Os grilos-de-Jerusalém só namoram bateristas

Besouro-da-batata, filho-da-terra, velho-careca, inseto-caveira, bebê-do-diabo, cria-de-satã e um longuíssimo etcétera compreendem os apelidos criativos que se referem aos grilos-de-Jerusalém. Apesar de seus nomes comuns, esses insetos não são grilos verdadeiros nem besouros, tampouco são nativos de Jerusalém. Eles pertencem a um grupo de grandes insetos incapazes de voar nos gêneros Ammopelmatus da família estenopelmátideos nativos do oeste dos Estados Unidos, partes do México e da América Central.

Assim como o nosso grilo-toupeira, que também não é grilo, os grilos-de-Jerusalém são bem populares entre as crianças que gostam de brincar com ele. Eles geralmente são inofensivos, não são venenosos e só mordem dolorosamente se forem manuseados com muito vigor. Eles também podem desprender um odor desagradável nesses momentos.

Embora muito do seu comportamento geral ainda não seja amplamente compreendido, os grilos-de-Jerusalém geralmente vivem vidas solitárias no subsolo. Eles emergem à noite para vasculhar raízes, tubérculos e insetos menores para suas refeições. Eles usam suas mandíbulas fortes para se alimentar principalmente de matéria orgânica morta. Seus pés altamente adaptados são usados para cavar sob o solo úmido para se alimentar de plantas com raízes e tubérculos em decomposição .

E é também quando eles saem para "serenatar" parceiros em potencial com um ritual musical: para atrair um parceiro, os grilos adultos usam seus abdomens para tamborilar no chão e gerar ondas sonoras de baixa frequência.

O tamborilamento faz sentido nos grilos-de-Jerusalém. Os adultos saem à noite vagando no escuro. Eles não enxergam muito bem e não voam. Se um macho começa a "tocar tambor" e uma fêmea sente as vibrações, ela responderá com uma sequência de tambores mais longa para que ele tenha tempo suficiente para rastreá-la. O tambor pode variar entre uma batida a cada dois segundos até 40 batidas por segundo.

Este dueto é realmente muito raro entre insetos. Com grilos e gafanhotos o macho canta e a fêmea vem até o macho. Mas com grilos-de-Jerusalém, ambos participam deste namoro percussivo. Eles têm sensores vibratórios muito aguçados para ajudar a localizar uns aos outros porque não têm ouvidos, então eles estão realmente sentindo as vibrações. Os sensores estão localizados em todas as seis pernas e podem ser os órgãos mais sensíveis à vibração no reino animal.

Muitas das 20 espécies de grilos-de-Jerusalém têm seu próprio padrão de tambor único; eles só respondem à melodia de sua própria espécie. Algumas espécies também produzem "tambores de revelação de sexo", um ritmo de tambor distinto em que os machos indicam qual sexo eles são.

Quando finalmente acasalam, eles se manobram para uma posição que testaria a destreza de ginastas habilidosos. E, ocasionalmente, a fêmea come o macho depois. Entomologistas não têm certeza do porquê isso acontece, mas provavelmente seja o mesmo motivo que levam o louva-a-deus e viúvas-negras a cometer o canibalismo sexual.

Mas há uma diferença no caso dos grilos-de-Jerusalém. Machos de louva-a-deus e viúvas-negras, se puderem, fogem, mas como são bem menores que as fêmeas, sucumbem e viram lanche. No caso do grilo-de-Jerusalém, a fêmea é menor e ,após terminar o "serviço", o macho apenas fica deitado lá, esperando ser comido, quando poderia facilmente fugir.

David Weissman, um pesquisador associado em entomologia afiliado à Academia de Ciências da Califórnia em São Francisco, considerado o maior especialista do mundo em grilos-de-Jerusalém, teoriza que talvez a fêmea - "...só acasale uma vez. Portanto, ao deixá-la comê-lo, ele fertiliza todos os seus ovos e dá a ela bons nutrientes para sua prole."

Mas há um problema com essa teoria. Fêmeas acasalam repetidamente em laboratório e machos também, onde fogem ao término. Podemos inventar todos os tipos de teorias, mas essas hipóteses podem levar uma vida inteira para serem provadas.