Em 1965, sob a supervisão do pesquisador do sono da Universidade de Stanford, Dr. William C. Dement, o estudante de ensino médio, Randy Gardner, então com 17 anos, permaneceu acordado por 264 horas. Foram 11 dias e 24 minutos para saber como ele reagiria a ficar acordado. No segundo dia, seus olhos não conseguiam focalizar. Depois, perdeu a capacidade de identificar objetos pelo tato. No terceiro dia, Randy tornou-se depressivo e descoordenado. No fim da experiência, tinha dificuldade de se concentrar, problemas com a memória de curto prazo, ficou paranoico e tinha alucinações. |
Apesar de Randy ter se recuperado sem danos psicológicos ou físicos de longa duração, para outros, perder o sono pode resultar em desequilíbrio hormonal, doença e, em casos extremos, morte.
Estamos começando a entender por que precisamos dormir, mas sabemos que isto é essencial. Adultos precisam de sete a oito horas de sono à noite e adolescentes, cerca de 10 horas. Ficamos sonolentos devido a sinais que o corpo nos envia e informam ao cérebro que estamos cansados e do ambiente vêm sinais de que já escureceu.
O aumento de substâncias químicas que induzem o sono, como a adenosina e a melatonina, nos fazem ter um sono leve que vai se tornando mais profundo a respiração e o batimento cardíaco ficam mais lentos e os músculos ficam relaxados. O DNA é reparado neste sono que não é REM e o corpo se revigora para o dia que nos espera.
De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia. Não é uma inconveniência de menor importância. Ficar sem dormir pode causar sérios danos ao corpo. Quando perdemos o sono, a aprendizagem, a memória, o humor e o tempo de reação, são afetados. A falta de dormir também pode causar inflamações, alucinações, aumento da pressão sanguínea, e até mesmo está ligada à diabete e à obesidade.
Em 2014, um torcedor de futebol morreu depois de ficar acordado por 48 horas para assistir à Copa do Mundo. Embora a "causa mortis" tenha sido um AVC, um estudo de 2015 publicado no periódico Neurology indicou que sempre dormir menos do que seis horas por noite aumenta quatro vezes e meia o risco de um AVC em comparação com dormir durante sete ou oito horas.
Para algumas pessoas que têm uma rara mutação genética herdada, a ausência de sono é uma realidade diária. Esta condição, chamada de insônia familiar fatal, coloca o corpo em um estado de vigília que é angustiante, impedindo-o de entrar no santuário do sono. Dentro de meses ou anos, esta condição, que vai se agravando, leva à demência e à morte.
Como deixar de dormir provoca sofrimento tão grande? Cientistas supõem que a resposta está na acumulação de rejeitos químicos no cérebro. Quando estamos acordados, as células consomem as fontes de energia que são degradadas em vários subprodutos, incluindo a adenosina. Conforme a adenosina se acumula, ela aumenta a vontade de dormir, conhecida como a pressão para dormir.
Na verdade, a cafeína atua bloqueando as vias de receptores da adenosina. Outros rejeitos químicos também são formados no cérebro, e se eles não forem removidos, o cérebro fica sobrecarregado e acredita-se que causem os sintomas negativos da falta de sono. O que acontece com o cérebro quanto dormimos para evitar esses males? Cientistas descobriram o chamado sistema glinfático, um mecanismo de limpeza que remove o acúmulo de subprodutos e que é muito mais ativo quando dormimos.
Ele usa o líquido cefalorraquidiano para eliminar os subprodutos tóxicos que se acumulam entre as células. Os vasos linfáticos, que servem como vias para as células do sistema imunológico, foram descobertos recentemente no cérebro, e, é possível que também tenham um papel na limpeza dos subprodutos no cérebro.
Enquanto os cientistas exploram os mecanismos reparadores do sono, podemos ter certeza de que cair no sono é uma necessidade, se desejarmos manter nossa saúde e nossa sanidade mental.
Quanto a Randy Gardner, seu recorde foi superado várias vezes até 1997, quando o Livro Guinness dos Recordes deixou de aceitar novas tentativas por razões de segurança e saúde. Naquela época, o recorde era detido por Robert McDonald com 18 dias e 21 horas acordado.
No décimo primeiro dia, quando pediram A Randy para subtrair sete repetidamente, começando com 100, ele parou em 65. Quando questionado por que havia parado, ele respondeu que havia esquecido o que estava fazendo. Após completar seu recorde, Randy dormiu por 14 horas e 46 minutos, acordou naturalmente por volta das 20h40 e ficou acordado até cerca das 19h30 do dia seguinte, quando dormiu mais dez horas e meia.
Randy parecia ter se recuperado totalmente de sua perda de sono, com gravações de sono de acompanhamento feitas uma, seis e dez semanas após o fato, não mostrando diferenças significativas. No entanto, em 2017, Randy relatou que começou a sofrer de insônia grave por volta de 2007, décadas após seu experimento do sono, e acreditava que sua participação no estudo do sono da década de 1960 era a culpada.
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