O boato apareceu pela primeira vez em um artigo da Ici Paris de 1969, onde um executivo da Disney o atribuiu a um grupo de animadores descontentes. O boato de que o corpo de Walt está escondido na Disneylândia, possivelmente sob o brinquedo Piratas do Caribe, é um dos mitos urbanos mais acreditados de Hollywood.
De fato, em 12 de janeiro de 1967, James Bedford faleceu. Mas ele tinha um plano para enganar a morte. James foi a primeira pessoa a ser congelada criogenicamente após a cremação de Walt, talvez daí a confusão. Esse processo prometia preservar o corpo dele até um futuro teórico em que a humanidade poderia curar qualquer doença e, principalmente, reverter a morte.
Esse é o sonho da criônica. Mas eis o problema: para ressuscitar pessoas no futuro, precisamos preservá-las de modo adequado no presente. Então, será que é possível atualmente congelar um ser humano, preservá-lo indefinidamente e depois descongelá-lo com segurança? Para entender os obstáculos da criopreservação humana, precisamos abandonar o âmbito teórico da criônica e nos voltarmos para o campo científico da criobiologia.
Essa disciplina estuda os efeitos de temperaturas baixas em vários sistemas vivos, e é verdade que diminuir a temperatura de um organismo também diminui sua função celular. Por exemplo, em temperaturas abaixo de 130°C negativos, a atividade celular humana para totalmente. Então, se pudéssemos trazer um corpo humano inteiro abaixo dessa temperatura, poderíamos teoricamente preservá-lo de maneira indefinida.
A parte difícil é fazer isso sem danificar o corpo. Por exemplo, vamos tentar congelar um único glóbulo vermelho. Normalmente, ele fica a uma temperatura de 37°C em uma solução de água e substâncias conhecidas como solutos químicos, que se dissolvem de acordo com certas condições. Mas, quando a temperatura cai abaixo de zero, a água dentro e fora da célula solidifica-se em cristais de gelo nocivos.
Sem a concentração correta de água, os solutos químicos não conseguem se dissolver. E, à medida que a água congela, tornam-se cada vez mais concentrados em um processo destrutivo conhecido como choque osmótico. Sem qualquer intervenção, esses fatores seguramente destroem nosso glóbulo vermelho antes dele atingir 130°C negativos.
Nem todas as células são tão frágeis, e muitos animais evoluíram para sobreviver a condições extremas. Alguns peixes tolerantes ao frio sintetizam proteínas anticongelantes para evitar a formação de gelo a temperaturas abaixo de zero. E sapos tolerantes a congelamento usam agentes protetores para sobreviver quando até 70% de sua água corporal está presa em forma de gelo.
É improvável que uma criatura tenha o segredo para a criopreservação humana. Mas, ao pesquisar essas adaptações, os cientistas desenvolveram tecnologias de preservação extraordinárias, algumas das quais já são aplicadas na medicina. Porém os pesquisadores continuam tentando melhorar a tecnologia de criopreservação para gerenciar melhor o problema do gelo.
Muitos criobiólogos estão tentando resolver esse problema com uma abordagem chamada vitrificação. Essa técnica usa substâncias químicas conhecidas como agentes crioprotetores para evitar a formação de gelo. Alguns deles foram adaptados de compostos na natureza, enquanto outros foram projetados para tirar proveito de princípios orientadores da criobiologia.
Mas, na prática, essas substâncias permitem aos pesquisadores conservar sistemas vivos em um estado vítreo com atividade molecular reduzida e sem gelo nocivo. A vitrificação é ideal para a criônica e ajudaria a preservar órgãos e outros tecidos para procedimentos médicos. Mas é extremamente difícil alcançá-la.
Agentes crioprotetores podem ser tóxicos nas grandes quantidades necessárias para vitrificação em larga escala. Mesmo com essas substâncias químicas, evitar a formação de gelo requer um rápido esfriamento que baixe as temperaturas de maneira uniforme por todo o material. Isso é relativamente fácil ao vitrificar células únicas ou pequenos pedaços de tecido.
Mas, conforme o material se torna mais complexo e contém quantidades maiores de água, é um desafio manter controle da formação de gelo. Mesmo que tivéssemos êxito na vitrificação de material vivo complexo, só estaríamos a meio caminho de usá-lo. O tecido vitrificado também precisa ser aquecido de maneira uniforme para evitar a formação de gelo, ou pior, fissuras.
Até agora, os pesquisadores conseguiram vitrificar e recuperar parcialmente pequenas estruturas como vasos sanguíneos, válvulas cardíacas e córneas. Mas nenhuma delas chega perto do tamanho e da complexidade de um ser humano completo. Então, se atualmente não é possível criopreservar uma pessoa, o que isso significa para James Bedford e os outros 200 corpos e cabeças congelados na Fundação de Expansão de Vida Alcor? A triste verdade é que as técnicas atuais de preservação criônica só oferecem aos pacientes falsas esperanças a um preço substancial.
O custo mínimo para congelar um corpo é de 200 mil dólares, algo em torno de 1.155.000 reais. Só o cérebro fica um pouco mais barato: 80 mil dólares. Não está claro se há que pagar uma taxa anual para os serviços de preservação.
Do modo como são praticadas, além de não serem científicas, são muito destrutivas, danificando de maneira irreparável células, tecidos e órgãos do corpo. Alguns adeptos poderão argumentar que, assim como a morte e as doenças, um dia, esses danos podem ser reversíveis. Mesmo se cientistas ressuscitassem pessoas por meio da preservação criônica, há todo um conjunto de implicações éticas, legais e sociais que suscita dúvidas sobre os benefícios gerais da tecnologia.
A maioria dos médicos e especialistas acredita que a criogenia ainda está longe de se tornar um procedimento viável. Arthur Caplan, professor de bioética na Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, diz que a ideia da criônica é ingênua e coisa de filme ruim de ficção científica. Por agora, o sonho da criônica permanece congelado.
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