As autoridades argelinas acusaram oito pessoas no caso de Omar bin Omran, que foi raptado quando adolescente há 26 anos e descoberto esta semana em um estábulo a apenas duzentos metros da casa da sua família. De acordo com um comunicado do Conselho Judicial da Argélia, seis dos suspeitos foram detidos e outros dois colocados sob supervisão judicial, o que significa que podem permanecer em liberdade enquanto enfrentam julgamento. Os dois foram acusados de cumplicidade no crime, por ocultar o local onde o Omar foi mantido em cativeiro e não informando as autoridades. |
- "Foi instaurado inquérito judicial contra o principal suspeito pelo crime de sequestro e sedução de pessoa, detenção de pessoa sem ordem das autoridades competentes e fora dos casos permitidos pela lei, bem como tráfico de pessoas de vítima em local status de vulnerabilidade", disse o conselho.
Omar, da cidade de El Guedid, na província de Djelfa, no norte da Argélia, tinha 16 anos quando desapareceu. Algumas fontes dizem que ele tinha 19. Sua família procurou por ele durante anos em todo o país, antes de finalmente perderem as esperanças e presumirem que ele havia sido vítima da violência política da época.
- "Omar desapareceu em 1998 em circunstâncias muito misteriosas e em um período em que a Argélia atravessava uma situação de segurança complicada", disse o seu primo Khaled Rgueb em entrevista ao Echorouk News. - "Todos os seus familiares continuaram a procurá-lo durante anos e revistaram todos os locais possíveis onde ele pudesse estar, de norte a sul do país."
Eles até participaram de programas de televisão para apelar às pessoas que poderiam tê-lo visto, mas acabaram desistindo e presumiram que ele estava morto e enterrado em local desconhecido.
A Argélia foi dilacerada por um conflito armado entre o governo e vários grupos militantes islâmicos rebeldes entre 1992 e 2002, comumente referido como a "Década Negra". Quase 200 mil pessoas foram mortas e cerca de 15 mil desapareceram.
Todas as esperanças de encontrar Omar desapareceram há muito tempo, até que um vizinho, que alegadamente estava passando por uma disputa de herança com o irmão, insinuou o seu paradeiro em uma publicação anônima no Facebook. A polícia local emitiu um mandado de busca e invadiu a casa do vizinho no dia seguinte.
Eles o encontraram no alçapão coberto de feno de um estábulo, onde o sequestrador guarda suas ovelhas. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Omar com uma longa barba, tremendo e com uma expressão vazia no rosto quando é descoberto no pequeno porão escondido sob fardos de feno. O que o vídeo não mostra, segundo Khaled, é que ele está com os pés amarrados.
Omar, atualmente com 42 anos (ou 45?), estava preso em condições precárias e após a intervenção das autoridades, seu sequestrador, um homem de 61 anos, identificado apenas pelas iniciais de seu nome B.A., foi detido. As autoridades disseram que o “autor deste crime hediondo” será punido severamente, muito provavelmente com a prisão perpétua.
O resgate de Omar gerou grande comoção na região, especialmente entre seus familiares, que há muito tempo acreditavam que ele havia falecido durante a guerra civil argelina. Khaled Rgueb disse que o seu primo parecia estar em boa forma quando o viu no hospital local para onde as autoridades o enviaram para tratamento.
- "Ele está atualmente recebendo ajuda e recebendo cuidados médicos, tanto físicos quanto psicológicos porque está confuso e parece ter algum desvio mental, disse ele. - "Ele conseguiu falar comigo e me reconhecer, a situação dele não é crítica nem ruim. Ele está em boa forma, mas atualmente recebe ajuda para se reintegrar à sociedade e superar o que passou."
Omar teria dito aos familiares que costumava vê-los passar pela janela do estábulo, mas não sabia nada o que estava acontecendo fora do seu cativeiro, nem mesmo da morte de sua mãe em 2007, que nunca deixou de procurá-lo. Segundo Khaled, certa vez a tia disse a ele que tinha a sensação de que Omar estava vivo e bem perto dela.
O homem detido também foi acusado de envenenar o cachorro de Omar, que ficou definhando na entrada da casa do suspeito durante duas semanas antes do sequestrador silenciá-lo. Em todos esses anos, a razão pela qual Omar nunca pediu ajuda foi porque ele estava convencido de que seu captor havia lançado um feitiço sobre ele, que fazia com que ele ficasse paralisado e mudo.
A família de Omar é contrária sobre algumas notícias veiculadas na imprensa e nas redes sociais argelinas de que a aparência dele não é a de uma pessoas sequestrada, com alegações de que não parece magro e a barba parece bem feita. Também não concordam que ele tem algum grau de deficiência mental, sobretudo porque reconheceu todo mundo.
Não está claro o motivo pelo qual B.A. manteve Omar durante tanto tempo em cativeiro. No entanto existe um fenômeno estranho na sociedade argelina desde a "Década Negra": o sequestro de crianças e jovens. Segundo a Unesco, este crime tem assistido a uma estranha evolução que ameaça a vida de crianças, da família e da sociedade em geral.
Entre 1992 e 1998, as forças de segurança argelinas e os seus aliados civis, organizados em "grupos de autodefesa", prenderam e deram sumiço em mais de 7.000 pessoas que permanecem desaparecidas até hoje. Nenhum agente das forças de segurança acusado de participar nesses atos de "desaparecimento" foi acusado ou levado a julgamento, e poucas famílias, se é que alguma, de uma pessoa desaparecida receberam informações concretas e verificáveis sobre o destino dos seus parentes.
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