O estranho paradoxo dos peixes de água doce

Menos de um décimo de 1% da água da Terra é composta por lagos e rios de água doce. Ainda assim, essa minúscula porcentagem de água da Terra contém cerca de metade de todas as espécies de peixes do mundo! Ou seja, das cerca de 30.000 espécies de peixes conhecidas, cerca de metade vive em água doce. A água do oceano, que representa impressionantes 99,6% da água da Terra, contém a outra metade. Você pode pensar que o vasto oceano tem comparativamente poucas espécies porque grande parte dele é bem vazio, o que é verdade.

De fato, grande parte da água do oceano é muito quente ou fria ou escura ou pobre em nutrientes para que peixes vivam lá. Mas mesmo se você ignorar toda essa água do oceano, em sua maioria desabitada, ainda há mais de 1.000 vezes mais água habitável do que água doce disponível.

Na verdade, há muito mais peixes individuais no oceano do que em lagos e rios; mas não mais espécies. Então, por que a água doce tem comparativamente tantas espécies de peixes? Os cientistas apelidaram isso de "paradoxo dos peixes de água doce".

Por muito tempo, o principal candidato para uma solução foi o fato de que o isolamento leva a novas espécies. E, claro, lagos e rios são muito mais desconectados e isolantes do que o oceano. Tanto porque eles não estão literalmente conectados, mas também porque seus cursos e conexões mudam mais rapidamente ao longo do tempo, conectando e desconectando populações de indivíduos ao longo de milhões de anos, potencialmente levando à evolução de novas espécies.

Então, com base no isolamento, você esperaria que a água doce desenvolvesse novas espécies de peixes com mais frequência do que o oceano, levando a mais espécies de peixes em água doce, mas um estudo de 2021 descobriu que tanto os rios quanto o oceano desenvolvem novas espécies em taxas semelhantes, estourando a bolha da ideia de que o isolamento por si só é a resposta para o paradoxo.

E o isolamento não é a única coisa que pode levar a novas espécies, assim como a competição, rituais estranhos de acasalamento, uma variedade de nichos ecológicos e um ambiente estável.

Acontece que os lagos têm a combinação perfeita de todas essas coisas e produzem novas espécies até cinco vezes mais rápido do que os rios ou o oceano. Os lagos devem simplesmente produzir tantas novas espécies de peixes que eles aumentam os números de água doce... exceto que há um pequeno problema com isso.

Embora novas espécies surjam mais rapidamente em lagos, o número total atual de espécies em lagos não é tão alto, há muito mais espécies de peixes em rios! A explicação para o paradoxo dos peixes de água doce, então, pode estar em outra coisa: extinções.

Quando olhamos para o registro fóssil, vemos que houve mais espécies de peixes oceânicos do que espécies de peixes de água doce ao longo da história da Terra, mas muitos foram perdidos para a extinção ou transferidos para os rios para sobreviver. Enquanto isso, os peixes de água doce no registro fóssil foram menos afetados por eventos de extinção, o que explicaria por que há tantas espécies de peixes de água doce. Exceto, como sempre, que é complicado.

Os fósseis se formam mais facilmente no fundo macio e imperturbado do oceano do que em lugares movimentados como rios. Então, pode ser que haja mais espécies fossilizadas de peixes oceânicos não porque havia mais peixes oceânicos, mas porque mais peixes oceânicos se tornaram fósseis.

Então como explicamos o "paradoxo dos peixes de água doce"? Por enquanto, não sabemos! Pode ser alguma combinação de isolamento, competição, extinção e assim por diante, pode ser até apenas uma coincidência estranha, ou pode ser um fenômeno ou processo natural que ainda não descobrimos. Teremos que esperar e ver.

Chegar ao fundo do paradoxo pode lançar luz sobre uma questão muito maior na biologia evolutiva: por que a riqueza de espécies varia entre diferentes habitats? Em todos os organismos macroscópicos, cerca de 80% das espécies são terrestres, 15% são marinhas e 5% são de água doce. Entender o que está acontecendo nos peixes pode ajudar a iluminar mecanismos mais gerais em ação em outros animais globalmente em terra e no mar.