A ideia de que os casais devem discutir a relação é um mito

O pesquisador e psicólogo John Gottman, reconhecido como um dos 10 terapeutas mais influentes do último quarto de século, é conhecido por seu trabalho sobre estabilidade conjugal e análise de relacionamento através de observações científicas diretas, muitas das quais foram publicadas na literatura contemporânea. John é responsável por um extenso trabalho ao longo de quatro décadas na previsão de divórcios e estabilidade conjugal. Ele inclusive diz que é capaz de saber se um casal terá sucesso em apenas 15 minutos de observação.

Muitos dos hábitos de uma relação tacitamente aceitos em nossa cultura corroem a intimidade, a confiança e a felicidade. As características que não se ajustam a nossa narrativa tradicional do que é o amor e o que deveria ser o amor são em realidade ingredientes necessários para o sucesso de uma relação duradoura.

Foi com base nisso que Gottman criou o processo das relações de "corte fino", uma técnica em que vincula os casais com todo tipo de dispositivos biométricos e depois os grava tendo pequenas conversas sobre seus problemas. Gottman analisa a conversa quadro por quadro, olhando os dados biométricos, a linguagem corporal, a tonalidade e as palavras específicas escolhidas. A seguir, combina todos estes dados para predizer se o casal funciona ou não.

E a primeira coisa que Gottman diz depois de tantos anos de análises é que a ideia de que os casais devem discutir a relação para resolver todos seus problemas é um mito.

Em sua pesquisa de milhares de casais felizmente casadas, algumas dos quais permanecem juntos por mais de 40 anos,ele descobriu uma e outra vez que os casais mais bem sucedidos têm problemas persistentes sem resolver, problemas não resolvidos durante décadas.

Enquanto isso, muitos dos casais sem sucesso fizeram questão de resolver tudo porque temiam que tivesse um desacordo entre eles.

As pessoas gostam de fantasiar sobre o "amor verdadeiro". Mas se existe tal coisa, vai exigir, às vezes, aceitar coisas que não gostamos. Os casais bem sucedidos aceitam e entendem que algum conflito, de vez em quando, é inevitável, e que sempre existirão certas coisas que não gostamos de nossos casais ou com as quais não estamos de acordo, mas, que, tudo bem.

Um casal de sucesso não deveria precisar sentir a necessidade de mudar o outro para amá-lo. E não deve permitir que alguns desacordos se interponham no que de outra maneira seria uma relação feliz e saudável.

Muito se fala sobre "sacrifícios"” em um relacionamento. Você deve manter o relacionamento feliz sacrificando-se consistentemente pelo seu parceiro e pelos desejos e necessidades dele. Há alguma verdade nisso. Todo relacionamento exige que cada pessoa às vezes escolha conscientemente desistir de algo.

Mas o problema chega quando toda a felicidade do relacionamento depende da outra pessoa e ambas estão em constante estado de sacrifício tentando discutir a relação. Basta ler isso de novo. Isso parece horrível. Um relacionamento baseado em sacrifícios e discussões que nunca terão acordos não pode ser sustentado e acabará por se tornar prejudicial para ambos os indivíduos.

Um relacionamento saudável e feliz requer dois indivíduos saudáveis ​​e felizes. Palavra-chave aqui: “indivíduos”. Isso significa duas pessoas com identidades próprias , interesses e perspectivas próprias, e coisas que fazem sozinhas, no seu próprio tempo.

É por isso que tentar controlar o seu parceiro (ou submeter o controle sobre si mesmo ao seu parceiro) para torná-lo “feliz” acaba saindo pela culatra: permite que as identidades individuais de cada pessoa sejam destruídas, as próprias identidades que atraíram cada pessoa e as uniram quando se conheceram.

Não tente mudá-lo. Esta é a pessoa que você escolheu. Ele era bom o suficiente para se casar, então não espere que mude agora só porque você quer.

A verdade é que tratar de resolver um conflito às vezes pode criar mais problemas dos que soluções. Algumas batalhas simplesmente não valem a pena que sejam disputadas. E às vezes a estratégia de relação ótima é: "viva e deixe viver".