O distrito de Harie, em Takashima, província de Shiga, lembra o bom e velho Japão, com casas tradicionais com telhados de azulejos ao longo das ruas. Localizado a cerca de 1,5 km do Lago Biwa, na parte noroeste da província, é um local cheio de belezas naturais, com peixes nadando em vários canais e riachos que cortam o distrito. Durante cerca de 300 anos, os residentes promoveram uma cultura hídrica única que gira em torno da "kabata", um sistema de abastecimento de água que utiliza a abundante água subterrânea da região. |
A água se origina nas montanhas Hira, no oeste da província de Shiga. Em cada domicílio de Harie, poços artesianos com canos enterrados cerca de 10 a 20 metros no solo fazem a água subterrânea fluir espontaneamente para a superfície. Esta água de nascente -que o povo de Harie chama de shozu, ou "água viva"- flui para uma bacia chamada motoike e é usada para beber e cozinhar. Um gole refrescante é suficiente para diferenciar a água normal da torneira.
A água que transborda do motoike para uma bacia conectada chamada tsuboike é usada para lavar e resfriar vegetais. A temperatura da água permanece em torno de 13 graus Celsius o ano todo, por isso é perfeita para resfriar vegetais e cerveja.
A água que sai do tsuboike vai para uma terceira bacia chamada hataike. É ali que as pessoas limpam e lavam pratos e panelas sujas, permitindo que os peixes, principalmente carpas, comam os restos de comida.
- "Se você deixar ali uma panela que usou para cozinhar curry, ela estará completamente limpa em três horas", explicou Maeda Masako, uma guia voluntária local. - "Esses peixes comem até cascas de melancia."
Não é de admirar que a maioria das carpas seja enorme. Aparentemente, algumas pesam mais de 25 quilos. Esses peixes são livres para ir aonde quiserem, já que cada hataike está conectado a um canal ou riacho que corre do lado de fora. A água viaja através de canais até chegar ao rio Harie-Okawa e eventualmente desaguar no Lago Biwa.
As pessoas que vivem a montante, portanto, estão conscientes de como usam a água e têm muito cuidado para não contaminá-la, incluindo o uso de sabonetes e produtos de limpeza ecológicos. Este espírito de consideração sempre se mantém muito latente.
Harie ficou famosa depois que a rede de TV NHK exibiu um programa apresentando a kabata em 2004, que eram desconhecidas até mesmo no Japão. Pessoas de todo o país e do exterior começaram a se aglomerar na vila para ver essa cultura aquática única. Para proteger o sustento dos residentes, foi criado um comitê de voluntários. O grupo realiza passeios pagos pela região e o dinheiro é usado na manutenção e limpeza dos canais.
Maeda disse que entre 170 famílias, apenas cerca de 70 usam regularmente a kabata agora. Isso ocorre porque a maioria das casas da região está equipada com cozinhas modernas. De qualquer forma o comitê de voluntários faz o possível para proteger esta comunidade e a sua cultura da água.
O Japão é conhecido pela estreita relação entre o seu povo e a natureza. Xintoísmo, a religião nativa do Japão, inclui a adoração de fenômenos naturais e da própria natureza. Não é, portanto, surpresa que o Japão ainda esteja predominantemente coberto de florestas intocadas. No entanto, neste ambiente robusto as pessoas de anos atrás tinham de ser bastante espertas para tornar suas casa cômoda e confortáveis entre as montanhas. Isto é verdade, especialmente da aldeia Harie, a "aldeia da água viva.
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Comentários
Que coisa legal. Somente um povo muito consciente do uso coletivo dos recursos, conseguiria tal proeza. Neste ponto os japoneses são realmente admiráveis.