Em Lopburi eles estão em "guerra". Uma guerra, sim, com todas as aspas do mundo, tanto pela forma como se desenvolve, como pelo inimigo a quem foi declarada. Há já algum tempo que esta cidade tailandesa, capital da província com o mesmo nome e situada a 150 quilômetros de Banguecoque, é conhecida pela sua herança e população de macacos. Especialmente para este último. Milhares de macacos-caranguejeiros (Macaca fascicularis), conhecidos localmente como keras vivem em Lopburi, que acabou se tornando uma de suas grandes atrações turísticas. |
O problema é que agora os macacos são uma legião, uma horda de animais famintos que já está afetando a economia local. E, claro, as autoridades de Lopburi decidiram enfrentá-los, implementando um programa que espera capturar a maior parte com a ajuda de frutas e gaiolas.
A ligação entre Lopburi e os keras não é exatamente nova. A cidade é de fato conhecida pela sua enorme população de macacos, especialmente os caranguejeiro que enxameiam em torno do templo Prang Sam Yot, o que lhe deu alguma popularidade entre os turistas que visitam a Tailândia.
O problema é que com o tempo eles deixaram de ser um sinal de distinção e uma atração para o visitante e se tornaram um incômodo roubando objetos de valor dos turistas, como celulares e óculos de sol, para posteriormente promover escambo com comida.
O problema chega a tal extremo que, em fevereiro, o South China Morning Post afirmou que os keras já estão afetando o comércio e que Lopburi corre o risco de ser reduzida a "uma cidade fantasma". E tudo por causa dos milhares de macacos que ali vivem.
Os macacos entram sorrateiramente em instalações comerciais, perturbam, causam danos a lojas e edifícios e dissuadem os clientes de fazer negócios. Como exemplo, cita o caso do centro comercial Pingya, que viu como os keras assustaram os seus clientes e levaram o estabelecimento a ser colocado à venda e a baixar as portas.
- "Um investidor chinês visitou a área para verificar a viabilidade de um investimento", disse o jornal. - "No entanto quando percebeu o problema dos macacos, adiou o investimento e desistiu do negócio."
A quadrilha de símios chegou logo após a chegada da pandemia de covid-19. Em 2020 duas quadrilhas simiescas, os "keras do templo" e os "keras da cidade", brigaram por comida nas ruas de Lopburi, pois a pandemia diminuiu drasticamente o número de turistas na região. Estes dois bandos costumam causar o caos pelas ruas da cidade quando brigam entre si.
Na sequência, como o coronavírus não cedeu, a cidade ficou vazia de ofertas de guloseimas; os macacos começaram a invadir o comércio local para roubar e muitos estabelecimentos tiveram que colocar grandes em suas portas para atender os clientes por janelinhas.
Se até agora estes inconvenientes eram tolerados é porque os macacos são uma fonte de riqueza: atraem turistas que vão à província querendo vê-los, alimentá-los e posar com eles para postar uma curiosa selfie nas redes sociais.
Ao longo dos anos, combinar a vida cotidiana da cidade e a sua atração turística tornou-se, no entanto, um desafio, como explicou recentemente um político local, Pongsatorn Chaichanapanich:
- "O governo precisa decidir como irá desenvolver Lopburi como uma cidade histórica e como irá ajudar a promover o turismo."
Os próprios macacos estiveram envolvidos em alguns episódios que contribuíram para apertar ainda mais a corda. Além dos objetos de valor os keras às vezes tentam roubar comida dos humanos, o que pode levar a brigas. Em março uma mulher deslocou o joelho quando um macaco bateu nas costas dela enquanto tentava roubar comida. Outro homem acabou caindo de uma motocicleta por motivo semelhante: um macaco tentava tirar dele um saco de comida.
De quantos macacos estamos falando? Bastante. Os números podem variar dependendo da fonte, mas mostram uma população bem nutrida, com milhares de keras. Em fevereiro a imprensa local falava em cerca de 3.500 macacos, mas mais recentemente uma estimativa computou que podem ser quase seis mil.
De qualquer forma, os números dão uma ideia da grande quantidade de macacos em Lopburi, onde os turistas vêm alimentá-los com frutas e fotografá-los. Conscientes do problema, há anos, entre 2014 e 2023, as autoridades lançaram uma campanha de esterilização durante a qual castraram cerca de 2.600 exemplares.
- "Há pessoas que gostam de macacos e outras que não. Acho que, em comparação com dez anos atrás, a população de macacos aumentou significativamente", disse Job Jirapat, morador nos arredores do templo Prang Sam Yot, convencido de que a iniciativa poderia ter sido uma boa solução a longo prazo.
A situação chegou a tal extremo que em Lopburi decidiram tomar novamente medidas sobre o assunto. Como? Capturar keras para retirá-los das ruas e transferi-los para recintos. Manterão parte dela para não perder a essência da cidade e um dos grandes atrativos turísticos, mas reduzirão consideravelmente a sua população. A ofensiva começou há dias e utiliza iscas com frutas e gaiolas para capturá-los e transportá-los para outros locais.
Os esforços durarão vários dias este mês e provavelmente serão repetidos. O problema é que com a inteligência dos macacos, se alguns entrarem na jaula e acabarem presos, os outros que estão do lado de fora não entrarão em busca de alimento.
- "Não quero que os humanos machuquem os macacos e não quero que os macacos tenham que machucar os humanos", diz Athapol Charoenshunsa, do departamento de parques nacionais e vida selvagem. Os números do plano também variam de uma fonte para outra, mas em qualquer caso refletem que o objetivo é aliviar consideravelmente a população de macacos.
As autoridades consideram em uma primeira faze reunir cerca de 2.500 macacos para transportá-los para grandes recintos e que "um número limitado", se possível de esterilizados, continuaria a viver livremente na cidade. Há semanas as autoridades já tinham lançado uma iniciativa para capturar 37 exemplares, priorizando os machos mais agressivos.
O macaco-caranguejeiro é extremamente inteligente. Na Tailândia e em Mianmar, eles usam ferramentas de pedra para abrir nozes, ostras e outros bivalves, e vários tipos de caracóis marinhos, neritas, muricídeos e troquídeos ao longo da costa do mar de Andamão e ilhas offshore.
Outro exemplo de uso de ferramentas é lavar e esfregar alimentos, como batata-doce, raízes de mandioca e folhas de mamão, antes do consumo. Os keras mergulham esses alimentos em água ou esfregam-nos nas mãos como se fossem limpá-los. Eles também descascam a batata-doce, usando os incisivos e os caninos. Os adolescentes parecem adquirir esses comportamentos através da aprendizagem observacional de indivíduos mais velhos.
Ele é provavelmente o primata mais estudado depois do ser humano, tanto que tem até um nome laboratorial: macaco-cinomolgo. Ele é amplamente utilizado em experimentos médicos, em particular aqueles relacionados à neurociência e às doenças porque devido à sua fisiologia próxima, pode compartilhar infecções com humanos.
O uso de caranguejeiros e outros primatas não humanos em experimentação é controverso, com os críticos acusando os experimentos de serem cruéis, desnecessários e levarem a descobertas duvidosas. Um dos exemplos mais conhecidos de experimentos com macacos comedores de caranguejo é o caso dos macacos de Silver Spring em 1981, um estudo cruel realizado com 17 cinomolgos no Instituto de Pesquisa Comportamental em Silver Spring, no estado norte-americano de Maryland.
Dezenas de milhares deste animal são importados todos os anos. O maior fornecedor é uma empresa chamada Nafovanny, no Vietnã, a maior instalação de criação de primatas em cativeiro do mundo, fornecendo cinomolgos para laboratórios de testes em animais do mundo todo. Supostamente, a empresa mantém mais de 30 mil macacos-caranguejeiros em suas instalações.
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Comentários
Bem feito. Deram trela pra essa praga e agora sofrem. Odeio macacos, por mim poderiam ser extintos que não fariam falta.