governando seu comportamento. A experiência está em curso até a atualidade conforme podemos ver no vídeo no rodapé deste artigo.
De fato, muitas raposas parecem ser tão dóceis quanto muito cãezinhos, mas, de qualquer forma, ainda são animais selvagens e podem agir de acordo de um momento para o outro. Foi a domesticação dos lobos que levou à evolução dos cães, e talvez o mesmo processo estivesse acontecendo com as raposas, embora por algum motivo isso não tenha durado. Talvez os lobos/cães simplesmente tenham superado as raposas pela amizade humana e pela coevolução.
Sabemos que as raposas são plenamente capazes de serem selecionadas para domesticação como bem provou Dmitry Belyaev, com suas raposas apelidadas de raposas prateadas, que além de domesticadas, são mais parecidas com cães na morfologia, podem ter pêlo manchado, orelhas caídas e que abanam a cauda como linguagem corporal.
Agora, a análise de um túmulo de 1.500 anos no noroeste da Argentina, contendo os esqueletos de uma pessoa e de uma raposa, sugere que a raposa era uma companheira humana. Os arqueólogos descobriram originalmente o esqueleto quase completo da extinta raposa-das-Malvinas (i>Dusicyon avus) enterrado ao lado de um humano em Cañada Seca, um local no norte da Patagônia, em 1991.
- "Não havia marcas de corte nos ossos, então a raposa não havia sido comida", disse Ophelie Lebrasseur, pesquisadora da Rede de Pesquisa em Paleogenômica e Bioarqueologia da Escola de Arqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Uma análise aprofundada do DNA antigo e da datação por radiocarbono, publicada recentemente na revista Royal Society Open Science, confirmou a espécie e a idade da raposa, e o exame do colágeno nos restos mortais da raposa revelou que ela comia a mesma comida que este grupo de humanos. Juntamente com a colocação do esqueleto na sepultura, a dieta do animal sugeria que a raposa era domesticada e pode ter sido mantida como animal de estimação.
A raposa-das-Malvinas, de fato, não era uma raposa do pura do gênero vulpes. O canídeo viveu desde a Época do Pleistoceno -cerca de 2,6 milhões a 11.700 anos atrás- até o Holoceno, tornando-se extinto há cerca de 500 anos. Era aproximadamente do tamanho de um pastor alemão moderno, mas muito menos volumoso, pesando até 15 quilos.
A descoberta soma-se a um crescente conjunto de evidências provenientes de cemitérios em outros continentes, indicando que raposas foram domesticadas por humanos e partilhavam uma ligação baseada no companheirismo, exatamente como os cães.
Um estudo arqueológico, arqueobiológico e antropológico de 2019, conseguiu comparar a dieta de animais enterrados com a dieta de seus donos, no nordeste da Península Ibérica, entre o terceiro e o segundo milênio a.C.. Ali foram encontrados vários túmulos com raposas em uma prática funerária muito difundida que consistia em enterrar humanos com seus animais de estimação. Os cientistas descobriram que tanto as raposas quanto os cães foram domesticados, pois sua dieta era semelhante à de seus donos.
Por que então a raposa não foi totalmente domesticada. Os pesquisadores têm algumas teorias: a expectativa de vida de uma raposa ronda no máximo 4 anos, menos ainda em cativeiro. A urina é tremendamente malcheirosa e pode se sentida a metros de distância.
Outra possível explicação, cogitada por esse mesmo estudo isotópico, é que os cães tinham a mesma dieta, provavelmente de sobras, de seus humanos, mas a dieta das raposas era mais variada: semelhante à dos cães daquele local, mas misturada com a dieta de um animal selvagem. Ou seja, mesmo domesticadas as raposas continuaram caçando.
O papel fundamental dos cães durante a Idade do Bronze, quando a pecuária, juntamente com a agricultura, constituíam a base da economia, era o de vigilância e orientação dos rebanhos. Eram também responsáveis por cuidar dos assentamentos humanos, dado o risco representado pela presença frequente de animais perigosos, como lobos ou ursos. No entanto, não sabemos muito bem qual era o papel das raposas.
As raposas são realmente boas em serem... "raposas": são caçadoras, necrófagas e criadoras eficientes e é por isso que a raposa vermelha é o mamífero mais amplamente distribuído do planeta. Elas não precisam de nenhum programa especial de treinamento ou domesticação humana para expressar seu comportamento natural.
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