Os ecossistemas da Terra sempre mudaram, com espécies se misturando graças a migrações, eventos estranhos e expansões lentas e rastejantes. Mas isso sempre aconteceu de forma lenta dando tempo ao próprio ecossistema de acondicionar com as mudanças. No entanto, desde que nós, humanos, chegamos à cena, colocamos as coisas em movimento rápido, movendo plantas, animais e outros organismos ao redor do globo intencionalmente ou não. De vez em quando, uma dessas mudança pode ter uma peculiaridade evolutiva que inesperadamente o ajuda a dominar seu novo território. |
Minhocas, por exemplo, foram introduzidas na América do Norte por colonos europeus e se espalharam pelo continente desde então, cultivando o solo e melhorando a produtividade das colheitas à medida que avançam.
Mas se um recém-chegado começa a prejudicar uma parte do ambiente com a qual nos importamos, nós o chamaremos de "espécie invasora". Tecnicamente falando, os humanos não são "invasores", porque geralmente não nos consideramos uma ameaça ecológica para nós mesmos. Mas outras espécies certamente são. Uma maneira de chamar nossa atenção é custando dinheiro. Muito dinheiro.
A lebre-europeia (Lepus europaeus), por exemplo está entre as espécies animais mais comuns encontradas no interior do Brasil, particularmente no Sul e Sudeste. No entanto, em várias regiões do país, as lebres são consideradas pragas agrícolas, causando um problema recorrente aos ecossistemas naturais brasileiros e à produção dos agricultores.
As lebres são conhecidas por roer e quebrar caules de culturas comerciais, como milho, feijão e certas frutas, causando perdas significativas aos agricultores. De acordo com um relatório recente da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, o total de quase 500 espécies invasoras de plantas e animais no Brasil causou danos de mais de US$ 100 bilhões nos últimos 35 anos, um número que os pesquisadores acreditam subestimar o verdadeiro custo do problema.
Somente na década de 1980 pesquisadores e conservacionistas brasileiros passaram a dar mais atenção aos problemas causados pelas espécies invasoras, sobretudo com gramíneas africanas introduzidas no Brasil. Hoje, reconhecemos três espécies principais consideradas as principais gramíneas invasoras no território nacional: o capim-gordura (Melinis minutiflora), a brachiaria (Urochloa decubens) e o capim-gambá (Andropogon gayanus).
As duas últimas foram trazidas ao Brasil para serem usadas em pastagens e alimentar o gado, mas esse não é o caso do capim-gordura, que chegou acidentalmente em navios vindos do continente africano. O principal problema com a introdução dessas plantas é seu desenvolvimento agressivo em ambientes naturais.
Os EUA gastam bilhões de dólares lutando contra ervas daninhas invasoras como a linda, mas irritante agrião-de-inverno-amarelo (Barbarea vulgaris) que sufoca campos e se espalha por campos de golfe e gramados. Outros invasores causam tanto estrago em ecossistemas frágeis que não podemos deixar de notar, mesmo que bilhões não estejam em jogo.
Por exemplo, a formiga-louca-amarela (Anoplolepis gracilipes), provavelmente nativa do Sudeste Asiático come sem pena muitas criaturas australianas amadas e ameaçadas de extinção desde sua chegada, várias décadas atrás. Essas pequenas formigas se alimentam de quase tudo em seu caminho: insetos, anfíbios, pássaros, pequenos mamíferos, até mesmo os famosos caranguejos vermelhos na Ilha Christmas da Austrália, que costumavam manter a vegetação rasteira da ilha sob controle; sem eles, o ecossistema virou um caos.
As formigas loucas recebem esse nome por causa da maneira como viajam. Elas se movem aleatoriamente, criando ziguezagues em vez das linhas retas de outros tipos de formigas. Além dos efeitos nocivos sobre os animais, as formigas loucas também formam relações mutualísticas com algumas espécies de insetos. As formigas protegem vários insetos produtores de melada de predadores e os ordenham com suas antenas.
A melada é uma secreção doce de insetos que as formigas comem. Esses insetos incluem pulgões, moscas-brancas, cochonilhas e outros insetos que comem plantas. O aumento resultante de cochonilhas causa a desidratação e a morte de plantas em seu caminho.
Mas notar espécies invasoras é fácil, lidar com elas é o verdadeiro desafio. Quando levaram coelhos para a Nova Zelândia para alimentação e pele, eles escaparam e se reproduziram como... coelhos, invadindo o país. Então, as autoridades introduziram os furões para controlar os coelhos; mas eles também se espalharam como fogo, geralmente ignorando os coelhos enquanto engoliam espécies raras como o agora quase extinto kakapo.
A Nova Zelândia ainda é invadida por ambos os demônios peludos, e esta é apenas uma das muitas tentativas bem-intencionadas de controle biológico que terminaram em desastre. A melhor maneira de combater uma invasão é primeiro nos armarmos com conhecimento: em vez de tentar matar as formigas-loucas da Austrália apenas pulverizando inseticida em todos os lugares, descobrimos que a melhor abordagem é um ataque de várias etapas ao longo do ano que visa especificamente áreas infestadas de formigas nas épocas em que as rainhas que põem ovos estão maduras e suscetíveis ao veneno.
Então, espalharam dois tipos de isca para as operárias levarem de volta ao ninho, uma mata e a outra esteriliza as rainhas. Nenhum veneno é perfeito, mas executados juntos, eles podem eliminar incríveis 99% da população. Mas com muitos invasores, mesmo 99% não é o suficiente, porque não remove qualquer vantagem que deu aos invasores uma vantagem em primeiro lugar.
Então, a menos que se livrem de todos os indivíduos reprodutivamente ativos, eventualmente eles retornarão tão vigorosamente quanto antes, mantendo a população constantemente em alerta. Nós realmente só precisamos parar de mover potenciais encrenqueiros de um lugar para o outro, deixando coelhos e lebres onde eles pertencem e garantindo que formigas e minhocas não se escondam em navios, carros ou escavadeiras. Mas em um mundo moderno e globalizado, isso é mais fácil dizer do que fazer.
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