Em 1956, 56 voluntários fizeram parte de um estudo para testar um novo analgésico chamado Trivaricaína. Um dedo indicador de cada voluntário foi recoberto com o novo analgésico e nada se fez com o outro dedo indicador. Então, ambos os dedos foram apertados com um alicate e os voluntários disseram sentir menos dor no dedo que recebeu o analgésico. Isto não é surpreendente, exceto pelo fato de que a Trivaricaína não era um analgésico, apenas uma mistura de ingredientes sem qualquer poder analgésico de aliviar a dor. |
O que fez os voluntários ter certeza de que o falso remédio funcionou? A resposta está no efeito placebo, um fenômeno sem explicação, no qual remédios, tratamentos, terapias que não deveriam ter qualquer efeito, e que são frequentemente falsos, milagrosamente fazem que as pessoas sintam melhoras.
Os médicos usam o termo placebo desde os anos 1700 quando notaram o poder de falsos remédios de amenizar os sintomas das pessoas. Usava-se placebo quando não se dispunha do remédio adequado, ou quando alguém imaginava estar doente. Na verdade, a palavra placebo significa "agradarei" em latim, e sugere o alívio de pacientes aflitos.
Os placebos precisavam imitar o tratamento real para que pudessem ser convincentes, tinham a forma de comprimidos de açúcar, injeções de água, e até de encenação de cirurgias. Logo os médicos perceberam que enganar as pessoas assim tinha um outro uso: nas pesquisas clínicas. Nos anos 1950, pesquisadores usavam placebos como uma ferramenta padrão para testar novos tratamentos.
Para avaliar um novo remédio, por exemplo, metade dos pacientes recebia o remédio verdadeiro. A outra metade recebia um placebo com a mesma aparência. Dado que os pacientes não sabiam se receberam o remédio falso ou o real, isto não influenciava os resultados, os pesquisadores acreditavam. Se o novo remédio produzisse um benefício considerável, quando comparado com o placebo, ele era tido como eficiente.
Foi assim que a ciência comprovou que a homeopatia é puro perfume, uma das maiores fraudes da atualidade, apesar de movimentar milhões no mundo ocidental. Como diz o genial Tim Minchin para a moça descolada chamada Storm em seu poema beat homônimo:
- "Sabe como é chamado o medicamento alternativa quando provam que funciona? Remédio!"
Atualmente, é menos comum usar placebos desta forma, devido a questões éticas. Se é possível comparar um novo remédio com uma versão mais antiga ou com outro remédio existente, isto é preferível a simplesmente deixar alguém sem tratamento algum, especialmente no caso de uma doença grave. Nesses casos, os placebos são usados como controle, para um ajuste fino da pesquisa, de modo que os efeitos do novo remédio e aqueles do velho ou do alternativo possam ser comparados com precisão.
Mas, é claro, sabemos que os placebos também têm sua própria influência. Graças ao efeito placebo, pacientes tiveram alívio em uma série de males, inclusive de problemas cardíacos, asma e de dor intensa, embora todos tenham recebido um remédio falso ou passado por cirurgia de mentira. Ainda não entendemos como isto acontece.
Alguns acreditam que, em vez de ser real, o efeito placebo é simplesmente confundido com outros fatores, como o relato de falsas melhoras por pacientes que querem agradar os médicos. Por outro lado, pesquisadores acham que, se alguém crê que um falso tratamento é real, suas expectativas de recuperação realmente ativam fatores psicológicos que aliviam seus sintomas.
Placebos parecem ser capazes de provocar mudança mensurável na pressão sanguínea, no batimento cardíaco, e na liberação de substâncias químicas que reduzem a dor, como as endorfinas. Eis por que os que participam de estudos sobre a dor afirmam que os placebos aliviam seu desconforto. Placebos podem baixar os níveis de hormônios do estresse, como a adrenalina, o que pode retardar os efeitos danosos de uma doença.
Então, não deveríamos comemorar os benefícios bizarros do placebo? Não obrigatoriamente. Alguém que acredita que um falso tratamento o curou pode abandonar remédios ou terapias que provaram ser eficazes. Além disso, os efeitos positivos podem desaparecer com o tempo, o que ocorre com frequência. Placebos também mascaram resultados clínicos, o que motiva ainda mais os cientistas a descobrir como eles conseguem nos dar tanto poder.
Apesar de tudo o que sabemos sobre o corpo humano, ainda há mistérios persistentes, como o efeito placebo. Quais outras maravilhas não reveladas existirão dentro de nós? É fácil investigar o mundo que nos cerca e esquecer que um dos seus fatos mais fascinantes encontra-se bem atrás de nossos olhos.
Concluo com um testemunho pessoal. Meu pai era farmacêutico, o que levou a minha mãe à condição de hipocondríaca, o transtorno que se caracteriza pela preocupação excessiva com a saúde, mesmo que não haja sinais claros de que o paciente esteja doente. Ela tem até hoje o costume de se entupir de remédios.
Conhecendo seu estado, os farmacêuticos da pequena cidade onde nasci só entregam a ela placebos em forma de comprimidos de trigo condimentados com substância inócuas azedas ou amargas. Minha mãe fez 97 anos em junho, tem uma saúde de ferro, anda mais que notícia ruim, mas tome a sua farmacinha que ela cai "doente" na cama.
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