No século V, o médico grego Hipócrates, criador do Juramento, estava cuidando de um capitão muito doente, sofrendo de uma infecção desagradável que fazia com que suas mandíbulas se apertassem, seus dentes travassem e os músculos do pescoço e da coluna sofressem espasmos. Hipócrates registrou obedientemente esses sintomas, mas não conseguiu tratar a misteriosa doença. E seis dias depois, o capitão sucumbiu à doença. Hoje, sabemos que esse relato é um dos primeiros casos registrados de tétano e, felizmente, os médicos modernos estão muito mais preparados para lidar com essa infecção peculiar. |
Ao contrário de outras infecções bacterianas comuns, como tuberculose e faringite estreptocócica, o tétano não passa de pessoa para pessoa. Em vez disso, a bactéria ofensiva, conhecida como Clostridium tetani, infecta o corpo por meio de cortes e abrasões.
Esses locais de infecção são o motivo pelo qual o tétano é tão fortemente associado a pregos enferrujados e sucata de metal, que podem causar tais ferimentos, mas a conexão da condição com a ferrugem é, na verdade, muito menos direta.
A bactéria Clostridium tetani é frequentemente encontrada no solo, esterco e folhas mortas, onde pode sobreviver por anos na forma de esporos, mesmo em meio a calor e secura extremos. Essas pilhas de material orgânico podem permanecer intocadas por longos períodos, potencialmente escondendo metal velho, que enferruja com o tempo.
Então, se alguém tropeçar nesse ambiente e se cortar, isso provavelmente aumentará suas chances de infecção. Especialmente porque o metal enferrujado pode criar feridas irregulares com muito tecido morto desoxigenado para eles se agarrarem. Uma vez no corpo, os esporos começam a germinar. Esse processo libera várias toxinas, incluindo a toxina mortal do tétano. As terminações nervosas absorvem essa toxina, atraindo-a para o cérebro e a medula espinhal, onde causa estragos nos interneurônios.
Normalmente, eles trabalham junto com os neurônios motores para regular nossas ações musculares, desde esforços tão complexos como chutar uma bola até aqueles tão simples como respirar ou beber água. Mas ao bloquear os neurotransmissores liberados pelos interneurônios, a toxina do tétano causa contrações musculares incontroláveis e espasmos.
Normalmente, dentro de 7 a 10 dias da infecção, os pacientes começam a sentir dores generalizadas, dificuldade para engolir e trismo. A cabeça e o pescoço tendem a apresentar sintomas primeiro. Mas, à medida que a toxina se espalha, grupos musculares mais fortes se tornam mais rígidos, levando a um arqueamento assustador das costas.
Se não forem tratados, esses espasmos se tornam mais extremos, eventualmente apreendendo os músculos da traqueia e do peito, levando os pacientes a sufocar dentro de 72 horas do aparecimento dos sintomas. Sem tratamento, o tétano tem uma taxa de sobrevivência extremamente baixa. Mas, felizmente, os profissionais médicos desenvolveram um plano robusto para lidar com um diagnóstico de tétano.
Primeiro, os médicos limpam a ferida infectada e administram antibióticos, matando as bactérias e prevenindo a produção de toxinas. Em seguida, eles injetam antitoxina para neutralizar qualquer toxina do tétano ainda no corpo que ainda não tenha entrado no sistema nervoso central. Finalmente, os pacientes iniciam um período de várias semanas de tratamento de suporte, que pode incluir relaxantes musculares para interromper espasmos e ventiladores para evitar sufocamento.
Nos dias de Hipócrates, o único tratamento era esperar e ter esperança. Mas agora sabemos que o melhor momento para lidar com o Clostridium tetani é antes mesmo de uma infecção ocorrer. As vacinas contra o tétano, originalmente desenvolvidas no início da década de 1920, são cruciais para prevenir o tétano e interromper sua disseminação.
Especialistas recomendam uma série de vacinas e reforços começando aos dois meses de idade e terminando por volta dos 12. No entanto, mais de 20.000 crianças ainda morrem de tétano todos os anos, principalmente em países de baixa e média renda onde o acesso à vacina é limitado, incluindo o sul da Ásia e a África Subsaariana.
E os recém-nascidos correm um risco especial se suas mães não forem vacinadas, pois o Clostridium tetani pode infectar o coto umbilical de um recém-nascido. Embora vacinar as mães durante a gravidez possa ajudar com esse problema, o fato é que o tétano continua sendo uma ameaça significativa à saúde humana.
Entre os anos de 2014 a 2023 foram registrados 2.219 casos confirmados de tétano acidental no Brasil. A maioria dos casos ocorreu nas categorias de aposentado/pensionistas, trabalhador agropecuário, seguidas pelos grupos de trabalhador da construção civil (pedreiro), donas de casa estudantes, e trabalhador da agricultura.
Em 2022, 2023 e 2024 foram confirmados 192, 222 e 128 casos em todo território nacional. A letalidade, nesse mesmo período, foi de 26%, 26,5% e 27,3% respectivamente, sendo considerada elevada, quando comparada com os países desenvolvidos, onde se apresenta entre 10 a 17%.
O Ministério da Saúde recomenda manter a vacinação antitetânica em dia, especialmente no caso dos idosos porque o risco de morte é maior, reforçando a necessidade de melhorar a cobertura vacinal nesse grupo populacional. A faixa etária acima de 50 anos apresenta maior número de casos e óbitos, seguida de pessoas de 65 a 79 anos, mas a letalidade chega a 61,1% nos maiores de 80 anos de idade. Portanto, as pessoas devem se vacinar e tomar medidas para prevenir infecções após se cortarem, seja em um prego enferrujado ou em uma âncora de navio de 2.400 anos.
Em situações de ferimentos com risco de tétano, considerando a gravidade e o esquema vacinal já realizado, podem ser prescritos soro antitetânico e imunoglobulina humana antitetânica. A imunidade conferida pelo soro antitetânico dura cerca de duas semanas, enquanto a conferida pela imunoglobulina humana antitetânica dura cerca de três semanas. A ocorrência da doença não confere imunidade.
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